
Para o doutor em Economia Marco Antonio Cavalieri, a proposta do Socialismo Criativo defendida pelo Partido Socialista Brasileiro (PSB) em sua Autorreforma é original e enxerga o Brasil como liderança tanto econômica quanto na preservação do meio ambiente e na aplicação do desenvolvimento sustentável.
Ele avalia que o Socialismo Criativo é um pensamento novo e que deve ser disseminado entre a elite e a população. Para ele, o caminho para o Brasil alcançar o desenvolvimento é pensar por meio de um plano. “Eu acho que a proposta do Socialismo Criativo é uma proposta original que olha para as nossas condições nacionais e que pode ser o lema do desenvolvimento dos próximos anos”, aposta.
“A sacada do PSB é pensar essencialmente nas condições nacionais e propor um socialismo criativo que, até onde eu sei, é uma proposta bastante original. Olhando para o nosso pais que tem que ser um líder não só no desenvolvimento econômico, não apenas na America Latina, mas um líder na preservação do meio ambiente e do desenvolvimento sustentável.’’
Marco Antonio Cavalieri
O professor comentou ainda sobre o diferencial da Autorreforma do PSB de propor um desenvolvimento nacional baseado na sustentabilidade e na economia criativa. Para ele, o potencial brasileiro está baseado no potencial intelectual do país.
‘’Não temos que olhar para aquela indústria antiga que os velhos desenvolvimentistas olhavam, mas olhar para uma indústria nova baseada em novas tecnologias, baseada mais na intelectualidade e no potencial intelectual que o país tem e que é enorme e que a gente deixa de investir.’’
Revolução brasileira segundo Caio Prado Júnior
Sobre a obra de Caio Prado Júnior, Cavalieri avalia que o autor tem importância tanto como liderança política quanto como pensador no campo econômico socialista e marxista. Para o professor, a contribuição do historiador é ter formulado pensamentos voltados para e a partir da realidade brasileira e latino-americana.
‘’Nós latino-americanos, nós brasileiros, temos que construir pensamento nacional e temos que voltar à nossa realidade. Nossa realidade não é a realidade europeia, não é a realidade da América do Norte, embora seja um continente que também foi colonizado por europeus. Nossa realidade é muito particular.’’
Cavalieri destacou ainda a atualidade do pensamento de Prado Júnior. Ele comenta que ainda hoje persistem teses econômicas que foram importadas. Como, por exemplo, o liberalismo. No Brasil, o pensamento liberal é acrítico e trazido de fora e parte do princípio de que ferramentas estrangeiras serão capazes de promover o desenvolvimento nacional.
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Plano de Desenvolvimento Nacional
Cavalieri ressaltou a importância da Autorreforma do PSB propor um Plano Nacional de Desenvolvimento. Ele critica que desde os anos 1980 e 1970 a elaboração de planejamentos parece algo mofado ou antigo.
“A verdade é que os países que se desenvolveram fizeram planos e planejaram onde eles iriam chegar. Então ter um plano não é uma coisa secundária, não é uma coisa pequena dentro do pensamento econômico que o PSB propôs.’’
O professor defendeu a importância de abandonar o pensamento não intervencionista na economia. Ele frisou que desde 1980 as economias já demonstraram que a autorregulação do mercado não mantém o equilíbrio do tripé macroeconômico. Ele atesta que esse modelo não provê desenvolvimento automático. Para ele, as elites brasileiras devem enxergar que não existe desenvolvimento por meio de “pensamento mágico” do liberalismo.
Produtividade, desigualdade e Amazônia 4.0
Na Autorreforma, o PSB defende aumentar a produtividade, sem apenas ampliar e acumular lucro. O professor avalia que a percepção socialista sintetiza um processo global muito grave. O aumento das desigualdades sociais a partir dessa dinâmica capitalista tem, inclusive, solapado a democracia de vários países. Para ele, não basta liberalismo econômico com distribuição de renda, é preciso planos com distribuição de renda.
Cavalieri destacou o projeto Amazônia 4.0 da Autorreforma. Para ele, a proposta está em sintonia com o olhar de Caio Prado Júnior, que é pensar as condições essenciais do Brasil para promover o desenvolvimento .
“A potencialidade econômica de você olhar em um big push ambiental focado na Amazônia, tendo um plano, incluindo a Amazônia como parte relevante do nosso plano econômico é de novo cumprir aquilo que o Caio Prado estava dizendo sobre pensar nas nossas condições essenciais do nosso país.”
Educação no Brasil
O professor confessou não compreender como pensamentos liberais acham que o Brasil vai alcançar países desenvolvidos com a ideia de que se tem que investir menos em educação. Ele explica que o Brasil precisa fazer um esforço de algumas décadas e investir uma proporção maior do nosso PIB, para que assim possamos alcançar os países desenvolvidos que fizeram isso no século 19.
“Se nós temos que alcançar os países desenvolvidos nós temos que investir mais. Muitos liberais dizem investir uma proporção do nosso PIB grande em educação. Mas a nossa proporção do PIB investida em educação é equivalente à proporção investida em países desenvolvidos, sim! Só que países que tem o PIB total muito maior, essa educação significa uma educação maior.’’
Economia Criativa
O professor destacou ainda os avanços da Quarta Revolução Industrial em curso e o impacto do uso de tecnologias na classe trabalhadora. Ele ilustra o mundo do trabalho na Era da Informação com uma fábrica de alfinetes.
“Quando você divide a tarefa de montar um alfinete – um corta o arame, outro afia a ponta do alfinete, outro coloca a cabeça do alfinete e o último coloca dentro da caixa – isso é essencialmente criativo mesmo que possa parecer no século 19, mas alguém pensou que dividindo as tarefas assim tem um meio de produção muito maior, do que apenas uma pessoa fazendo todos os processos.”
Para Cavalieri é fundamental investir nesse tipo de avanço do modo de produção. Ele ressaltou que a criatividade é cada vez mais importante para o processo produtivo.
Lives Revolução Brasileira no Século 21
O professor de Economia e pró-reitor de Administração na Universidade Federal do Paraná (UFPR) foi o quinto convidado para o ciclo de debates promovido pelo Instituto Pensar e o site Socialismo Criativo, em conjunto com o PSB. As lives são realizadas às quarta-feiras e promovem discussões a partir da concepção de “Revolução Brasileira” elaborada pelo historiador Caio Prado Júnior.
O evento contou com a presença do presidente nacional do partido, Carlos Siqueira; do presidente do Instituto Pensar, Domingos Leonelli, e da integrante da direção da Juventude Socialista Brasileira (JSB) Juliene Silva. A mediação foi feita por James Lewis.
Já participaram do ciclo de debates o economista Luiz Gonzaga Belluzo, o geógrafo Elias Jabbour, o professor José Luiz Borges Horta e o socialista e ex-presidente da Frente Nacional dos Prefeitos (FNP), Jonas Donizette.
Confira a live na íntegra: