
A vitória do democrata Joe Biden nas eleições presidenciais nos Estados Unidos exigem uma mudança nas políticas do presidente Jair Bolsonaro. Segundo diplomatas e analistas políticos ouvidos pelo El País, Bolsonaro deve demitir os dois principais representantes da ala radical de seu Governo, o ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo e de Ricardo Salles, ministro do Meio Ambiente.
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Para os especialistas, caso mantenha o chanceler, o país aprofundará seu isolamento internacional. Isso porque o governo Bolsonaro, espelhando-se no derrotado Donald Trump, atuou contra bandeiras que por décadas foram defendidas por aqui, como a de direitos humanos, proteção ambiental e de defesa das mulheres. Todas escancaradamente apoiadas por Biden na corrida pela Casa Branca neste ano.
Representantes de governos estrangeiros fizeram o conselho chegar ao Palácio do Planalto, no entanto, Bolsonaro não costuma segui-los. Até o momento, o presidente sequer se manifestou sobre a vitória de Biden.
Mas entre seus assessores há quem tente convencê-lo da mudança, ainda que ela ocorra a médio prazo, para não parecer que Bolsonaro cedeu aos interesses da nova cúpula de poder americana ou que abriu mão da soberania brasileira.
“Sem o Trump, Ricardo Salles e Araújo se tornam peças mais vulneráveis. Se quiser sobreviver neste cenário internacional, Bolsonaro deve pensar em se desfazer deles”, disse o cientista político Fábio de Sá e Silva, professor de Estudos Internacionais da Universidade Oklahoma (EUA).
Isolado do mundo
O sinal de isolamento foi apontado por cinco diplomatas estrangeiros que atuam em Brasília e falaram com a reportagem sob a condição de não terem seus nomes divulgados.
“Estávamos esperando o resultado da eleição americana para saber como deveríamos tratar o Brasil. Agora que ela ocorreu, aguardamos as movimentações do Governo brasileiro para entender de que lado ele está, se o da ideologia ou o do mundo globalizado, interconectado”, afirmou um embaixador.
Para alguns que já passaram por cargos-chave no Itamaraty, como o ex-secretário-geral do órgão e ex-embaixador do Brasil nos Estados Unidos, Roberto Abdenur, e o ex-embaixador na China, Marcos Caramuru, o Governo Bolsonaro errou em se aliar à persona de Trump, e não ao Governo americano.
“Durante décadas o Brasil se alinhou aos Estados Unidos em diversos momentos. Mas eram alinhamentos de paralelismo. Esse alinhamento entre Bolsonaro e Trump é de subordinação, praticamente de vassalagem”, avaliou Abdenur.
“Os Estados Unidos na gestão Trump vive uma dicotomia, uma esquizofrenia entre a ideologia e a realidade. É nisso que o Brasil se espelhou até o momento”, disse Caramuru.
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