
Diante da inédita demissão conjunta dos três comandantes da Forças Armadas e às vésperas dos 57 anos do Golpe de 1964, a oposição ao governo de Jair Bolsonaro (sem partido) está em estado de alerta em decorrência do cenário de incertezas em Brasília.
Leia também: Socialistas e oposição reagem a demissão de comandantes das Forças Armadas
Na manhã desta terça-feira (30), durante reunião de líderes partidários da Câmara dos Deputados, o bolsonarista e líder do PSL, Vitor Hugo (PSL-GO), tentou emplacar um requerimento de urgência para a tramitação da proposta legislativa que permite que seja decretada Mobilização Nacional durante a pandemia da Covid-19.
Caso o projeto seja aprovado, Bolsonaro poderia interferir e expropriar a produção privada, além de mobilizar militares para ações determinadas pelo governo federal. A proposta abriria o caminho para o presidente atuar em “espaço geográfico” definido no combate à pandemia. Hoje, governadores e prefeitos são responsáveis por medidas restritivas de isolamento.
Oposição critica proposta de Mobilização Nacional
A intenção de Vitor Hugo não prosperou, mas recebeu críticas de parlamentares da oposição. Em razão do teor da proposta, a sugestão foi recebida com desconfiança pela oposição e juristas, o que fomentou uma discussão nas redes e fez com que a palavra “golpe” fosse parar nos assuntos mais comentados do Twitter.
O deputado Denis Bezerra (PSB-CE) avalia que o PL defendido pelo líder do PSL concede superpoderes ao presidente e permite até a interferência em fábricas privadas e convocação de civis e militares.
O líder da Minoria, Marcelo Freixo (PSOL-RJ), ressaltou que a proposta do líder do PSL é inconstitucional e que a oposição não permitirá que seja votada.
O deputado Orlando Silva (PCdoB-SP) classificou a proposta de Mobilização Nacional durante a pandemia da Covid-19 como provocação, loucura e suicídio coletivo.
O presidente nacional do Partido Socialista Brasileiro (PSB), Carlos Siqueira, também comentou a iniciativa de Vitor Hugo. Para o dirigente, o país precisa é de esforços conjuntos, com governos estaduais e prefeitos, para salvar a população da Covid-19 e da crise sanitária agravada pela má conduta do governo federal.
O advogado criminalista Augusto de Arruda Botelho, um dos fundadores do Instituto Direito de Defesa (IDDD) e conselheiro da Human Rights Watch e do Innocence Project Brasil avalia que em todas as análises das últimas 48 horas um fato é consenso: Bolsonaro está enfraquecido e que o momento é de impeachment.
Mecanismo foi criado para tempos de guerra
O projeto de lei 1074/2021, de autoria do líder do PSL, foi protocolado na última sexta-feira (26). A proposição altera a Lei 11.631/2007, para permitir que seja decretada Mobilização Nacional em casos de situação de emergência de saúde pública de importância internacional decorrente de pandemia e de catástrofe natural de grandes proporções.
O mecanismo é previsto na Constituição e foi regulamentado em lei específica para tempos de guerra. Assim como a decretação de Estado de Defesa ou Estado de Sítio, a Mobilização Nacional só pode ocorrer após pedido do presidente da República e aprovação do Congresso Nacional.
Com informações de O Globo e Revista Fórum