
Os cigarros eletrônicos são proibidos no Brasil pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), mas são moda, principalmente, entre adolescentes e adultos jovens. Mas se engana que ainda pensa que eles não fazem mal ou são menos piores que os demais cigarros.
Pesquisa do Instituto Nacional do Câncer (Incor) mostrou que o fumante brasileiro fuma em média 17 cigarros por dia e, um estudo da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), revelou que quase um em cada cinco brasileiros de 18 a 24 anos já usaram o cigarro eletrônico pelo menos uma vez na vida.
No início de julho, a Anvisa manteve a proibição de importação, propaganda e comercialização desses dispositivos eletrônicos. O que não impede que isso ocorra nos mais diferentes locais.
Em entrevista à BBC, a diretora do Ambulatório de Tratamento do Tabagismo do Incor, a cardiologista Jaqueline Scholz, afirmou que recebe cada vez mais pacientes jovens para tratar a dependência dos cigarros eletrônicos.
“Cada vez mais recebo no meu consultório jovens de 16 a 24 anos que usam esse produto e têm uma taxa de nicotina no organismo equivalente ao consumo de mais de 20 cigarros por dia”, afirmou a médica, que também é professora da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP).
“Se não cuidarmos desse problema agora, o uso desses dispositivos tem tudo para virar uma epidemia em breve”, complementa.
A médica lembra que quando surgiram, os cigarros eletrônicos se promoveram com o falso argumento de que seriam menos prejudiciais à saúde por não terem combustão e não produzir fumaça. O que auxiliaria em fumantes que desejassem abandonar o vício. Porém, não existem estudos científicos que embasem argumentos.
“Vários países, como o próprio Reino Unido, aceitaram esse argumento e liberaram os cigarros eletrônicos. O que aconteceu nesses lugares foi um aumento da prevalência de fumantes”, observa Scholz.
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Os três ingredientes
Ela ressalta o papel dos principais ingredientes desses dispositivos: o propilenoglicol, a nicotina e as substâncias aromáticas. O primeiro é como um veículo que dilui e carrega a nicotina pelo organismo. A nicotina provoca forte dependência.
A médica afirma que os três podem trazer riscos à saúde. Os aromas tornam o cigarro eletrônico mais aceitável socialmente. O propilenoglicol, muito usado na indústria alimentícia, passou a ser aceito sem evidências de que é seguro também quando inalado.
Porém, não há estudos que atestem isso e, somado aos inúmeros aditivos presentes nos cigarros eletrônicos, “não possuímos uma ideia exata das reações químicas que acontecem ali, numa temperatura alta.”
“E nós já vimos alguns trabalhos que detectaram substâncias cancerígenas na bexiga e na urina de usuários do cigarro eletrônico”, complementa a especialista.
E, claro, a nicotina. De acordo com Scholz, as novas gerações de cigarro eletrônico trazem sais de nicotina cada vez menores e em alta quantidade. O que aumenta a dependência.
Mas a nicotina faz mal. Aumenta a frequência cardíaca, altera a pressão arterial e pode lesar o endotélio, a camada interna dos vasos sanguíneos, ressalta a médica.
“Por isso, o risco cardíaco de um usuário de cigarro eletrônico é praticamente o mesmo de alguém que fuma cigarros convencionais. Nos pulmões, as nanopartículas de nicotina podem entrar nos alvéolos, causar espasmos respiratórios e até doenças inflamatórias”, acrescenta a médica.
Com informações da CNN