
Prestes a deixar a Casa Branca, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, se tornou o pivô de mais um escândalo neste domingo (3). De acordo com acusações feitas pelo jornal The Washington Post, o mandatário derrotado pelo democrata Joe Biden nas últimas eleições teria sido gravado enquanto tentava coagir a principal autoridade eleitoral da Geórgia, o secretário de Estado Brad Raffensperger, a agir para mudar o resultado das eleições presidenciais no estado.
O diário norte-americano revelou mais de uma hora de gravações nas quais Trump pediu a Raffensperger que ele “encontrasse” os votos necessários para reverter a vitória do democrata Joe Biden nas eleições presidenciais de novembro.
Recusa em aceitar a derrota
O telefonema seria o último episódio de dois meses de tentativas do presidente de mudar o resultado da votação, com inúmeras alegações de fraude que foram rejeitadas por juízes na Geórgia e em vários outros estados, além da Justiça federal.
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Ao longo da conversa, Trump pediu que Raffensperger agisse, mas, diante da recusa, ameaçou leva-lo à Justiça e apresentar acusações criminais contra ele, e ainda o advertiu que ele estava correndo um “grande risco” ao não aceitar o pedido. Ambos pertencem ao Partido Republicano.
“O povo da Geórgia está irritado, o povo do país está irritado. E não há nada de errado em dizer, sabe, que você recalculou”, diz Trump em uma das gravações. Ao responder, Raffensperger diz; “senhor presidente, o desafio que o senhor tem é que os seus dados estão errados”.
11.780 votos
Em outro momento da conversa, Trump foi mais direto: “olha, tudo que eu quero é isso, é somente encontrar os 11.780 votos, que é um a mais do que temos, porque nós vencemos neste estado”.
Trump teria citado especificamente esse número porque, segundo a apuração oficial, Biden venceu com uma diferença de 11.779 votos na Geórgia, estado que detém 16 votos no Colégio Eleitoral.
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Em dezembro, as autoridades da Geórgia certificaram a vitória de Biden, o primeiro democrata a ganhar no estado desde 1992, quando Bill Clinton saiu vencedor. Durante semanas, as mesmas autoridades vinham lidando com as pressões do presidente, que não reconhece sua derrota e insiste em denunciar fraude no processo eleitoral, sem apresentar provas.
A Casa Branca se recusou a comentar a reportagem. O escritório de Raffensperger também evitou falar com a imprensa.
Bob Bauer, um dos principais assessores do presidente eleito Joe Biden, disse que a gravação capturou “toda a história lamentável do atentado de Trump à democracia americana”. “Temos agora provas irrefutáveis de um presidente pressionando e ameaçando uma autoridade de seu próprio partido para levá-lo a cancelar uma eleição legal e certificada e fabricar outra em seu lugar”, afirmou.
A conversa de Trump com Raffensperger surgiu enquanto alguns de seus mais ferrenhos aliados no Congresso americano anunciaram que pretendem se opor à certificação do resultado das eleições, marcada para a próxima quarta-feira.
Esforço inútil
Na prática, o movimento de oposição à certificação tem caráter simbólico, podendo atrasar a decisão da confirmação da vitória de Biden, mas sem força suficiente para impedir a certificação.
O ex-vice-presidente se elegeu por uma vantagem de 306 a 232 Colégios Eleitorais, o que totalizou mais de sete milhões de votos. Isso significa que, mesmo se Trump tivesse ganho os votos da Georgia, ele ainda teria perdido as eleições em nível nacional.
Com informações da Deutsche Welle Brasil