
A tecnologia digital tem iniciado um processo de modificação de prioridades no atendimento particular em saúde. Operadoras de saúde digital são lançadas em São Paulo por startups de saúde, as health techs. O motivo seria a insatisfação generalizada de clientes de planos de saúde tradicionais com limitações na cobertura e reajustes excessivos.
Segundo a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), de janeiro a março deste ano foram registradas 36.621 queixas de usuários no país — uma média de 406 por dia.
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Planos digitais resgatam médico de família
Os novos planos prometem resgatar a gestão preventiva em saúde, por meio do médico de família. Um médico responsável realizaria o acompanhamento do paciente à distância, auxiliado por uso de dados e inteligência artificial. Dessa forma, poderá prescrever tratamentos preventivos para doenças e evitar internações e casos mais graves.
Essa metodologia tem sido abandonada no Brasil nas últimas décadas, mesmo sendo prática comum no passado, quando um médico acompanhava a saúde de toda a família rotineiramente. A especialidade ainda existe e é defendida por estrategistas de saúde do país como forma de otimizar os recursos do Sistema Único de Saúde (SUS), garantir acesso à saúde e diminuir a lotação de hospitais e pronto atendimentos e filas diárias nos postos de saúde.
Saúde digital aumenta lucros
Em meio à pandemia, quando a procura pelos planos digitais tornou-se prioridade para quem não queria se expor ao vírus em consultas comuns, as startups receberam aportes financeiros superiores a R$ 500 milhões, acumulando mais de 10 mil clientes. Essa é a prova que a medicina preventiva tem a tendência de diminuir gastos. Para as empresas, garantindo altos lucros, para o serviço público, uma forma de otimizar recursos escassos.
Juntamente com a prática de algumas dessas empresas de atrair o público com promessas como uma visão “holística” da saúde, com preparadores físicos, psicólogos e nutricionistas, empresas do ramo confirmam a adoção da medicina preventiva para reduzir custos. Anderson Nascimento, vice-presidente da operadora QSaúde, afirma que 60% dos custos de planos de saúde decorrem de doenças crônicas descompensadas. “Quando você traz o médico de família, você devolve a pessoalidade ao cuidado com o paciente”, afirmou o executivo, que é cirurgião cardiovascular.
Coparticipação preocupa
Além de valores fixos, também pode ser exigida do paciente uma taxa de coparticipação em consultas. Esse caso só ocorre se o paciente optar por visitar um pronto atendimento antes de consultar pelo aplicativo. A taxa não é cobrada se o atendimento presencial for prescrito no atendimento digital ou se for comprovada a urgência da visita ao hospital, impossibilitando a consulta prévia pelo aplicativo.
Essa questão tem sido levantada por clientes dos planos por conflitos gerados no momento de comprovar a urgência do atendimento. Em sites de reclamações podemos encontrar várias queixas sobre a cobrança de coparticipação e não cobertura de internação por operadoras digitais, após a entrada de pacientes em pronto socorro sem o atendimento virtual prévio com o médico de família.
Inteligência artificial na saúde digital
Outra característica das health techs é que, como nasceram digitais, elas adotam análise de dados e inteligência artificial para acompanhar a saúde dos pacientes, aproveitando esses recursos para reduzir os próprios custos.
Para melhor compreensão, se um paciente tem costuma ter a pressão normal, mas em duas consultas consecutivas esse índice variou um pouco para cima, um alerta é emitido ao médico de família avisando que algo pode estar errado com a saúde daquela pessoa.
“Fazemos análise de curva com inteligência artificial para ver o histórico dos clientes. Para isso, temos uma equipe de cientistas de dados e especialistas em machine learning. Todas as operadoras têm dados, mas o que nós temos é uma forma diferente de usar esses dados.”
Anderson Nascimento
A Sami, operadora de saúde digital para pessoas jurídicas, também aposta na tecnologia como diferencial competitivo. Até mesmo a contratação dos planos pode ser feita pelo aplicativo e sem a intermediação de corretores. Essa modalidade corresponde a 13% das vendas da operadora.
Com informações de G1 e A Crítica.