Há que se levar em conta na construção dessa teoria, as profundas mudanças que se operam em velocidade nunca antes verificadas na história. Surge um novo modo de produção, uma nova organização da força do trabalho que nos coloca diante da emergência de novos elementos de produção de valor. Observa-se o que diz Jeremy Rifkin, em seu livro “Terceira Revolução Industrial”: “as organizações sem fins lucrativos, o Terceiro Setor, que não são nem mercado nem governo, já representavam em 2005, de 5% do PIB de oito países pesquisados, EUA, Canadá, França, Japão, Austrália, República Checa, Bélgica e Nova Zelândia. Na Bélgica, por exemplo, 13,1% dos empregos estão nesse setor, no Reino Unido 11% e na França e EUA 9%”. Isso somente em relação ao trabalho.
Em relação à economia em geral, as mudanças do capitalismo são ainda mais significativas. A atividade industrial, por exemplo, carro-chefe do capitalismo moderno, geradora e consumidora de praticamente todo avanço tecnológico nos séculos 18, 19 e 20, responsável pela formação da classe operária, considerada a vanguarda dos trabalhadores e das antigas revoluções socialistas, teve a sua força de trabalho reduzida a menos um terço em pouco mais de 20 anos. Nos EUA tinham, nos anos 50 cerca de 30% da população trabalhando em fábricas. Em 2016 apenas 8%.
Uma moderna teoria da revolução brasileira teria que incorporar os novos paradigmas de uma economia que está deixando de ter na indústria a sua principal força motriz, para dar lugar à produção do conhecimento, da tecnologia e da inovação crescentes. E que tem na cultura uma referência fundamental. Até porque essa mudança do capitalismo implicou em situações inimagináveis para o mundo do trabalho, para a luta de classes e para a exploração do trabalho, em patamares muito mais complexos e sofisticados.
Que contingente social, por exemplo, faria o papel reservado por Marx e Lênin, à classe operária? Contaríamos com uma nova classe revolucionária? Esta seria a nova “classe criativa”, englobando profissionais que utilizam a criatividade como motor da sociedade moderna, como quer Richard Florida?
A sociedade socialista e democrática que perseguimos, terá, seguramente, características bem diversas dos socialismos que já existiam (URSS) e da que ainda existem (China, Cuba, Coreia do Sul). E muito mais diferentes ainda das que usam indevidamente a denominação de socialistas (Angola, Moçambique, Venezuela) sem se constituírem, sequer, em sociedades capitalistas desenvolvidas.
Se há alguma coisa a fazer, essa coisa é procurar aprender com os erros e acertos do chamado socialismo real da antiga URSS, da China e de Cuba. Mais com os erros, pois derrotas ensinam mais que vitorias.
Entendo que os conceitos de revolução hoje são indissociáveis de outros conceitos como inovação, economia criativa e empreendedorismo, todos eles já fazem parte dos esforços de renovação do socialismo na China e em Cuba por exemplo. Na China a economia criativa foi incluída nos XII e XIII Planos Quinquenais e tem como objetivo trocar o “Made in China” pelo “Design in China”. Em Cuba, embora não haja ainda um plano estratégico para a economia criativa, estão desenvolvendo esforços para estimular o empreendedorismo especialmente no centro histórico de Havana e existe uma legislação especial para o trabalho na área do turismo.
Uma retomada da ideia de revolução estará, a meu ver, profundamente vinculada ao muito amplo conceito de Economia Criativa, como a economia da era do conhecimento e ao poder da comunicação, por si só já revolucionado pela revolução tecnológica e digital.
E se acreditamos ainda na possibilidade, ainda que a longo prazo, de superarmos o capitalismo, teremos que construir as bases de um socialismo criativo.
Trabalho, Tecnologia e Capitalismo
15 de maio de 2017
Domingos Leonelli
Presidente do Instituto Pensar
Ex-Deputado Federal