
A decisão do ministro Alexandre de Mores, do Supremo Tribunal Federal (STF), de bloquear o Telegram no Brasil, nesta sexta-feira (18), foi um duro golpe para o clã Bolsonaro. A família tem, ao menos, 1,3 milhão de seguidores neste aplicativo de mensagens. E, Bolsonaro reagiu com indignação ao bloqueio.
Na família, Jair Bolsonaro (PL) lidera a lista de seguidores no Telegram, com 1,1 milhão. Na sequência, estão os filhos, o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), com 93 mil; o vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ), com 78 mil; e o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), com 54 mil.
Entre os adversários de Bolsonaro na corrida pelo Planalto, a diferença é muito grande: Lula (PT) tem 49 mil seguidores no Telegram; Ciro Gomes (PDT), 19 mil seguidores; Sergio Moro (Podemos), 5 mil, segundo a coluna de Guilherme Amado, no Metrópoles.
Alexandre de Moraes, que atendeu pedido da Polícia Federal (PF), determinou o bloqueio da operação do aplicativo de mensagens Telegram em todo o Brasil, em razão de descumprimento de ação judicial.
A rede social permitiu que o blogueiro bolsonarista Allan dos Santos, notório disseminador de fake news, voltasse a operar na plataforma, descumprindo determinação do STF.
“Determino a suspensão completa e integral do funcionamento do Telegram no Brasil, defenso ser intimado, pessoal e imediatamente, o presidente da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatall), Wilson Diniz Wellisch, para que adote imediatamente todas as providências necessárias para a efetivação da medida”, diz trecho da decisão de Moraes.
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Bolsonaro dá chilique por bloqueio ao Telegram
Bolsonaro chiou na saída do Encontro Estadual de Pastores e Líderes da “Fé e Cidadania” das Assembleias de Deus, no Acre. O chefe de Estado classificou a decisão do magistrado do Supremo como “inadmissível” e, como é habitual, citou exemplos sem lógica e exagerados para manifestar sua contrariedade em relação à ação que prejudica suas hostes de vândalos digitais que tornaram as redes sociais uma terra sem lei. Ele disse que “pessoas podem morrer” se o aplicativo ficar fora do ar.
“Olha as consequências da decisão monocrática de um ministro do STF. É inadmissível uma decisão dessa natureza. Porque não conseguiu atingir duas ou três pessoas que na cabeça dele deveriam ser banidas do Telegram, ele atinge 70 milhões de pessoas, podendo, inclusive, causar óbitos no Brasil por falta de contato paciente médico”, reclamou Bolsonaro.
O extremista ainda retomou a conhecida ladainha demagógica sobre “liberdade”, argumento que não se encaixa muito bem num político que construiu sua carreira enaltecendo a Ditadura Militar e homenageando torturadores.
“O que há de pior para nós em uma medida inconsequente da minha parte é o caos para o Brasil, o que está em jogo é a nossa liberdade, um bem maior do que a nossa própria vida. Homem ou mulher sem liberdade não tem vida. E certas coisas só se dá valor depois que se perde”, completou o presidente.
E-mail sigiloso foi vazado da Anatel
O ministro Alexandre de Moraes também abriu inquérito para investigar o vazamento do e-mail sigiloso enviado à Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações) por ele com a decisão de bloquear o serviço de mensagens Telegram no Brasil.
Um usuário do Twitter que usa o nome Edvan_TI, que se descreve na rede como “conservador de direita e bolsonarista”, foi quem divulgou, ainda na noite de quinta-feira (18), a mensagem remetida pela mais alta corte do Judiciário brasileiro, o que faz levantar suspeitas de que há aparelhamento político do órgão responsável pelas telecomunicações no país.
Na mensagem divulgada por Edvan_TI, além da informação sobre o bloqueio, o bolsonarista posta xingamentos ao magistrado típicos da claque de extrema direita que apoia o presidente da República e disponibiliza ainda o link da Anatel que remete para a ordem de suspensão do Telegram.
Moraes determinou ao Twitter que identifique o usuário e envie ao STF sua identidade, para que medidas judiciais sejam tomadas, uma vez que publicar informações sob sigilo de Justiça é crime.
O vazamento levantou claras suspeitas de aparelhamento da Anatel por parte de extremistas seguidores do clã Bolsonaro, um fenômeno que ocorre em inúmeros outros setores do serviço público federal, sobretudo na área de Segurança Pública, onde fanáticos apoiadores do chefe de Estado ultrarreacionário e de seus filhos ocupam postos de destaque e poder, evitando investigações e procedimentos contra crimes cometidos pela família.
Veja o print com o vazamento feito pelo bolsonarista:

Por Lucas Vasques e Henrique Rodrigues, da Fórum