
Quatro anos depois de o prefeito do Rio de Janeiro Marcelo Crivella (Republicanos) ter conseguido unir o eleitorado evangélico no segundo turno contra Marcelo Freixo (PSOL), os números da pesquisa Ibope divulgada na última sexta-feira e a postura de lideranças ligadas às igrejas revelam que o cenário está mais pulverizado este ano.
Segundo o Ibope, Crivella tem 26% das intenções de voto entre os eleitores evangélicos, enquanto Eduardo Paes (DEM) tem 17%. Na sequência aparecem Martha Rocha (PDT), com 8%, Clarissa Garotinho (PROS), com 4%, e Benedita da Silva (PT), com 3%. O segmento é um dos únicos em que Crivella lidera as intenções de voto, junto com o de pessoas que estudaram até o ensino fundamental.
Com vários candidatos na disputa pelo eleitorado evangélico, líderes das principais igrejas vão protelar declarações de apoio na eleição à prefeitura e se concentrar em seus candidatos à Câmara municipal.
Disputa
O atual prefeito, sobrinho do bispo Edir Macedo, fundador da Igreja Universal do Reino de Deus, disputa o apoio de evangélicos com o ex-prefeito Eduardo Paes (DEM), que já concorreu respaldado por nomes como o pastor Silas Malafaia, da Assembleia de Deus Vitória em Cristo, e o bispo Abner Ferreira, da Assembleia de Deus de Madureira, que este ano têm permanecido neutros.
Três candidatas evangélicas — Benedita da Silva (PT), Clarissa Garotinho (PROS) e Glória Heloíza (PSC) —, também miram este eleitorado, especialmente as mulheres. Embora sem o mesmo trânsito dos adversários neste segmento, Luiz Lima (PSL) atraiu o PSD, do senador Arolde de Oliveira, que construiu parte de sua base com uma gravadora gospel.
Postura dos evangélicos
Para o cientista político Leonardo Barreto, da Universidade de Brasília (UnB), a postura mais discreta de líderes evangélicos no Rio também se explica por circunstâncias de alcance nacional. A proximidade recente com o presidente Jair Bolsonaro levou legendas como Republicanos e PSD a abraçarem candidatos bolsonaristas e, com isso, o impacto do apoio do líder de uma igreja foi diluído.
“Esses líderes evangélicos já ficaram mais cuidadosos por conta da discussão sobre abuso de poder religioso. E o fim da coligação proporcional pressiona os partidos a terem nominatas de vereadores mais amplas. Crivella busca o eleitorado mais conservador, bolsonarista, priorizando também sua sobrevivência”, declara.
Busca por apoio
Próximo à Igreja Universal, o Republicanos de Crivella abriu espaço a candidatos a vereador de outras denominações evangélicas e outros ramos do cristianismo. Também apostou em nomes da segurança pública, além de se associar ao bolsonarismo. O vereador Carlos Bolsonaro, que se filiou em março, é tido como principal puxador de votos.
Os nomes ligados à Universal, no entanto, ainda são maioria. Além de três vereadores candidatos à reeleição — João Mendes de Jesus, Inaldo Silva e Tânia Bastos —, o partido espera ao menos dobrar a bancada próxima ao bispo Macedo. Entre as apostas estão Douglas Manasses, diretor de tuna ONG ligada à igreja que tem contratos com a prefeitura, e Alex Braz, irmão do deputado federal Jorge Braz, bispo da Universal.
Crivella ainda atraiu o grupo do pastor R.R. Soares, da Igreja Internacional da Graça. Embora seu partido esteja na coligação de Paes, o candidato a vereador Romildo Jucá (PL), ex-superintendente regional na gestão Crivella, apoia o prefeito. Ele é aliado do deputado estadual Filipe Soares (DEM), filho de R.R. Soares.
Propostas
O DEM, de Paes, defenderá novo mandato para o vereador Alexandre Isquierdo, aliado de Silas Malafaia. Em 2018, Malafaia apoiou Paes na eleição ao governo do estado, mas tem evitado se posicionar publicamente agora.
É a mesma situação do bispo Abner Ferreira, que por enquanto só sinalizou apoio ao vereador Eliseu Kessler (PSD), ligado â igreja e candidato a novo mandato. Há duas semanas, Crivella discursou num evento da Convenção das Assembleias de Deus de Madureira e ouviu uma mensagem de apoio — dias antes, havia sido alvo de operação do Ministério Público por um suposto esquema de corrupção.
“Não significa que eles vão caminhar com o Crivella a campanha toda. Se o Eduardo (Paes) for lá, vão fazer algo semelhante”,diz um pastor.
Com informações do jornal O Globo