
Um dos principais líderes do PT, o senador Jaques Wagner (BA) defendeu uma mudança geracional no partido e disse que o partido deve ser mais independente do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. “Vou ficar refém de Lula?”, questionou. Para o Valor, Wagner elogiou o desempenho de jovens lideranças de esquerda nas eleições municipais e destacou Guilherme Boulos (PSOL) na disputa pela Prefeitura de São Paulo.
Segundo o senador, o resultado eleitoral em São Paulo potencializou Boulos como uma “nova liderança nacional“.
“Na minha opinião, o que o PT tem que fazer é uma mudança de conteúdo e uma mudança geracional botando gente mais nova. Nada contra a gente, porque ainda desempenhamos muita coisa boa, mas precisamos trazer outra geração para ocupar espaço”, disse, em entrevista à Rádio Metrópole na segunda-feira, um dia depois das eleições municipais.
Wagner citou nominalmente Boulos, Manuela d’Ávila (PCdoB), em Porto Alegre, e Marília Arraes (PT) e João Campos (PSB), no Recife.
“O surgimento de Boulos é uma notícia altamente alvissareira. Da Manuela, da Marília, do João. São pessoas jovens, que estão começando a ter reconhecimento público. Ótimo. Não pode ficar refém. Eu sou amigo irmão do presidente Lula, mas vou ficar refém dele a vida inteira? Não tem sentido”, afirmou.
Frente progressista
O petista defendeu a construção de uma frente progressista para a eleição presidencial de 2022, para a esquerda ter chances eleitorais. “Se somar e conseguir construir uma frente progressista e juntar partidos para 2022, tem segmento bastante forte para encarar”, disse, na entrevista. Wagner colocou-se como uma opção para a disputa nacional ou para um novo mandato como governador da Bahia. “Meu nome está posto tanto na cena nacional como na cena estadual. Eu tenho responsabilidade”, disse.
“Para 2022, eu acho que tem que esperar um pouco essa cena ir se arrumando, mas meu nome está colocado”, completou.
Autocrítica
Wagner fez uma autocrítica do resultado eleitoral do PT e reconheceu que o quadro político não é bom. O partido não conquistou nenhuma capital. No segundo turno, o partido concorreu em 15 cidades e ganhou em apenas quatro: duas em Minas Gerais (Juiz de Fora e Contagem) e duas em São Paulo (Diadema e Mauá).
“Não é um resultado que você possa comemorar, evidentemente”, disse. “Pela primeira vez desde 1985, quando ganhamos a Prefeitura de Fortaleza, nessa eleição vamos ficar sem nenhuma capital de Estado governada pelo PT. É óbvio que essa fotografia não é boa”, afirmou.
O dirigente petista vinculou a derrota à estratégia eleitoral adotada pelo partido, de colocar as alianças em segundo plano e privilegiar o lançamento de candidatos no maior número possível de cidades, sobretudo para defender o ex-presidente Lula e o legado do PT. O senador lembrou ainda que o PT elegeu menos vereadores do que em eleições passadas. Wagner disse que Lula “não é tão grande eleitor como já foi”, mas afirmou que o presidente Jair Bolsonaro teve um desempenho ainda pior, porque “não conseguiu emplacar em lugar nenhum”. “Onde botou a mão, as pessoas foram derrotadas”, disse Jaques.
Com informações do Valor Econômico