por redação Socialismo Criativo em 24/08/2018.
Demandas localizadas tornam-se oportunidade de negócio de transporte em comunidades.
Preço acessível e motoristas disponíveis são atrativos para transportes em carro particular em bairros populares de São Paulo e de Salvador.
Em grandes centros urbanos, transporte é um dos quesitos mais relevantes, afinal, o acesso das populações aos mais diversos pontos da cidade incidem nas dinâmicas produtivas, na economia. Quando a oferta dos serviços coletivos, como ônibus e metrô, já não supre as demandas de algumas comunidades, o transporte alternativo, muitas vezes, é a solução. Assim surgiram cooperativas como as de mototáxis e as de vans. Inspirados nos aplicativos de transporte privado urbano, vêm surgindo iniciativas com carros de passeio como opção em determinadas localidades.
Em São Paulo, no início de 2017, foi criada a União de Brasilândia, a Ubra, pensada para atender às necessidades da Vila Brasilândia, na Zona Norte da cidade. “Eu não tinha capital. Tinha a ideia. Comecei com um computador, dois celulares. Eu trabalhei na Uber por seis meses. Depois eu trabalhei, aqui, no bairro, por quatro meses. Eu meio que fiz um laboratório. Foi aí que eu tive a visão da demanda de chamada que estava no bairro” conta seu idealizador, Alvimar da Silva.

Alvimar da Silva idealizador do Ubra.
Uma das coisas que instigou o projeto foi a dificuldade que alguns moradores apontavam acerca da disponibilidade, na região, de serviços de transporte por aplicativo. Durante os oito primeiros meses, o atendimento foi feito, somente, por telefonema ou via WhatsApp, mas, logo, foi desenvolvido aplicativo próprio da União de Brasilândia. “É o que eu sempre digo: o que eles excluíram a UBRA está incluindo novamente. É o direito de ir e vir das pessoas”, diz Alvimar. O negócio cresceu e gerou impacto social. A ideia de um serviço para a vizinhança transformou-se em uma startup, levando o senhor Alvimar e sua filha Aline Landim, parceira de trabalho, a fazerem cursos junto ao Sebrae, obterem consultorias jurídicas, financeiras, buscarem conhecimentos na área de inovações.
Entre as mudanças para a nova fase, está a do nome: a Ubra, agora, será Jaubra, com o “ja” vindo, em princípio, da palavra jardim. “A gente, aqui, é rodeado de jardim. Jardim Vista Alegre, Jardim Elisa Maria, Jardim Peri, Jardim Guarani e outros. O ‘já’ deu dupla conotação”, explica. “Para quem não conhece a história do bairro, eu falo que é ‘já’ de agora, deste momento. ‘Chama a Ubra aí, porque já atendemos’”, completa.
Sessenta carros na Brasilândia.
Atualmente, são cerca de 60 carros atendendo à demanda. Destes, 30% trabalham, exclusivamente, para a União de Brasilândia, enquanto os demais também estão vinculados a outros aplicativos. Para se cadastrar para dirigir, o candidato precisa seguir todos os requisitos de documentação exigidos por outros aplicativos. O atendimento, pela central telefônica e via WhatsApp, funciona de 7 horas da manhã até a meia-noite, de segunda a quinta-feira. Aos finais de semana, não tem horário para encerrar, porque o fluxo de pedidos é intenso. Pelo aplicativo via celular, as solicitações podem ser feitas a qualquer hora.
De cada corrida feita, que é cobrada por quilometragem, 15% do que é pago pelo passageiro fica com a Jaubra, valor abaixo do cobrado por outras empresas do mesmo ramo. O perfil dos condutores é de homens jovens, em sua maioria, mas há, também, mulheres, e todos são moradores da própria Brasilândia ou de bairros vizinhos. Segundo Alvimar, por conhecerem bem a região, os motoristas cadastrados sentem-se mais confortáveis para transitar por localidades consideradas de risco, por ruas estreitas, áreas que, muitas vezes, são evitadas por motoristas de fora da Brasilândia.
De olho na qualidade do negócio, Alvimar está fazendo parcerias para obter descontos em serviços para os carros cadastrados na Jaubra: lojas de autopeças, empresas de guinchos, mecânica, funilaria. Pensando no motorista em si, não apenas nos veículos, até plano de saúde está na lista. “Esse é o diferencial, um tratamento mais humanizado”, garante.
Agora, estão em fase final de homologação da empresa junto aos órgãos competentes, porque, em setembro deste ano, estarão lançando a versão atualizada do aplicativo Jaubra, marcando uma nova fase, que já tem como meta alcançar atendimento de 10% da população de Brasilândia e adjacências. “Aqui, é um aglomerado de bairros que chega a ser comparado com o município de Bauru, com quase 400 mil habitantes. Hoje em dia, acho que a gente não está atendendo ainda nem um e meio porcento disso”. Além dos 60 veículos disponíveis, outros 500 já estão cadastrados e, à medida que possa ser oferecido serviço com qualidade, tanto para o condutor quanto para o passageiro, os que estão na lista de reserva passam a circular pela Jaubra, inclusive com carros adesivados com nome da empresa.
CoopPaz
Em Salvador, uma iniciativa mais recente parece estar seguindo os mesmos passos da Jaubra paulistana. O Serviço de Transporte Alternativo do Bairro da Paz, CoopPaz, criado em dezembro de 2017, está com 20 carros cadastrados para suprir uma necessidade de deslocamento da comunidade para bairros circunvizinhos, como Itapuã, Piatã, São Cristóvão e Mussurunga. Seu idealizador é Alexsandro Araújo, que já tem, no currículo, experiência como motorista, tanto entregando mercadoria como por aplicativos de transporte urbano.

Bairro da Paz , Salvador/Ba.
A proposta de negócio surgiu a partir a observação que Alexsandro fez sobre a oferta de transporte de coletivos no bairro e as demandas dos moradores. “Nós trabalhamos também pela comunidade, pelo social. Colocar esses carros na rua veio disso, de ver que a comunidade precisava chegar em um lugar por perto sem precisar pegar dois, três ônibus, metrô. A gente viu que tinha essa necessidade” explica.
Diferente da proposta de São Paulo, que cobra por quilometragem, o valor da corrida da CoopPaz é fixo, R$ 4,00 por pessoa. Como as atividades ainda estão em fase inicial, a única possibilidade de solicitação do serviço é via WhatsApp, monitorado por colaboradores da própria comunidade. Para prestar serviço, o motorista deve ser, preferencialmente, morador do Bairro da Paz, estar com os documentos pessoais e do carro de acordo com os exigidos por lei. Por dia, cada veículo em serviço contribui com R$ 15,00 para a CoopPaz.
Até o início de 2019, a previsão é que as carteiras de habilitação dos cadastrados estejam todas com registro de atividade remunerada, porque, com a inscrição da empresa junto à Prefeitura de Salvador, todas as exigências do Município e do Código Brasileiro de Trânsito para exercício de tal atividade devem ser cumpridas. A CoopPaz tem a intenção de ampliar suas atividades à medida do crescimento da demanda e, assim, alcançar novos horizontes, talvez, até seu próprio aplicativo CoopPaz.