
Eleito presidente da Câmara dos Deputados com o apoio de Jair Bolsonaro (sem partido), Arthur Lira (PP-AL) iniciou seu mandato na noite desta segunda-feira (1º) dando o tom das ações que deverá adotar nos próximos dois anos. Em seu seu primeiro ato, logo após o anúncio da vitória, excluiu praticamente todos os adversários de cargos da Mesa Diretora com o intuito de trocá-los por aliados. A reação foi imediata entre socialistas e demais congressistas que integram a oposição.
“Arthur Lira mudou as regras depois do jogo jogado. O colégio de líderes referendou os blocos parlamentares, inclusive o de apoio a Baleia Rossi, e as eleições aconteceram seguindo a proporcionalidade. Parte da eleição foi anulada depois dos eleitores depositarem o voto na urna”, narrou Camilo Capiberibe (PSB-AP), citando as estratégias do aliado de Bolsonaro.
‘Tentando esmagar quem diverge’
Depois de divulgar nota em que reitera, junto a outras lideranças partidárias, o repúdio sobre o ato, o líder do PSB na Câmara, Alessandro Molon (RJ) declarou que o PSB vai se manter em luta contra a ofensiva de Lira.
“Estamos nos mobilizando, o PSB e vários partidos, para acionar o STF contra a decisão autoritária de Arthur Lira em seu 1º ato como presidente da Câmara. É inadmissível que Lira só reconheça a parte que lhe interessa na eleição, tentando esmagar quem diverge dele. Vamos à luta!”, escreveu Molon, em seu perfil no Twitter.
PSB segue com coerência
Presidente da legenda, Carlos Siqueira, também utilizou as redes sociais para reafirmar a defesa socialista. “GANHAR PERDENDO | O PSB esteve onde devia estar, na eleição para a Presidência da Câmara: na oposição ao governo e pelo Impeachment de Bolsonaro urgente. Continuamos a escrever nossa história partidária com a coerência de sempre”, disse o porta-voz da sigla.
‘Manobra truculenta’
Representante do PSB no Maranhão, o deputado Bira do Pindaré foi taxativo ao comentar a decisão de Lira. “Nao aceitaremos essa manobra truculenta. O risco que corre o pau, corre o machado”.
‘Cofres abertos’ para eleger comando da Câmara
A deputada Lídice da Mata, relatora da CPMI das Fake News, lamentou o contexto em que a vitória de Lira esteve inserida. “Venceram a falta de compromisso com a democracia e com o parlamento brasileiro. O governo abriu os cofres para eleger seu candidato e o povo brasileiro terá no comando da Câmara dos Depurados um presidente que não o representa”, comentou.
‘Desrespeito’
Já o deputado federal Elias Vaz (PSB-GO) chamou de “absurda e autoritária” a operação encabeçada pelo candidato de Jair Bolsonaro. “O primeiro ato do presidente bolsonarista da Câmara, Arthur Lira, de anular a eleição do restante da Mesa Diretora é absurdo e autoritário. É um desrespeito à proporcionalidade dos partidos e à democracia e mostra que ele quer seguir os passos de seu mentor, Eduardo Cunha”.
‘Primor de autoritarismo ilegal’
Ex-líder do PSB na Câmara, Tadeu Alencar (PE) foi outro socialista a deixar claro que o ato não passará sem resposta. “Artur Lira, eleito, faz discurso defendendo o respeito ao conjunto da casa. Mas incontinenti pratica ato de violência, um primor de autoritarismo ilegal e antidemocrático. Leu o discurso e o jogou no lixo. Quer guerra e vai tê-la!”, afirmou o deputado.
‘Se apequenou’
Lideranças de outros partidos também condenaram o ataque rápido do novo presidente.
“Arthur Lira teve vitória maiúscula, mas se apequenou ao reconhecer só a eleição dele e cancelar a dos demais cargos na mesa, desconhecendo o direito da outra parte, uma representação expressiva da Casa. Ou sentamos e resolvemos pela política ou o presidente não terá sossego”, declarou a deputada Perpétua Almeida (PCdoB-AC), líder do partido na Câmara.
‘Não passarão!’
Ex-ministro da Saúde, Alexandre Padilha (PT-SP) afirmou que a ação foi mais um golpe liderado pelo atual governo. “Fechado com Bolsonaro, sua primeira ação como presidente da Câmara foi um golpe que tirou toda a oposição de secretarias. Lira não só quer barrar um pedido de impeachment, mas também diminuir as chances de combatermos o bolsonarismo dentro do Congresso. Reagiremos. Não passarão!”, assegurou.
Bolsonaro e o controle da Casa
A bancada do PSOL na Câmara também divulgou nota, na qual “repudia a atitude antidemocrática e autoritária do deputado Arthur Lira na noite de ontem, após a eleição da presidência da Câmara, ao anular o bloco opositor com o único objetivo de controlar todos os níveis de decisão da Casa. (1º)”.
Entenda o ato de Lira
Além do presidente, a Mesa Diretora da Câmara, considerada o centro do poder político e administrativo da Casa, é formada por outros dez cargos: 1ª e 2ª vice-presidência, 1º, 2º, 3º e 4º secretário, além de mais quatro suplentes. O colegiado é responsável por todas as decisões administrativas da Casa e também por algumas políticas, como o encaminhamento de representações contra deputados.
Entre os principais afetados pela decisão de Lira estão o PT, que deixaria de ocupar a 1ª secretaria e passaria para a 4ª, e o PDT e a Rede, que perderiam suas vagas na mesa diretora justamente para partidos do bloco do novo presidente.
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Os deputados que apoiaram o candidato derrotado Baleia Rossi (MDB-SP) articulam uma solução pacífica para a decisão de Lira, mas recorreram também à judicialização do caso. O PSB afirmou que levará o caso ao Supremo Tribunal Federal (STF). A nova eleição está marcada para as 18 horas desta terça-feira (2), mas o adiamento também é uma possibilidade.
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