
Uma campanha em prol da indicação do cacique kayapó Raoni Metuktire, 90 anos, ao Prêmio Nobel da Paz ganhou o reforço com uma mobilização internacional realizada esta semana. Uma petição, aberta na plataforma Change.org pela Fundação Darcy Ribeiro, reuniu assinaturas em quatro países: Brasil, França, Alemanha e Estados Unidos. Mais de 69 mil pessoas já se juntaram ao abaixo-assinado em apoio ao nome do líder indígena à premiação em apenas duas semanas. O ganhador da categoria será revelado nesta sexta-feira (9).
Raoni concorre em uma lista composta por 318 candidatos – sendo 211 indivíduos e 107 organizações. Entre os nomes tidos como favoritos estão a ativista sueca pelo meio ambiente Greta Thunberg e, devido à pandemia da Covid-19, a Organização Mundial da Saúde (OMS). O vencedor do ano passado foi o primeiro-ministro etíope, Abiy Ahmed Ali. Caso vença a indicação, o cacique Raoni se tornará o primeiro brasileiro a ser homenageado com o Prêmio Nobel da Paz.
Nobel 2020
As premiações começaram na última segunda-feira (5) com a entrega da láurea de Medicina a Harvey Alter, dos Institutos Nacionais de Saúde dos EUA (NIH), Michael Houghton, da Universidade de Alberta, e Charles Rice, da Universidade Rockefeller, pela descoberta do vírus da Hepatite C.
Ainda foram premiados com o Nobel de Física Roger Penrose, Reinhard Genzel e Andrea Ghez, por descobertas relacionadas aos buracos negros; Emmanuelle Charpentier e Jennifer A. Doudna pelo desenvolvimento do Crispr, método de edição do genoma, com o Nobel de Química; e a poeta norte-americana Louise Glück, com o Nobel de Literatura de 2020. As entregas terminarão na próxima segunda, dia 12, com o Nobel de Economia.
Raoni e a vida dedicada ao diálogo
Para o administrador e indigenista Toni Lotar, vice-presidente da Fundação Darcy Ribeiro, instituição que articulou a indicação, Raoni está muito bem qualificado ao prêmio por ter dedicado toda a sua vida “a buscar o diálogo, o consenso e a boa convivência entre todos os povos do mundo”. Ele define o cacique como a liderança indígena mais representativa, respeitada e atuante no Brasil hoje, além de ser uma personalidade de renome internacional.
Raoni é internacionalmente reconhecido por sua luta em defesa dos povos indígenas, da Amazônia e do meio ambiente. Ele tem notoriedade especialmente na França, onde, no ano passado, foi recebido pelo presidente Emmanuel Macron para uma conversa sobre biodiversidade. No país, 22 mil pessoas assinaram a petição em apoio ao nome dele ao Nobel.
Toni Lotar conta ainda que todos os segmentos da sociedade que tem afinidade com a questão indígena e ambiental aderiram à campanha. Segundo ele, além das lideranças e dos povos indígenas, o apoio também tem vindo da classe artística e de organizações não apenas brasileiras, mas também do exterior. Ele pontua que essa preocupação mundial resulta da situação brasileira relacionada à gestão do meio ambiente e aos direitos dos povos indígenas.
“A oportunidade de Raoni ser laureado em 2020 com o Prêmio Nobel da Paz é extremamente pertinente, porque provavelmente este é o momento da história do Brasil – onde tantos males, tantas agressões foram feitas contra nossos povos indígenas –, provavelmente este é o período, ou é o governo, que mais tem ameaçado e violentado tanto o meio ambiente do Brasil quanto os direitos dos povos indígenas”, aponta o indigenista.
Embate político e pandemia
Desde o ano passado, Raoni tem sido alvo de ataques do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), que o acusa de ser manipulado e de não representar os povos indígenas do país. “Muitas vezes alguns desses líderes, como o cacique Raoni, são usados como peça de manobra por governos estrangeiros na sua guerra informacional para avançar seus interesses na Amazônia”, disparou Bolsonaro em discurso na Organização das Nações Unidas (ONU).
O embate ocorre em meio a críticas internacionais que o governo vem sofrendo por sua política ambiental e de proteção aos povos nativos. Esse contexto político é citado em um vídeo produzido pela campanha #RaoniNoNobelDaPaz. “No momento crítico em que a gente vive, do atual cenário político, a gente precisa apoiar a luta dos povos indígenas e o cacique Raoni é a maior referência para todos nós”, declara a indígena Kanaiaku Kamayurá no vídeo.
Indígenas de diferentes etnias participam do vídeo, dando depoimentos sobre o por quê acreditam que Raoni merece ganhar o Nobel. Todos destacam sua atuação como importante liderança indígena e defensor da floresta.
Com informações do HuffPost Brasil