
A possível fusão entre Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) pode estar atrelada à aprovação da reforma administrativa. De acordo com o deputado Rodrigo Agostinho (PSB-SP) caso o texto da reforma seja aprovado como está, o governo poderá determinar a união dos órgãos por decreto.
No texto da reforma há um item que permite que o governo faça fusões, incorporações e extinções tudo por decreto.
Em um portaria editada na última sexta-feira (2) pelo Ministério do Meio Ambiente determinou um grupo de trabalho (GT) para avaliar as condições dos órgãos e emitir um parecer em 120 dias sobre a situação das instituições.
Fusão
Mesmo sem depender da reforma, o governo tem prerrogativa para fazer a união das instituições por meio de uma Medida Provisória ou por Projeto de Lei. No entanto, a decisão teria de passar pelo legislativo e contar com o ânimo dos parlamentares em cenário marcado por debates sobre pandemia e com a imagem ambiental do país abalada internacionalmente.
Para André Lima, advogado ambiental e ex-secretário do Meio Ambiente do Distrito Federal, este vai ser um jogo difícil.
“Se formos pensar bem, já estamos em outubro e contados 120 dias o prazo é janeiro. Em fevereiro já temos reforma administrativa. Há dois cenários: pode ser que eles editem uma MP e fica valendo desde já a decisão, o que acho pouco provável, mas é possível. Ou que apresentem um projeto de lei e fiquem debatendo, brigando e enquanto isso a reforma administrativa avança. Se ela for aprovada com esse formato, só uma canetada do presidente da república será suficiente”, declara
Proposta
Por isso, Rodrigo Agostinho aponta que a gestão Bolsonaro não deve propor o tema no parlamento e já selou o destino dos órgãos. Política pública necessita debate com a sociedade e o governo criou um grupinho para debater como é que vai fazer a fusão, porque a decisão já tomou, se não, não teriam montado esse GT.
“A maioria dos deputados não veria importância em uma fusão como essa, mas boa parte deles está entendendo que o governo tem de ter uma postura mais proativa na área ambiental. O mundo inteiro quer ver do Brasil um protagonismo diferente nesse sentido e todo dia tem alguma coisa nova” , diz.
Críticas
O anúncio da portaria causou indignação em ambientalistas. A ex-ministra do Meio Ambiente, Marina Silva (Rede), classificou a união dos órgãos como um gigantesco e inaceitável retrocesso . Ela lembrou que as instituições desempenham funções distintas e de elevada especialização .
O governo também foi acusado de desmonte na área ambiental pela Associação dos Servidores Ambientais Federais (Ascema). Em nota, a entidade disse que a incorporação dos órgãos é totalmente inoportuna e problemática e lembrou que o grupo de trabalho criado pelo ministro Ricardo Salles é composto por policiais militares e indicados políticos ligados à bancada ruralista.
André Lima reforça a posição da Ascema. “Um debate técnico e aberto com quem realmente entende do assunto da gestão ambiental e da biodiversidade, e sem paixões ideológicas seria necessário, mas a composição do atual GT não condiz com essa condição.”
Para João Paulo Capobianco, presidente do Instituto Democracia e Sustentabilidade (IDS), o governo criou uma comissão fake para justificar essa sua eventual decisão. “Se ele [Jair Bolsonaro] quisesse discutir a sério as vantagens e desvantagens de uma fusão, traria para a discussão organizações que conhecem do assunto, que têm experiência larga e poderia analisar com dados concretos e objetivos”.
Com informações do Jornal do Dia