
O convívio doméstico permanente imposto pela quarentema e a instabilidade socioeconômica podem resultar em um aumento dos casos de violência doméstica, deixando especialmente as mulheres em situação de maior vulnerabilidade. Enquanto o isolamento social protege da contaminação, o convívio forçado produz alguns efeitos colaterais que precisam ser prevenidos.
Mesmo diante de incertezas, por parte das autoridades sanitárias e governos, a maior parte dos brasileiros atravessaram a primeira semana de confinamento pela pandemia de coronavírus.
O que tinha previsão de durar pouco tempo, hoje tem perspectivas de continuar por tempo indeterminado. Famílias inteiras permanecem dentro de casa por 24 horas e tensões podem surgir.
No Brasil, onde a cada 2 minutos ocorre um caso de violência doméstica, 69% deles são dentro da casa da vítima, já é esperado um aumento em função da quarentena.
Em alguns estados essa progressão é sentida e as mulheres são as maiores vítimas. No Rio, os casos de violência doméstica cresceram 50% durante confinamento, registra o G1.
No País em que o feminicídio avança a índices alarmantes, com crescimento de 20% a mais em 2019, as mulheres ficam mais expostas ainda à uma relação abusiva.
Sem poder acessar o ambiente de trabalho e as redes de amigos e familiares, inclusive naqueles casos em que precisem pedir socorro, muitas vivem um pesadelo.
Estudos e monitoramentos de segurança indicam que a agressão depende do poder e do controle do agressor sobre a vítima. Assim, quando as pessoas são confinadas, e isoladas, por longos períodos, os abusadores têm o ambiente propício para impor seu poder de intimidação.
Nas periferias, a situação de agressão pode ser agravada pela realidade de exclusão econômica e social com espaços pequenos, desemprego e falta de renda para prover necessidades alimentares diárias e acesso a serviços essenciais.
Atenta à situação, a ONU emitiu alerta que fez França, Itália, Suíça e Portugal ampliarem a atenção sobre casos de violência.
Como fez a China?
Na China, onde começou a pandemia, a imprensa do país registrou um aumento da violência, que triplicou dentro das casas. Por lá, foi criada a hashtag #AntiDomesticViolenceDuringEpidemic, para que as vítimas pudessem denunciar.
No Brasil, os governos estaduais contam com ações para mitigara também o vírus do machismo e da misoginia. O portal Socialismo Criativo elencou algumas iniciativas de enfrentamento à violência contra mulheres na quarentena.
Curitiba
Em Curitiba houve 217 registros de violência doméstica no primeiro final de semana da quarentena. No final de semana anterior, foram189, informou o Estadão.
Santa Catarina
A Polícia de Santa Catarina reforçou canais de denúncia para prevenir violência contra a mulher durante quarentena.
Além dos canais já existentes como a Delegacia Virtual e as centrais Disque 181 e Disque 100, criou um whatsapp para denúncias, (48) 98844-0011.
São Paulo
A Defensoria Pública do Estado do Mato Grosso criou a campanha “Aqui não! Violência doméstica não entra na quarentena”.
“Em casa, a mulher não pode se sujeitar à violência por medo. É preciso pedir ajuda a vizinhos, amigos e familiares”, disse a presidente do Sindicato dos Delegados de Polícia de São Paulo, Raquel Kobashi Gallinati, ao Estadão.
Kobashi lembrou que o telefone 180 atende casos de violência contra a mulher, aconselhando que toda mulher que se sentir em risco deve interromper a quarentena e se dirijir à uma delegacia.
“É dever de todos impedir que a mesma quarentena que vai salvar vidas da covid-19, resulte morte e violência contra as mulheres”, disse Raquel Kobashi Gallinati ao Estadão.
Paraíba
Na Paraíba a rede de proteção à mulher intensificou a vigilância e decidiu manter alguns serviços ativos como a Casa Abrigo Ariane Taís e o Programa Integrado Patrulha Maria da Penha.
“A Casa Abrigo, por razões óbvias, já era de mulheres que estavam confinadas em função de terem sofrido violência severa. Então nós mantivemos a casa, que tem a equipe multidisciplinar, e também equipes de enfermagem que fazem esse acompanhamento”, informa ao Brasil de Fato a secretária da Mulher e da Diversidade Humana, Lídia Moura.
Amazonas
As mulheres que sofrem de violência doméstica no Amazonas têm disponível o aplicativo Alerta Mulher, que funciona como uma espécie de botão de pânico para as vítimas. O app foi desenvolvido pela Secretaria de Estado de Segurança Pública (SSP-AM), em parceria com a Secretaria de Estado de Justiça, Direitos Humanos e Cidadania (Sejusc). O app é um canal de rápida comunicação da vítima via aplicativo com a polícia, informou o Metrópoles.
Disque 180
O número, da Central de Atendimento à Mulher em Situação de Violência – Ligue 180 , é um serviço de utilidade pública gratuito e confidencial (preserva o anonimato), oferecido pela Secretaria Nacional de Políticas, desde 2005.
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