
Exoneração de servidor, sindicância no Ministério da Saúde e muita coisa para explicar. O envolvimento do nome do líder do governo na Câmara, deputado Ricardo Barros (PP-PR), no escândalo da compra de vacinas contra a covid, deu início a uma nova série de denúncias de corrupção no governo Jair Bolsonaro (sem partido) ligadas diretamente à gestão da pandemia do coronavírus no país, que já matou mais de 516 mil pessoas.
Indicado por Barros ao cargo de diretor de logística do Ministério da Saúde, Roberto Ferreira Dias foi acusado de cobrar U$ 1 dólar de propina por cada uma das 400 milhões de doses da vacina da AstraZeneca. O que daria cerca de R$ 2 bilhões que seriam desviados diretamente dos cofres públicos para os bolsos dos envolvidos no esquema.
Ele também seria o responsável por pressionar outro servidor da Saúde, Luis Ricardo Miranda, irmão do deputado Luis Miranda (DEM-DF), a aprovar rapidamente o contrato para a compra das vacinas da Covaxin, do laboratório indiano Bharat Biotech. O caso foi denunciado pelos irmãos Miranda na última semana e levou de vez o nome de Bolsonaro para as investigações da CPI da Pandemia, no Senado.
Sindicância e exoneração na Saúde
Após vir à tona que o governo Bolsonaro pediu propina de US$ 1 por dose de vacina anti-covid, Roberto Ferreira Dias foi exonerado do cargo de diretor de Logística da Saúde nesta quarta-feira (30). Ele foi acusado de cobrar propina por Luiz Paulo Dominguetti Pereira, representante da empresa Davati Medical Supply . Dominguetti se diz representante da AstraZeneca no Brasil, mas o laboratório nega.
Paralelamente, o ministro da pasta, Marcelo Queiroga, disse que mandou abrir sindicância para apurar as denúncias.
O representante relatou ao jornal Folha de S. Paulo que o diretor de Logística do Ministério da Saúde teria condicionado a celebração do contrato ao pagamento da propina no dia 25 de fevereiro. Essa seria a condição para a empresa fechar a venda dos imunizantes da AstraZeneca com o Ministério da Saúde.
A empresa Davati buscou a pasta para negociar 400 milhões de doses da vacina da AstraZeneca com uma proposta feita de US$ 3,5 por cada. Depois disso, o valor subiu passou a US$ 15,5 por dose do imunizante.
“O caminho do que aconteceu nesses bastidores com o Roberto Dias foi uma coisa muito tenebrosa, muito asquerosa.”
Luiz Paulo Dominguetti
Em nota, porém, a AstraZeneca afirmou que não tem intermediário no Brasil.
Servidores da Saúde pediram propina
O empresário afirma que além do ex-diretor de Logística da Saúde, participaram da reunião em que foi cobrada propina em troca de contrato com a pasta o tenente-coronel do Exército Marcelo Blanco, que foi assessor no departamento de Logística na Dias. O militar e o ex-diretor foram convocados para depor à CPI da Pandemia, no Senado.
Superpedido de impeachment
Nesta quarta, a oposição apresenta o superpedido de impeachment de Bolsonaro. Na avaliação dos parlamentares, há motivos de sobra para que o impedimento do chefe do Executivo saia da gaveta do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), bolsonarista e integrante do Centrão.
O líder da Oposição, deputado Alessandro Molon (PSB-RJ), afirma que o “patriotismo” de Bolsonaro rifou a vida da população por U$ 1.
Já o líder da Minoria, Marcelo Freixo (PSB-RJ), disse que a resposta a Bolsonaro é impeachment.
O deputado Elias Vaz (PSB-GO) cobra investigação.
Reincidente em irregularidades na pandemia
O agora ex-diretor foi indicado por Bolsonaro para a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), em outubro do ano passado. Na época, a nomeação só não foi adiante por que denúncias de corrupção na compra de 10 milhões de kits de materiais utilizados em testes de Covid-19.
Notícia divulgada à época pelo jornal Estado de S. Paulo aponta que Dias assinou um contrato de R$ 133,2 milhões do Ministério da Saúde com a empresa Life Technologies Brasil Comércio e Indústria de Produtos para Biotecnologia Ltda, em 21 de agosto de 2020.
A suspeita de irregularidade no contrato foi informada ao Tribunal de Contas da União (TCU) pela Diretoria de Integridade do próprio Ministério da Saúde. Bolsonaro, então recuou na nomeação de Dias para a Anvisa. Mas o servidor seguiu no cargo que ocupava na Saúde até esta quarta, após a denúncia da cobrança de propina sobre a vacina da AstraZeneca.
O ex-diretor da Saúde também foi acusado pelos irmãos Miranda de cobrar rapidez fora do normal no contrato todo irregular e superfaturado em 1.000% para a compra da vacina indiana Covaxin.
Apadrinhado de longa data
As informações sobre a ligação do agora ex-diretor de logística do Ministério da Saúde, Roberto Ferreira Dias, com o líder do governo trazem fortes indícios de uma atuação conjunta que vem de longa data. Foi Barros, ex-ministro da Saúde de Michel Temer (MDB), quem indicou Dias para a pasta.
Embora a nomeação tenha ocorrido quando Luiz Henrique Mandetta era ministro e o líder do governo negar a indicação, Roberto Ferreira Dias trabalhou no governo do Paraná, em 2018, quando Cida Barros (PP), que é casada com o líder, foi governadora, de acordo com o Brasil 247.
Com informações da Revista Fórum, Brasil 247, Metrópoles, Folha de S. Paulo, Estadão, Uol, G1