
Criada em 2003, a Lei 10.693 garante o ensino da temática história e cultura afro-brasileira nas escolas de todo o país e é também conhecida por educação afrocentrada. Pensando em sua importância as professoras baianas do ensino infantil Caroline Adesewa e Nini Kemba criaram projetos que têm como objetivo apresentar para crianças negras e não negras novas visões de mundo baseadas sobretudo na ancestralidade. A reportagem é do A Tarde.
O Afroinfância nasceu no Instagram, com postagens em que Caroline Adesewa compartilhava o cotidiano de suas práticas em sala de aula, em que as narrativas da literatura africana ganhavam mais espaço. “Hoje, já temos 17 anos de implantação dessa lei, infelizmente dentro das escolas ela ainda é vista de forma pontual, como um apêndice dentro dos currículos”, conta Caroline.
“Eu estava bem insatisfeita com algumas coisas que eu via dentro da escola, algumas relacionadas à educação, principalmente a exclusão da participação africana em relação à contribuição científica e tecnológica no mundo, e eu queria que fosse diferente”, conta Caroline, que em 2017 criou o projeto Afroinfância.
O Erê projeto de NiniKemba, tem o mesmo princípio de educação afrocentrada, e foi criado para ajudar outros educadores a desenvolverem práticas de educação afrocentrada.
A professora baseia à sua maneira de contar histórias na forma que os Djelis, tradicionais contadores de histórias do Mali, passavam as tradições dos seus povos através da oralidade. “Sou uma contadora de histórias, mas não sou contadora de qualquer história, sou contadora de histórias pretas. Então, eu estudo a oralidade africana”, destaca NiniKemba.
Educação afrocentrada
Diferentemente do que muitos podem supor, a educação afrocentrada não pretende colocar as vivências africanas acima das outras, conforme explica a professora doutora Maria Anória Oliveira:
“Em síntese, uma educação afrocentrada não visa à hierarquização do conhecimento, como aprendemos através das Diretrizes Curriculares Nacionais para Educação das Relações Étnico-raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-brasileira e Africana (2004). Visa à equidade, à inclusão de legados socioculturais, históricos e suas epistemologias distintas que remetem às matrizes africanas”.
E, de acordo com as mesmas diretrizes, Anória afirma que “essa pedagogia tem o objetivo de fortalecer entre os negros e despertar entre os brancos a consciência negra”.
Além disso, as professoras acreditam que essas práticas têm o poder de mudar a forma como a criança negra se enxerga, fugindo do debate que, por vezes, se encontra restrito ao racismo.
“Para além de se falar sobre a problematização do racismo, nós devemos falar sobre a nossa história, falar sobre a nossa cultura, identidade e potencialidades, principalmente com as nossas crianças, para que a nossa história não seja reduzida a um ponto específico, que foi o embargo histórico e social que foi a escravidão”, explica Caroline.
Com informações do A Tarde