
O senador Renan Calheiros (MDB-AL), relator da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Pandemia no Senado, anunciou que deve antecipar a entrega do relatório sobre os trabalhos do colegiado.
Em entrevista à GloboNews neste domingo (8), o senador afirmou que a CPI obteve “provas indiscutíveis” da atuação do governo de Jair Bolsonaro (sem partido) na promoção da cloroquina e da imunização de rebanho.
O relatório da CPI da Pandemia pode ser entregue até a primeira semana de novembro, pois a comissão foi prorrogada por mais 90 dias em julho. Para ser aprovado, o relatório deverá receber o voto favorável da maioria dos membros da CPI. As conclusões da CPI e o relatório aprovado podem ser remetidos ao Ministério Público para o indiciamento de possíveis infratores.
“Eu vou, como relator, procurar não utilizar os 90 dias. Eu vou tentar antecipar o relatório porque, como você sabe, nós já temos muitas coisas – na perspectiva sanitária – comprovadas. Estamos caminhando para comprovar as demais. Nós vamos ter nos próximos dias também avanços na investigação do que acontece no Rio de Janeiro nos hospitais [federais] e nas organizações sociais”. Renan Calheiros
Segundo o relator, a CPI da Pandemia conseguiu “provas indiscutíveis” da atuação do governo para a promoção do uso da hidroxicloroquina, cuja ineficácia para o tratamento para a covid-19 é comprovada cientificamente; do incentivo à imunização coletiva pela infecção pelo vírus, entre outros temas.
“Nós vamos antecipar o relatório porque já temos muita coisa. Eu vou me esforçar para antecipar esse relatório porque do ponto de vista do gabinete paralelo nós temos provas indiscutiveis; da imunidade de rebanho, também; da cloroquina; da ivermectina; do TrateCov. Nós tivemos depoimentos, documentos, confissões”. Renan Calheiros
Depoimento de Ricardo Barros
De acordo com Renan, a CPI terá depoimentos mais “acalorados” durante a semana. Um deles, segundo o relator, será depoimento do deputado Ricardo Barros (PP-PR), líder do governo na Câmara dos Deputados.
“Esse depoimento é fundamental porque o Ricardo Barros foi ministro da Sáude, manteve com o Ministério da Saúde uma relação direta, tinha proximidade com Roberto Ferreira Dias. Nós esperamos que esse depoimento seja mais um depoimento que vai calar fundo na sociedade brasileira diante do desgoverno que a CPI tem mostrado ao Brasil”. Renan Calheiros
O senador afirmou que as negociações para a compra de vacinas no Ministério da Saúde foram palco de uma “disputa pelo espaço territorial” entre o Centrão e os militares nomeados para atuar na pasta.
“Houve no Ministério da Saúde foi uma disputa pelo espaco territoral. O Centrão já estava no ministério, o Roberto Ferreira Dias era o representante mor do Centrão. Muitos militares foram mandados para o ministério. Só na ida do Pazuello para o Ministério da Saúde, ele levou 60 militares, 26 militares foram colocados em destacados cargos de direção”. Renan Calheiros
“A partir daí, nós conhecemos o modus operandi: o governo, através desse núcleo militar e do Centrão e de setores da Presidência da República, recusavam vacinas de qualquer empresa que tinham um controle rígido, uma regra rígida de compliance e preferia aquelas empresas sem acompanhamento, sem fiscalização, que muitas vezes não tinham nem vacinas para vender, porque nessas negociações eles tinham espaço para pedir propina”, completou Renan Calheiros.
Próximos passos da CPI
O senador Renan Calheiros afirmou ainda que, além das investigações sobre contratos dos hospitais federais do Rio de Janeiro, a CPI da Pandemia buscará informações sobre outros pontos da atuação do governo federal no combate à pandemia.
“Nós também estamos investigando a fundo esse negócio que não se explica com a VTCLog. Também vai ser palco e as fake news. Nós vamos ouvir na próxima semana o coronel Helcio Bruno que tem uma entidade que, dentre outras coisas, patrocinou campanha contra vacinas, pela cloroquina, e patrocinou, também, fake news na dimensão de confundir a sociedade que queria vacina porque poderia ter, exatamente, vidas salvas”, disse.
Calheiros disse que a CPI também precisa ouvir o ministro da Defesa, Braga Netto, que ocupou o cargo de coordenador do comitê de crise do governo federal quando era ministro-chefe da Casa Civil, cargo que deixou em março deste ano.
“Nós vamos ter que ouvi-lo porque, inevitavelmente, o relatório tratará dele. E ele precisa ser ouvido até para que possa, evidentemente, se defender. Nós queremos fazer uma investigação isenta. Uma investigação que em não verificando nada que possa eventualmente incriminar alguém, vai dizer isso com todas as letras porque nós não temos interesse de criminalizar, de expor por expor ou criminalizar por criminalizar”, declarou.
Omar Aziz comenta sobre Davati no Twitter
O presidente da CPI da Pandemia, Omar Aziz (PSD-AM), comentou sobre as investigações acerca das negociações de vacinas entre a Davati Medical Supply e o Ministério da Saúde nas redes sociais. Para Aziz, está claro que a instituição “davam preferência para negociar vacina quando beneficiava alguém, quando tinha algum propósito escuso”. O senador ainda ressaltou que a CPI da Pandemia segue investigando em outras frentes.
Flávio Bolsonaro é suplente na CPI
Desde que assumiu, na semana passada, a condição formal de membro suplente da CPI da Pandemia, após a licença de Ciro Nogueira (PP-PI) para assumir a Casa Civil, o senador Flávio Bolsonaro (Patriota-RJ) não compareceu aos depoimentos na comissão, e tem procurado atuar nos bastidores. Seu gabinete já se movimentou para ter acesso à documentação sigilosa da CPI, que inclui, por exemplo, processos em segredo de Justiça, investigações do Ministério Público e quebras de sigilo.
Esse acesso é uma prerrogativa dos senadores que compõem a CPI, e a solicitação foi feita por um assessor de Flávio na última sexta-feira. O objetivo ao se debruçar sobre os arquivos é avaliar quais documentos podem ser úteis na defesa do governo e quais podem ser utilizados para embasar acusações sobre supostos desvios de recursos envolvendo governadores. Esse trabalho já era feito pelos quatro senadores governistas na CPI, mas a avaliação de integrantes do núcleo do governo é que, à exceção de Marcos Rogério (DEM-RO), os outros parlamentares vinham deixando a desejar na defesa do Planalto.
A consequência do acesso de Flávio aos documentos gera divergência na cúpula da CPI. Isso porque embora não seja formalmente investigado pela comissão, a suposta ligação dele com diretores de hospitais federais do Rio é uma das linhas de investigação da CPI.
“Flávio ter acesso aos documentos é algo que atrapalha as investigações, mas nada que impeça o caminho a que vamos chegar. Com a presença dele na comissão temos que ser mais céleres. Temos que ter consciência ao movimento de obstrução que está em curso”, diz o vice-presidente da CPI, Randolfe Rodrigues (Rede-AP).
Flávio também tem proximidade com outros alvos da CPI. Um deles é o empresário Danilo Fiorini Júnior, sócio de Francisco Maximiano, dono da Precisa Medicamentos, em alguns negócios. Os dois estiveram com Flávio durante reunião virtual do BNDES, em outubro de 2020, o que chamou atenção da cúpula da comissão parlamentar de inquérito. O senador, inclusive, já admitiu manter uma “amizade distante” com Fiorini.
Com informações do O Globo e G1