
“Surreal”. Foi assim que o vice-presidente da Câmara, deputado federal Marcelo Ramos (PL-AM), definiu a atual situação do ministério da Saúde, que até esta terça-feira (23) segue sem um titular, apesar do avanço da pandemia da Covid-19 no país. Ramos é um dos principais representantes do Centrão na Casa, grupo partidário que controla a Câmara e forma base de apoio de Jair Bolsonaro (sem partido).
“É surreal que durante o momento mais grave da pandemia tenhamos um ministro demitido que continua no cargo e um ministro escolhido que não assume. As pessoas morrendo e o país sem ministro”, escreveu o parlamentar em suas redes sociais no fim da segunda-feira (22).
No domingo (21), Marcelo Ramos também já havia sinalizado irritação com a indefinição: “Um país que se aproxima de 3000 mortos/dia não pode se dar ao luxo de esperar um indicado para ministro da saúde passar dias para se desincompatibilizar da empresa da qual é sócio administrador”, twittou.
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As declarações ocorrem em meio a críticas da própria base aliada do presidente, que vem, reiteradamente, dando sinais de falta de paciência com o descontrole do governo em relação à crise sanitária.
Saúde sem comando e sem controle
Em meio ao colapso iminente, o ministério da Saúde segue sem comando, já que o cardiologista Marcelo Queiroga, anunciado como substituto do general Eduardo Pazuello, ainda não foi nomeado oficialmente para o cargo. Segundo reportagem da Folha de S. Paulo, secretários da pasta afirmam que não há “absolutamente ninguém” para estabelecer diálogo ou tomar decisões.
Definido como novo ministro da Saúde no último dia 15 de março, Queiroga ainda não foi nomeado em razão de um erro básico do governo de Jair Bolsonaro. Integrantes do Planalto esqueceram de verificar se o médico constava como administrador de alguma empresa na Receita Federal. Para assumir oficialmente como ministro, ele precisará deixar de ser administrador de duas empresas.
De acordo com a revista Crusoé, outros fatores ainda tem pesado para prosseguir com a nomeação, apesar de oito dias já terem se passado desde o anúncio do nome de Queiroga: o futuro ministro é réu em ação penal por crime contra o patrimônio público, denunciado por apropriação indébita previdenciária e pode nem chegar a assumir o comando do órgão.
Com o Ministério da Saúde abandonado pela desorganização do governo Jair Bolsonaro, o país ultrapassou o número de 295 mil mortos e 12 milhões de infectados pela Covid-19 no fim da segunda-feira (22). Nas últimas 24h foram registrados 1.570 óbitos, totalizando 295.685 vidas perdidas. Desde 20h de domingo, 55.177 novos positivos foram notificados, elevando para 12.051.619 o total de pessoas que contraíram a doença.
O Brasil também registrou dois novos recordes: na média móvel de infectados e na de mortes pela Covid-19. Segundo dados do consórcio de veículos de imprensa, a média de óbitos dos últimos sete dias é de 2.298, o mais alto de toda a pandemia pelo 24º dia seguido. Já a média de novos casos ficou em 75.163, um crescimento 10% acima daquele registrado há duas semanas.
Críticas e mais críticas
Nesta terça-feira (23), também via Twitter, Marcelo Ramos também criticou a falta de gestão que levou à falta de sedativos para intubação.
“A indústria nacional tem produção para atender a demanda, mas não há um controle nacional de demanda. No desespero, Estados compram demais e outros não conseguem comprar. O Ministério da Saúde precisa criar urgentemente uma central nacional de demanda com a informação da quantidade e prazo de cada Estado e assim controlar a compra de forma a coordenar com a demanda de cada um”, afirmou.