
Durante depoimento à CPI da Pandemia no Senado Federal nesta terça-feira (3), em resposta ao senador Marcos Rogério (DEM-RO), o depoente Amilton Gomes de Paula chorou e pediu perdão pela negociação de vacinas entre a entidade que preside e o Ministério da Saúde — essa negociação acabou não resultando na compra de imunizantes.
Marcos Rogério pediu para o religioso reconhecer o erro e pedir perdão para as pessoas que foram induzidas a acreditar que haveria compra de vacinas.
“Eu queria vacina para o Brasil. Eu tenho culpa, sim. Peço desculpa ao Brasil. (…) Se pudesse voltar atrás eu voltaria. Jamais fraudei ou tirei algo de alguém.”
Amilton de Paula
Para Marcos Rogério, o depoimento “foi uma perda de tempo” para a CPI, já que não houve assinatura de contrato nem pagamento pelo Ministério da Saúde.
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Reverendo admite envio de emails com negociação de vacinas
Ao senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), o reverendo Amilton afirmou que a Senah não fez negociação de vacina com municípios e que não houve conversas com governadores ou prefeitos à esse respeito. Porém, Randolfe mencionou carta de Renato Gabbi, um dos diretores da Senah, encaminhada à Associação dos Municípios do Acre, e citou reportagem da CNN sobre email dirigido a vários municípios.
“Nenhum diretor da Senarh, pelo Estatuto, tem autorização de fazer ou de conversar. Se ele fez, gostaria de ver o material”, justificou.
Diante de mensagens que teriam recebido o aval da presidência da Senah, Amilton confirmou o encaminhamento de cartas da Davati a municípios, pela caixa de mensagens da Presidência e com o conhecimento do presidente.
Soraya questiona a relação do reverendo com Roberto Dias
Soraya Thronicke (PSL-MS) afirmou que “os crimes de corrupção ativa e passiva são crimes formais, e não é necessária a consumação para que ele se efetive”. A senadora questionou o reverendo Amilton sobre a relação dele com Roberto Dias, ex-diretor de Logística do Ministério da Saúde.
Em resposta, o reverendo disse não ter nenhuma relação com Dias. Ele afirmou que pode ter tido “alguma reunião” com o ex-diretor, porém disse não se lembrar. A senadora manifestou perplexidade ante as respostas de Amilton, observando a fragilidade da instituição criada por ele, a “Secretaria Nacional de Assuntos Humanitários”, cujo nome já induz a erro.
Depoente diz que não sabia quanto iria receber por compra de vacinas
O reverendo recebeu uma dura advertência do senador Alessandro Vieira (Cidadania-SE) por não dar respostas convincentes à CPI.
Amilton afirmou que a carta datada de 14 de março de 2021 e endereçada ao Ministério da Saúde só foi enviada por email para Élcio Franco, o então secretário-executivo da pasta, dez dias depois. A carta assinada pelo reverendo oferecia vacinas a US$ 11 a unidade. Anteriormente, em resposta ao senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), o depoente havia dito que a oferta de vacinas ao ministério foi enviada dia 14.
O depoente também voltou a afirmar não saber quanto em dinheiro seria a doação que sua entidade receberia pela ajuda na obtenção das vacinas.
“O mais absurdo é o governo brasileiro dar espaço para gente como o senhor, como Dominguetti, como Cristiano. Enquanto as pessoas estavam morrendo, vocês estavam atrás de vantagem financeira. A oferta de vacinas é mentirosa, a conversa fiada de apoio humanitário é mentirosa, tudo atrás de dinheiro, no pior momento da vida do Brasil. Se em algum momento, o senhor teve na sua conduta o princípio cristão, já passou foi muito da hora do arrependimento, agora é hora de punição. O documento que o senhor envia ao Ministério da Saúde é eivado de mentiras, do cabeçalho ou rodapé. E o senhor senta aí e ainda tenta se apresentar como agente humanitário da paz mundial ou coisa parecida. Sinceramente, está mais fácil acreditar no cara que acha que é o Super-Homem”, afirmou Alessandro Vieira.
Senah e casa de festas funcionam no mesmo endereço, diz Rogério Carvalho
Rogério Carvalho (PT-SE) apresentou documentação da Terracap — companhia imobiliária de Brasília — e perguntou ao reverendo Amilton o motivo de a Senah funcionar no mesmo endereço de um espaço de festas, o Medis Lounge Club, em Águas Claras, região do Distrito Federal. Ainda de acordo com os documentos apresentados pelo senador, o endereço pertence a uma clínica de olhos. O depoente não esclareceu as informações.
Girão questiona ações da Senah
Eduardo Girão (Podemos-CE) questionou o reverendo sobre as ações descritas no site da Secretaria Nacional de Assuntos Humanitários (Senah), instituição presidida por Amilton, quanto à cooperação com o governo federal para aquisição de vacinas contra a covid-19.
Em resposta, Amilton disse que os projetos da Senah são de “impacto social” e que ele havia se colocado à disposição do governo para que as vacinas chegassem mais rapidamente aos brasileiros.
Girão afirmou que a explicação de Amilton é “história confusa” que deixa muitas dúvidas.
Jean Paul Prates acusa entidades de praticar estelionato
Jean Paul Prates (PT-RN) contesta uso do brasão da Organização das Nações Unidas (ONU) pela Senah. Segundo dados apresentados pelo senador, a entidade não teria autorização para uso do logotipo e que “protentidades” no Brasil emulam instituições internacionais com o intuito de praticar estelionato, como na questão das vacinas contra covid-19.
Uma dessas entidades parceiras da Senah, segundo Jean Paul Prates, é presidida por um advogado, Aldebaran Luiz Von Holleben, que reivindica na Justiça o direito de ser reconhecido como o Super-Homem Tupiniquim. O senador pediu que a CPI se debruce sobre essas entidades e investigue o que chamou de “crime de falsidade ideológica e estelionato”.
O reverendo reconheceu o erro. “Foi um erro da minha parte ter colocado essas logos para trabalhar com vacinas”, disse.
Depoente diz desconhecer oferta de vacina por 10 dólares
Em resposta ao vice-presidente da CPI da Pandemia, Randolfe Rodrigues (Rede-AP), Amilton Gomes de Paula disse desconhecer qualquer oferta feita ao Ministério da Saúde pela empresa Davati no valor de US$ 10 por vacina.
“Eu desconheço esse documento de US$ 10”, disse o reverendo, ao afirmar que apresentou ao Ministério a oferta oficial do laboratório farmacêutico.
Randolfe mostrou um documento da Davati, de 5 de março de 2021, no qual a oferta feita ao Ministério é de US$ 10, e outro documento de Amilton, do dia 14 de março, com oferta de US$ 11 por vacina.
“Coincide com o que o Dominguetti denunciou à esta CPI. É exatamente a propina de US$ 1 por dose”, avaliou Randolfe.
Em depoimento anterior à CPI, Luiz Paulo Dominguetti Pereira disse ser representante da Davati. Ele denunciou à imprensa ter recebido pedido de propina de US$ 1 para cada dose negociada na venda da vacina AstraZeneca ao governo. O pedido teria sido feito pelo ex-diretor de Logística do ministério Roberto Ferreira Dias.
O depoente também reconheceu que a Secretaria Nacional de Assuntos Humanitários (Senah) não é credenciada pela Confederação Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), ao contrário de cartas assinadas por Amilton que foram mostradas por Randolfe.
O senador perguntou a Amilton se o Ministério da Saúde alguma vez perguntou sobre a dívida ativa dele com a União no valor de R$ 29,5 mil. O reverendo respondeu que ninguém do Ministério tocou no assunto.
Reverendo confirma pressão de representantes da Davati
O reverendo disse à senadora Eliziane Gama (Cidadania-MA) que foi pressionado pelos representantes da Davati Dominguetti Pereira e Cristiano Carvalho para dar prosseguimento às tentativas de comercialização da vacina AstraZeneca com o Ministério da Saúde.
Mais uma vez, Amilton negou que houvesse contrato formal da Senah com a Davati. Contudo, ele garantiu que solicitou ao CEO da empresa, Herman Cadenas, documentos sobre a disponibilidade de vacinas para entrega ao ministério.
Por fim, após uma carta de Carvalho a Dominguetti que tratava de “distrato” do acordado entre a ONG e a empresa para negociação da vacina, foi encerrada a parceria, segundo o reverendo.
Com informações da Agência Senado