
Com Marcelo Hailer
O YouTube suspendeu a partir dessa sexta-feira (27) o pagamento de 14 canais vinculados ao bolsonarismo após determinação do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
“Em cumprimento à decisão do Tribunal Superior Eleitoral de 16 de agosto, o YouTube informa que já suspendeu o acesso à receita atribuída aos responsáveis pelos 14 canais indicados pelo TSE”, informou a rede de vídeos em nota.
Além disso, o YouTube ressaltou que o seu compromisso é de “permanecer colaborando com o trabalho das autoridades no Brasil e de prosseguir investindo em políticas, recursos e produtos para proteger a comunidade do YouTube de conteúdo nocivo”.
A determinação da Justiça Eleitoral, por meio do corregedor-geral, ministro Luis Felipe Salomão, também determinou, além do YouTube, que as plataformas Twitch, Twitter, Instagram e Facebook suspendessem o repasse de valores obtidos por meio da exibição e propagação de “informações mentirosas” sobre o sistema eleitoral.
Os canais afetados pela decisão compõem a rede bolsonarista digital: Terça Livre, Cidade Online e o canal de Oswaldo Eustáquio.
Valores retidos
Os valores que deveriam ser transferidos aos donos dos canais ficarão depositados em uma conta bancária atrelada à Justiça Eleitoral. A decisão atendeu a pedido da Polícia Federal, no âmbito da investigação aberta por causa da “live” em que o presidente Jair Bolsonaro disparou informações falsas sobre a segurança das urnas eletrônicas e do processo eleitoral.
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Na live de quinta-feira (26), o presidente Jair Bolsonaro lamentou a decisão. “A gente apela com o nosso TSE. Que, lamentavelmente, o corregedor está determinando para desmonetização de páginas de direita. Impressionante. É uma perseguição implacável”, disse.
Ao determinar a suspensão dos pagamentos, Salomão frisou que as páginas e canais atingidos “comprovadamente vêm se dedicando a propagar desinformação” e, por isso, a medida seria “razoável e efetiva porque, em tese, retira o principal instrumento utilizado para perpetuar as práticas sob investigação, qual seja, o estímulo financeiro”.
“Na maior parte do conteúdo analisado, o que se constata não é a veiculação de críticas legítimas ou a proposição de soluções para aperfeiçoar o processo eleitoral – plenamente garantidas aos cidadãos e aos meios de comunicação -, mas sim o impulsionamento de denúncias e de notícias falsas acerca de fraudes no sistema eletrônico de votação, que, contudo, já foram exaustivamente refutadas diante de sua manifesta improcedência, inclusive pela própria Polícia Federal”, destacou.
O TSE também discute uma resolução para proibir durante as eleições que canais com conteúdo político possam ser “monetizados”, ou seja, impedidos de oferecerem lucro. A medida poderia ampliar os efeitos da decisão do corregedor.
No inquérito, a Polícia Federal passou a tratar o comportamento da rede bolsonaristas como a replicação do método de Steve Bannon, estrategista do ex-presidente dos Estados Unidos Donald Trump. O mecanismo foi usado na campanha presidencial americana de 2016.
O objetivo seria “diminuir a fronteira entre o que é verdade e o que é mentira” utilizando-se de ataques a veículos tradicionais de informação e da desqualificação de adversários.
“A prática visa, mais do que uma ferramenta de uso político-ideológico, um meio para obtenção de lucro, a partir de sistemas de monetização oferecidos pelas plataformas de redes sociais. Transforma rapidamente ideologia em mercadoria, levando os disseminadores a estimular a polarização e o acirramento do debate para manter o fluxo de dinheiro pelo número de visualizações”, diz relatório da PF.
O inquérito administrativo do TSE é apenas uma das frentes nas quais a PF trabalha contra propagadores de fake news e ataques à democracia. No Supremo Tribunal Federal (STF) há outras duas apurações em curso. Uma delas culminou na prisão do ex-deputado Roberto Jefferson (PTB) por ameaças a integrantes do Judiciário.
O ex-parlamentar bolsonarista foi preso por ordem dentro do inquérito das milícias digitais, em que é apurada a movimentação de supostas organizações criminosas na internet. A outra investigação está no chamado inquérito das fake news, sobre fabricação, financiamentos e disseminação de informações falsas.
Com informações do Uol