
Por Fernando Alcoforado*
Este artigo tem por objetivo demonstrar que a vitória de Joe Biden sobre Donald Trump representa a vitória da civilização sobre a barbárie porque fará com que o governo dos Estados Unidos venha a desfazer o legado de barbárie dos anos Trump, agindo rapidamente para conter a pandemia e aquecer a economia, além de adotar as agendas verde, de igualdade racial e de apoio a minorias que marcarão seu governo. O governo Joe Biden representa a vitória da civilização sobre a barbárie ao adotar políticas de combate ao neofascismo, o combate ao racismo, a defesa da população no combate ao novo Coronavirus, a defesa do meio ambiente contra a mudança climática, entre outras medidas, além de atuar com civilidade nas relações internacionais. Tudo isto poderá acontecer porque Joe Biden prometeu mudar os Estados Unidos se vencesse a eleição presidencial deste ano que consiste em unir a dividida sociedade americana, reconstruir e restaurar o que, em seu entender, se perdeu durante o governo Donald Trump. Isso inclui alianças internacionais, avanço da classe média, proteção ambiental e direito à saúde, entre outros questões.
O governo Joe Biden tentará desfazer o legado de barbárie dos anos Trump, agindo rapidamente para conter a pandemia e aquecer a economia, além de adotar as agendas verde, de igualdade racial e de apoio a minorias que vão marcar seu início de governo. Já há pedidos para que, no primeiro dia de governo, Biden assine atos ou encaminhe projetos nas áreas ambientais, de saúde pública, de proteção aos negros e minorias LGBTQI+, de saúde, de economia e de ética no governo. Há um movimento para que a primeira medida assinada seja uma ordem para que se encontrem as famílias das 545 crianças separadas das famílias na fronteira do país pelo governo Trump cujos pais nunca foram encontrados. O programa de governo de Biden é certamente o mais progressista da história dos Estados Unidos. Se tiver o controle do Senado e da Câmara nas mãos dos democratas, Biden poderá fazer um governo muito progressista, mais do que foi o governo Obama.
A vitória da civilização sobre a barbárie nos Estados Unidos com o governo Joe Biden se materializaria nas áreas de: 1) Saúde pública e combate à Covid 19; 2) Combate ao racismo, redução das desigualdades, ajuda às populações vulneráveis e controle de armas; 3) Imigração com a reversão das políticas de Trump; 4) Educação com a universalização da pré-escola e expansão da educação universitária gratuita; 5) Defesa do meio ambiente e do combate à mudança climática; 6) Recuperação da economia e geração de novos empregos; e, 7) Política externa com a reparação da reputação do país com as medidas descritas a seguir:
- Saúde pública e combate à Covid 19
A civilização se sobrepõe à barbárie no campo da saúde pública porque Biden pretende expandir o escopo o Obamacare que Trump tentou revogar. Seu plano é fazer com que cerca de 97% dos americanos tenham cobertura de saúde que não ocorre com o governo Trump. Embora fique aquém da proposta de seguro de saúde universal, conhecido como “Medicare para Todos”, defendida pelos membros mais progressistas de seu partido, Biden promete dar a todos os americanos a opção de se inscrever em uma opção de seguro de saúde pública semelhante ao Medicare, que oferece benefícios médicos aos idosos. No combate ao novo Coronavirus, Biden pretende enfrentar a crise de saúde pública do novo Coronavirus com uma resposta impulsionada pelo governo federal diferentemente do governo Trump que é o grande responsável pelo maior número de mortos e infectados nos Estados Unidos registrados em todo o mundo. Biden prevê a adoção de amplo programa de testagem da Covid-19 e a contratação de 100 mil profissionais para criar um programa de rastreamento de casos. Seu propósito é constituir equipes que ficariam responsáveis pela comunicação aos cidadãos que podem ser infectados com o vírus para orientá-los sobre medidas de prevenção, como a quarentena em casa por um determinado período. Biden também prevê a criação de dez centros de testagem em cada um dos estados americanos. Ele também se comprometeu a fazer campanhas de conscientização sobre o uso de máscaras. Esta estratégia se mostrou bem-sucedida em países como a Nova Zelândia. Biden prometeu, na reta final da campanha, vacina gratuita contra a Covid-19 para todos os americanos. A prioridade será manter o vírus sob controle e aprovar uma lei de recuperação econômica compatibilizada com o combate à Covid 19.
- Combate ao racismo, redução das desigualdades, ajuda às populações vulneráveis e controle de armas
A civilização se sobrepõe à barbárie do governo racista de Trump, que nada fez para reduzir as desigualdades, ajudar as populações vulneráveis e controlar a disseminação de armas nos Estados Unidos, porque o governo Biden pretende combater o racismo, reduzir as taxas de encarceramento e minimizar as desigualdades raciais, financeiras e de gênero nos julgamentos e reabilitar prisioneiros libertados. Biden pretende adotar reformas no sistema judicial e criar maneiras de incentivar as minorias por meio de programas econômicos e sociais com base em um fundo de investimento para fomentar negócios de populações carentes ou vulneráveis. Na área jurídica, Biden diz que removerá as sentenças mínimas obrigatórias, descriminalizará a maconha (e retirará as condenações anteriores por maconha) e acabará com a pena de morte. Biden prometeu realizar reforma da polícia para que seja mais cidadã e não discriminatória em relação aos negros. Os fundos da polícia deverão ser redirecionados para serviços sociais, como serviços de saúde mental. A plataforma de Biden defende um investimento de US$ 300 milhões em um programa de policiamento comunitário e promete expandir o poder do Departamento de Justiça para lidar com casos de abuso policial. Biden prometeu exercer o controle de armas com uma mudança radical das políticas atuais para conter a violência armada que considera “uma pandemia de saúde pública”. Biden disse que seu governo vai proibir a fabricação e venda de armas de assalto e munições de alta capacidade, e exigir a checagem de antecedentes de todos os compradores de armas. Biden promete, também, encerrar a venda online de armas de fogo e munições, e incentivar os Estados a invocar leis que permitem à polícia confiscar temporariamente armas de indivíduos considerados perigosos.
- Imigração com a reversão das políticas de Trump
A civilização se sobrepõe à barbárie do governo Trump porque Biden procurará desfazer imediatamente as políticas desumanas de imigração da era Trump. Biden assegurou que irá oferecer cidadania para muitos imigrantes e permanecerá 100 dias sem fazer novas deportações para organizar a sua política em relação a essa temática. Em seus primeiros cem dias no cargo, ele promete reverter as políticas que separam os pais de seus filhos na fronteira, acabar com os limites dos pedidos de asilo e retirar restrições a viagens para vários países de maioria muçulmana. Ele também promete proteger os chamados “sonhadores”, pessoas que foram trazidas ilegalmente para os Estados Unidos quando crianças que agora têm permissão para permanecer graças a uma política da era Obama. Biden também quer garantir que essas pessoas possam receber auxílio federal para estudar.
- Educação com a universalização da pré-escola e expansão da educação universitária gratuita
A civilização se sobrepõe à barbárie do governo Trump no campo da educação porque, em uma notável mudança progressista, Biden endossou várias políticas de educação que se tornaram populares dentro do partido: cancelamento de dívidas de empréstimos estudantis, expansão de faculdades gratuitas e acesso universal à pré-escola. Estes seriam pagos com dinheiro recuperado ao se restabelecer impostos que foram cortados na era Trump para beneficiar os ricos.
- Defesa do meio ambiente e do combate à mudança climática
A civilização se sobrepõe à barbárie do governo Trump no campo do meio ambiente que é uma das áreas em que Biden tem a maior divergência em relação a Donald Trump que colocou os Estados Unidos fora do Acordo do Clima de Paris. Biden afirmou que vai recolocar os Estados Unidos no Acordo de Paris, que estipula a redução de 28% na emissão de gases do efeito estufa até 2025. Biden pretende se integrar às instituições internacionais na luta pela preservação do meio ambiente. Biden afirmou que começaria imediatamente a organizar o hemisfério e o mundo para prover US$ 20 bilhões para o Brasil não queimar mais a Amazônia. Biden se comprometeu a injetar mais de 1,7 trilhão de dólares durante 10 anos na pesquisa e no desenvolvimento de novas tecnologias que preservem o meio ambiente. Além de voltar ao Acordo Climático de Paris, Biden descreveu as mudanças climáticas como o desafio que definirá o futuro dos Estados Unidos que adotarão a matriz de energia verde se comprometendo a alcançar 100% de “energia limpa” até 2050.
- Recuperação da economia e geração de novos empregos
A civilização se sobrepõe à barbárie do governo Trump que no campo da economia não tentou compatibilizar o crescimento econômico com o combate à pandemia da Covid 19. Enquanto a pandemia crescia nos Estados Unidos, Trump nada fez para evitar seus efeitos maléficos não liderando o combate à pandemia e nada fez para reativar a economia debilitada pela disseminação do novo Coronavirus. Biden entende que, enquanto a Covid-19 estiver em alta, será difícil retomar amplamente as atividades dos setores de comércio e indústria. Biden propõe o “Green New Deal¨ como estratégia de retomada do crescimento econômico e de geração de empregos do país para reduzir o elevado desemprego atual. De maneira geral, Biden propõe injetar dinheiro na economia, principalmente no desenvolvimento de novas tecnologias sustentáveis. Biden colocou no centro das suas propostas eleitorais a construção de uma economia de energia limpa. Ele quer realizar investimentos de US$ 2 trilhões em energia verde, argumentando que o aumento da produção verde ajudará a classe trabalhadora, que ficaria com a maior parte dos novos empregos gerados. Ele disse que reverterá os cortes de impostos da era Trump. Biden pretende priorizar produção nacional com o plano “Rebuild Better” que propõe que o governo federal invista US$ 700 bilhões em materiais, serviços, pesquisa e tecnologia realizados nos Estados Unidos. A proposta também visa fortalecer as chamadas leis de “Compre Produtos Americanos”, que incluem ajustar a definição do que é considerado um bem de produção nacional. Biden se comprometeu a preservar pequenos negócios e aumentar o salário mínimo e outros benefícios aos quais os trabalhadores têm direito. Biden quer aumentar o salário mínimo para pelo menos US$ 15 (R$ 80) por hora, um movimento popular entre os jovens que se tornou uma espécie de plataforma de campanha do Partido Democrata em 2020. Ele também propõe o fim do pagamento de salários abaixo do mínimo para os trabalhadores que recebem gorjetas.
- Política externa com a reparação da reputação do país
A civilização se sobrepõe à barbárie do governo Trump que no campo da política externa assumiu uma posição isolacionista do país, em uma era de globalização que exige um esforço cada vez maior de integração entre todos os países do mundo para fazer frente aos gigantescos problemas globais relacionados com o caos na economia global, o risco de mudança climática, a expansão do crime organizado e a escalada dos conflitos internacionais e do terrorismo. A política externa de Biden se concentra na promessa de reparar as relações com os aliados tradicionais do país que Trump minou, particularmente com os países da Otan. Em artigo de opinião publicado na revista Foreign Affairs, Biden escreveu que, como presidente, se concentrará primeiro nas questões internas, e que não fará novos acordos comerciais até que haja investimentos no país, por exemplo, em saúde e infraestrutura. Biden, da mesma forma que Trump, parece concordar que os Estados Unidos precisam conter o avanço da China. Isso se tornou um consenso entre democratas e republicanos e não há muita distinção entre eles. A principal diferença está na estratégia que cada um deles adotaria para competir na disputa geopolítica e econômica internacional com o seu principal concorrente. A disputa pelo 5G, a plataforma de transmissão de dados e comunicação digital que será adotada por cada país já é e poderá se tornar um dos campos mais intensos dessa batalha. Biden vai trazer pautas relacionadas aos direitos humanos e ao meio ambiente que podem gerar atritos com o governo Bolsonaro no Brasil.
Pelo exposto, fica evidenciado que a vitória de Joe Biden é um acontecimento auspicioso porque ele derrotou a maior expressão do neofascismo no mundo representada por Donald Trump para fazer prevalecer a democracia e os valores mais elevados da civilização nos Estados Unidos. Joe Biden disse em seu discurso no dia 07 de novembro de 2020 que “o povo desta nação falou” ao proporcionar a vitória da democracia nos Estados Unidos. Que esta vitória sirva de inspiração para que os povos do mundo inteiro que estejam ameaçados pelo neofascismo como é o caso do Brasil com o governo Bolsonaro lutem para extirpar este mal.
Fernando Alcoforado é membro da Academia Baiana de Educação, engenheiro e doutor em Planejamento Territorial e Desenvolvimento Regional pela Universidade de Barcelona, professor universitário e consultor nas áreas de planejamento estratégico, planejamento empresarial, planejamento regional e planejamento de sistemas energéticos, é autor dos livros Globalização.
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