
Os formuladores da prova do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), servidores federais do Instituto de Pesquisas e Estudos Educacionais Anísio Teixeira (Inep), autarquia vinculada ao Ministério da Educação (MEC) temem sofrer retaliações. Isso porque, apesar da tentativa de interferência política nas questões do exame por parte do governo Bolsonaro, algumas questões censuradas foram inseridas novamente nas provas.
Na primeira parte do exame, aplicada no domingo (21), perguntas envolvendo racismo, erotização do corpo feminino, o filósofo Friedrich Engels (coautor do “Manifesto Comunista”, junto com Karl Marx) e a letra crítica de “Admirável Gado Novo”, de Zé Ramalho, despertaram a fúria do pastor-ministro e do presidente radical de extrema direita, que davam como certa a interferência imposta por eles a qualquer coisa que tivesse aspecto “ideológico” na prova, seja lá o que isso signifique, informa a Folha de S.Paulo.
Questões que haviam sido “retiradas” da prova por determinação do comando do MEC, foram colocadas de volta na prova. E fizeram isso sem que o ministro Milton Ribeiro ou o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) soubessem.
O descumprimento garantiu a boa calibragem das provas na distribuição das questões por grau de dificuldade.
De acordo com a Folha de S.Paulo, uma das perguntas retiradas que depois voltou ao exame era a que trazia uma obra do movimento Pop Art, dos anos 1960, com a imagem de uma mulher e fazia uma reflexão sobre a erotização do corpo feminino. Aconteceu a mesma coisa com uma questão que abordou o racismo contra jogadores brasileiros negros na Copa do Mundo de 1950.
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Uma pergunta com trecho de um texto de Friedrich Engels, coautor do Manifesto Comunista com Karl Marx, também estava entre as que a chefia do Inep tentou barrar, como mostrou o jornal O Estado de São Paulo.
Apesar disso, nenhuma linha sobre a ditadura militar apareceu nas provas.
Pelo menos, 20 itens foram suprimidos, de acordo com as denúncias. A maior parte na prova de linguagens. Todas as alterações feitas, desde a primeira versão da prova até a que chegou aos candidatos, foram registradas em ata. O documento está em sigilo no Inep.
Questões ‘ideológicas’ no Enem, reclama Bolsonaro
Após o exame, Bolsonaro disse que ainda havia “questões ideológicas”, o temor de novas represálias se intensificou.
A prova deste ano aconteceu em meio a uma série de denúncias de interferência, censura e assédio moral que levaram, inclusive, 37 pessoas a pedirem afastamento coletivo de cargos de chefia no Inep.
Com informações da Fórum