
Em entrevista à BBC News Mundo, serviço em espanhol da BBC, Edward Watts, professor de História na Universidade da Califórnia, em San Diego, e autor de Mortal Republic: How Rome Fell Into Tyranny (“República Mortal: Como Roma Caiu na Tirania”, em tradução livre), afirma que a antiga República Romana e seu colapso oferecem várias lições para os EUA hoje.
“Roma oferece um ponto de referência muito interessante para os Estados Unidos, em parte porque mostra o perigo de uma dinâmica política disfuncional. O que mais me preocupa é o surgimento de uma cultura de ameaça e, em certa medida, inclusive de violência política no período prévio e, até certo ponto, subsequente às eleições.”
A situação econômica do país também está em ruínas. Dados de novembro do Censo dos EUA indicam que 26 milhões de adultos afirmam não ter tido alimento suficiente pelo menos uma vez na semana anterior à pesquisa — contra 19,5 milhões que viviam esse tipo de situação até março, no período pré-pandemia.
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Mas segundo a Feeding America, maior organização de combate à fome dos EUA, com 200 bancos de alimentos espalhados por todo o país, esse número pode ser ainda maior: 54 milhões de pessoas, entre adultos e crianças, ou um em cada seis habitantes do país estariam diante da angústia cotidiana de talvez não ter o que comer.
Para Julia Wolfson, professora de políticas de saúde da Universidade de Michigan e especialista em fome, esses dados são comparáveis apenas com o que os EUA enfrentaram durante a Grande Depressão, de 1929.
“Em 2019, a insegurança alimentar estava em baixa (10,5%) em comparação com os últimos anos. E então a pandemia chegou, com a crise econômica, empresas fechando, pessoas perdendo seus empregos e crianças não podendo ir à escola. E todas essas coisas conduziram a níveis realmente críticos de insegurança alimentar, diferente de tudo que vimos em décadas anteriores, mesmo durante a grande recessão (de 2008/2009) quando a insegurança alimentar estava em cerca de 14%, 15%. Agora, dependendo da pesquisa, as estimativas de abril chegam a 38% de insegurança alimentar nos Estados Unidos”, afirma Wolfson.
A situação crítica do país em meio à polaridade política representa riscos para a democracia, segundo Watts. “Acho que há um perigo real de que, se os Estados Unidos não abraçarem o Estado de Direito e os costumes que tornaram a república forte, a república vai se degenerar”, afirmou.
“Se caminharmos para uma situação nos Estados Unidos em que a violência política seja algo comum, correremos o risco de a população apelar para um indivíduo poderoso o suficiente para detê-la. Isso é algo que me preocupa. Não acho que seja iminente, mas o que Roma mostra é uma progressão que começa com essa violência política.”
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