
A Cinemateca Brasileira vive um drama. Após meses de incertezas na gestão, disputas institucionais, suspensão de pagamentos e demissão de todos os funcionários, a Secretaria Especial de Cultura, comandada por Mário Frias, tomou as chaves da Cinemateca, que atualmente sofre um desmonte do governo federal.
Estão em riscos os mais de 100 anos de história do maior acervo audiovisual da América Latina, que reúne filmes e documentos essenciais para a memória do cinema brasileiro. Em 2018, a instituição chegou a anunciar a criação de um Netflix de filmes nacionais clássicos e raros, mas hoje tenta sobreviver ao processo de sucateamento.
Por longos seis meses, a Cinemateca permaneceu sem contrato, rompido com a Fundação Roquette Pinto (Acerp), mantenedora da entidade pública, de forma unilateral pelo governo de Jair Bolsonaro. Assim, cessaram os repasses para a continuidade dos trabalhos.
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E as promessas vazias sobre a proteção do acervo permanecem, mesmo depois que a Secretaria Especial de Cultura, ligada ao Ministério do Turismo, assumiu o órgão. Um cenário que só coloca a Cinemateca no hall de centros culturais e museus largados à própria sorte no Brasil.
Responsável pela gestão do local, a Associação Comunicação Educativa Roquette Pinto (Acerp) precisou demitir os 41 funcionários da entidade por conta da falta de repasse de verbas pelo atual governo federal. Apesar disso, por quatro meses, muitos trabalhadores continuaram desenvolvendo suas atividades por puro senso de responsabilidade com o acervo. Boa parte do material armazenado é composto de nitrato, uma substância que pode entrar em combustão espontânea, sem os devidos cuidados.

Cinemateca e os crimes contra a cultura do país
Segundo informações do El País, a União deve cerca de R$ 14 milhões à mantenedora da Cinemateca, que não recebe dinheiro do governo desde 2019.
Abrigo de cerca de 250 mil obras audiovisuais históricas e de acervos completos de grandes nomes do cinema brasileiro, como Glauber Rocha (1939 – 1981), a Cinemateca se junta à infeliz estatística de desmonte da cultura.
De acordo com o Hypeness, nessa lista estão prédios como o do Museu Nacional, no Rio de Janeiro, que passa por restauração após incêndio, e o Museu do Ipiranga, em São Paulo, fechado desde 2013.
Esses são alguns exemplos de patrimônios históricos, culturais e artísticos, como tantos outros espalhados pelo país, que continuam operando em regime de precariedade.
Rio, Museu Nacional

Para muitos ainda é recente a memória do incêndio de grandes proporções que atingiu o Museu Nacional em 2018. O museu é uma das atrações da Quinta da Boa Vista, localizado na Zona Norte do Rio de Janeiro.
Dono do maior acervo de história natural da América Latina e conhecido por ser um espaço cultural de acesso democrático na região, o museu foi vítima dos sucessivos cortes de verbas destinadas à Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), entidade mantenedora da instituição.
Por causa da negligência federal em relação às condições do prédio e necessidades de melhorias urgentes, mais de 20 milhões de objetos históricos foram destruídos pelo fogo. O prédio se encontra ainda em fase de restauração após dois anos da tragédia.
Essa situação, lamentavelmente, faz com que o museu figure entre as construções atingidas por incêndios na UFRJ, como ocorreu com o oitavo andar do prédio da Reitoria, em 2016, e a capela do Palácio da Praia Vermelha, em 2011.
Mediante a lentidão do governo federal, a ajuda poderá partir do próprio estado do Rio. Neste ano, início de agosto, a Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj) aprovou o repasse de R$ 20 milhões para a reconstrução do Museu Nacional.
“Naturalmente, estamos todos esperando o desenrolar da crise sanitária causada pela COVID-19 para saber quando efetivamente as obras de recuperação da fachada e do telhado do palácio vão poder ser iniciadas”, disse o diretor do museu, Alexander W. A. Kellner, que pelas redes sociais comemorou a aprovação do aporte financeiro, ocorrido no meio da pandemia.
SP, Museu do Ipiranga

Também conhecido como Museu Paulista, o Museu do Ipiranga está fechado desde 2013 devido a graves problemas no revestimento do edifício, afetado por infiltrações.
A instituição, que tem previsão de ser reaberta em 2022, é administrada pela Universidade de São Paulo (USP). Seu acervo abriga 450 mil itens entre objetos, iconografia e documentação relacionados à história da Independência do Brasil.
Com informações do Hypeness e El País
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