
O Líder da Oposição na Câmara, Alessandro Molon (PSB-RJ), afirma que o esquema de rachadinha montado no gabinete do vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ) funciona como uma filial do modelo que pode ter sido iniciado na família pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido), quando era deputado federal (entre os anos de 1991 e 2018). A declaração do socialista foi feita em entrevista ao Uol News nesta sexta-feira (24)
“Tudo indica que criou-se um certo modelo e que esse modelo foi replicado no gabinete dos filhos, em uma espécie de holding, de filiais que iam repetindo o mesmo esquema de arrecadação ilícita de recursos para enriquecimento sem causa da família”, Alessandro Molon
Assim como o irmão Flávio Bolsonaro (Patriota-RJ), Carlos Bolsonaro é alvo de uma investigação do MPRJ (Ministério Público do Rio) sobre a existência de um suposto esquema de repasse ilegal de salários de assessores, chamado de rachadinha. Além disso, o “02” da família Bolsonaro também é suspeito de ter nomeado “funcionários fantasmas” em seu gabinete na Câmara de Vereadores do Rio.
Assim que ele deixar a presidência, eventuais investigações sobre esquema de rachadinha envolvendo ele, a participação dele ou de pessoas do gabinete dele como deputado, portanto antes de ser presidente, podem voltar avançar. Por isso, ele costuma dizer que será preso, será morto ou vencerá (as eleições). Ele sempre exclui dessas possibilidades a derrota eleitoral, que será a prévia da sua prisão
Alessandro Molon
Molon afirma que os constantes ataques que o presidente faz ao Supremo Tribunal Federal (STF) são uma resposta às investigações do Judiciário sobre os supostos esquemas de rachadinha montados pela família. Para o deputado, Bolsonaro teria praticado outros crimes agora na Presidência da República.
“Esses crimes de peculato envolvendo a família (rachadinhas) são uma parte grave dos crimes, mas não são todos. A atuação dele como presidente da República no “enfrentamento à pandemia” é extremamente grave também pelas centenas de milhares de brasileiros mortos que tivemos como consequência do negacionismo, da sabotagem ao enfrentamento da pandemia e da receita de remédio sem eficácia, como ele continua fazendo”, afirma Molon.
Também nesta sexta, de acordo com informações são da coluna de Juliana Dal Piva, o juiz Marcello Rubioli, da 1ª Vara Criminal Especializada do TJ-RJ (Tribunal de Justiça do Rio) autorizou o afastamento do sigilo dos registros de chamadas telefônicas e dos metadados de 11 ex-funcionários do filho de Bolsonaro na Câmara Municipal do Rio. Rubioli é o mesmo que autorizou a quebra de sigilos fiscal e bancário do filho 02 do presidente da República.
Com a quebra dos sigilos, os investigadores terão acesso aos dados armazenados nos celulares de um grupo de 11 ex-assessores do gabinete. Serão identificados o histórico de chamadas telefônicas efetuadas e recebidas, dados cadastrais, de conexão com Wi-Fi, de localização e das antenas que tenham sido utilizadas pelos investigados enquanto trabalharam na Câmara do Rio, em períodos entre 2005 e 2019.
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As pessoas que terão seus sigilos quebrados pertencem a três dos seis grupos identificados pelo MP-RJ (Ministério Público do Rio) como núcleos da organização criminosa. Sete delas são parentes de Ana Cristina Siqueira Valle, ex-chefe de gabinete de Carlos (2001 a 2008) e segunda mulher de Bolsonaro.
São eles: André Valle e Andrea Valle, irmãos de Ana Cristina; Marta Valle, cunhada de Ana Cristina, Gilmar Marques, ex-cunhado de Ana Cristina; Guilherme Henrique de Siqueira Hudson, primo de Ana Cristina, e sua mulher Ananda Hudson; e Monique Hudson, cunhada de Guilherme de Siqueira Hudson. Ana Cristina e Carlos Bolsonaro não foram alvo da quebra de sigilo telefônico.
Em seguida, outras quatro pessoas também tiveram o sigilo afastado. Elas são integram os núcleos das famílias Góes e Cruz Martins: Rodrigo de Carvalho Góes, Nadir Barbosa Góes, Diva da Cruz Martins e Andrea Cristina da Cruz Martins.
Dinheiro em espécie
O MP-RJ suspeita ainda que a ex-funcionária, Diva da Cruz Martins, frequentava o gabinete do vereador, no Centro do Rio, para devolver pessoalmente as quantias recebidas pela filha, Andrea Cristina da Cruz, também empregada pelo político.
De acordo com a coluna de Lauro Jardim, entre novembro de 2013 e dezembro de 2019, a promotoria fluminense identificou 58 visitas de Diva à Câmara de Vereadores, todas endereçadas ao escritório de Carluxo. Ela ia ao local com regularidade mensal, quase sempre nos primeiros dias do mês e permanecia por curtos intervalos.
“Tais visitas, associadas às contradições nas declarações de Diva da Cruz Martins, sugerem a possibilidade de que tais visitas observassem uma rotina de repasse dos valores da remuneração paga em nome de sua filha (…)”, afirma o MP-RJ no pedido de quebra de sigilo.
Com informações da coluna de Juliana Dal Piva e da coluna de Lauro Jardim