
“Eu diria que estamos caminhando para o fim da pandemia. Isso se deve justamente pelo avanço da imunidade coletiva da população mundial”, destacou o infectologista Júlio Croda, pesquisador da Fiocruz e presidente da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical (SBMT). Em entrevista para o jornal O Globo, Croda, que também é professor da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul (UFMS) fala sobre o fim da pandemia, estima que em breve será possível relaxar o uso de máscaras e alerta para a necessidade de ampliar a quarta dose para os idosos, em especial aqueles que tomaram três injeções da CoronaVac.
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Croda acredita que, com o crescimento da cobertura vacinal no mundo, a crise pandêmica instalada pelo coronavirus deve encaminhar para o seu fim e vamos entrar numa fase endêmica, com períodos sazonais epidêmicos, como já acontece com a gripe e a dengue.
“Passar da pandemia para a endemia não significa que a gente não vai ter o impacto da covid-19 em termos de hospitalização e óbito. Significa que esse impacto vai ser menor a ponto de não ser necessário medidas restritivas tão radicais e eventualmente até a liberação do uso de máscaras, que é uma medida protetiva individual”, explica.
Fim da pandemia: como?
O infectologista esclarece que o “sinalizador” sobre a situação da pandemia é a letalidade. A medida que a imunização avança, há a queda do número de vítimas fatais para o coronavírus, criando uma estabilidade no número de infecções e, por consequência, de casos graves da doença. “Foi assim com a influenza H1N1, quando surgiu a pandemia em 2009. Partimos de uma letalidade de 6% e isso foi reduzido para 0,1%”, acrescenta.
De acordo com dados do Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass), a taxa de letalidade do coronavírus no Brasil é de 2,3%, e a taxa de mortalidade por cada 100 mil habitantes é de 307,1. A média móvel de óbitos nos últimos sete dias é de 819, e a média móvel de novos casos é de 98.896.
Fim da pandemia: quando?
Para Croda, é possível que o fim da pandemia aconteça ainda este ano. “Diversos países começarão, de alguma forma, a diminuir as medidas restritivas, cancelando a obrigatoriedade do uso de máscaras, de manter distanciamento, de evitar aglomeração. Isso já acontece na Europa”, afirma.
Entretanto, o afrouxamento das medidas de restrição estão ligadas diretamente a cobertura vacinal, da letalidade e da dinâmica da transmissão. A Europa, por exemplo, já tem mais de 50% da população com três doses e mais de 70% com duas doses e se encaminha para a flexibilização dos métodos.
Semana passada, a Organização Mundial da Saúde (OMS) anunciou, pela segunda vez neste ano, uma queda no número de novos casos de Covid-19 no mundo. No período de 7 e 13 de fevereiro, houve uma redução de 19% em comparação ao total registrado nos sete dias passados. No sul da Ásia, o decréscimo foi de 37%; nas Américas, 32%; na África, 30%; na Europa, 16%; e no leste do Mediterrâneo, 12%.
E no Brasil?
Apesar do governo negacionista e antivacina, o Brasil é exemplo global de imunização. Na última semana, a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) informou que, pela primeira vez em 2022, a taxa de ocupação dos leitos de UTI destinados a pacientes adultos com coronavírus apontou melhora no Brasil.
Nesta segunda-feira (21), ultrapassamos a marca de 93% de brasileiros acima de 12 anos vacinados com a primeira dose da vacina e 87% dos brasileiros estão totalmente cobertos, considerando o mesmo público-alvo. Os dados são do Ministério da Saúde.
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Considerando a situação vacinal, Croda acredita que até o fim deste primeiro semestre, o país esteja em uma situação mais favorável e que seja possível declarar que não estamos mais em emergência de saúde pública. E mesmo com a chegada do carnaval, o infectologia afirma que “não haverá suscetíveis suficientes para uma nova onda”.