
A jornalista Thaís Oyama traçou, nesta quinta-feira (18), um perfil de Frederick Wassef, advogado da família Bolsonaro e o responsável por manter desaparecido o ex-assessor de Flávio Bolsonaro (PSL-SP), Fabrício Queiroz, preso nesta manhã em Atibaia (SP).
Principal articulador do projeto político que permitiu a transformação do ex-deputado federal do baixo clero em presidente da República, Wassef é considerado mais que um advogado do clã.
Projeto Bolsonaro
“Eu não só fui o primeiro a acreditar no Bolsonaro, como fui o primeiro a colocar na cabeça dele a ideia de concorrer à Presidência”, diz.
Em 2014, quando estava internado para tratamento de câncer em São Paulo, Wassef diz ter ouvido um discurso do então deputado Bolsonaro sobre a necessidade de uma lei para impor o controle de natalidade no Brasil. A partir daí, diz ter se “apaixonado” pelo parlamentar, a quem procurou mais tarde e de quem se tornou amigo.
Sua mulher à época, a empresária Cristina Boner, e a hoje primeira-dama, Michelle Bolsonaro, também se deram bem, e os Bolsonaro passaram a frequentar a casa de Wassef em Brasília.
Wassef diz que foi num dos desses encontros, no mesmo ano em se encontraram, que disse pela primeira vez ao ex-capitão que ele tinha de se lançar ao Planalto.
“Eu tinha acesso à Lava-Jato, sabia que iriam ser todos presos. Falei para ele: o senhor vai ficar sozinho e sem concorrência no mercado. Eu previ o futuro”.
Defesa de Flávio
Quando, em dezembro de 2018, o caso Queiroz estourou no noticiário, Wassef assumiu a estratégia de defesa de Flávio. Contrariando os advogados que aconselhavam a família naquele momento, ele convenceu o presidente eleito que o melhor a fazer para abafar a história seria tirar Queiroz e o Ministério Público Estadual do cenário e, por meio do foro privilegiado de Flávio, jogar o caso para o STF.
A estratégia quase deu certo: no dia 15 de julho de 2019, o presidente do STF, Dias Toffoli, atendendo a um pedido de Wassef, concedeu liminar que suspendia todas as investigações criminais que envolviam o uso de dados do Coaf — precisamente o caso de Flávio.
A decisão, ruidosamente comemorada pelos Bolsonaro e por Wassef, conseguiu travar a investigação até novembro daquele ano, quando o plenário do Supremo derrubou a liminar de Toffoli e o caso Queiroz foi retomado.
Passado sombrio
Advogado de Jair Bolsonaro também no caso Adélio Bispo, Wassef esteve no Palácio do Planalto nesta quarta-feira (17) durante a posse de Fábio Faria, genro de Silvio Santos, no Ministério das Comunicações.
Seu passado, no entanto, é bem menos glamuroso. Aos 26 anos, Wassef foi advogado de Valentina de Andrade, líder de uma seita que acreditava em contatos com extraterrestres e que Deus era maligno.
Acusada de participação num crime que envolvia a morte de crianças em rituais de “magia negra”, Valentina nunca foi indiciada. No meio da investigação, a prisão temporária de Wassef chegou a ser pedida sob a alegação de que ele convivia com os membros da seita, o que não chegou a ser apreciado pela Justiça.
Em depoimento à polícia no dia 14 de outubro de 1992, Wassef disse que se aproximou da seita após ler um livro chamado “Deus, a grande farsa”, escrito por Valentina.
Na ocasião, confessou ter sentido “grande curiosidade” pelo assunto e que, após a leitura, procurou-a e trocaram correspondência por três anos até se tornarem amigos. Wassef, no entanto, nega ter feito parte do grupo — embora tenha narrado à polícia os encontros dos quais participava com integrantes.
Com informações do UOL e Revista Fórum