
Em Belo Horizonte, a professora Duda Salabert (PDT) se tornou a primeira trans eleita para a Câmara de Vereadores e a pessoa mais bem votada do Legislativo da capital mineira. No entanto, mesmo com os futuros compromissos, Duda pretende aliar política e aulas.
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“Posso estar na política, mas sou professora. Não vou deixar nunca de dar aula”, afirmou à Folha de S. Paulo. “Quando a cidade escolhe uma professora para o centro da política municipal, mostra desejo de políticas públicas de melhoria para a educação”, ressalta.
Em 2018, Duda concorreu ao Senado em Minas Gerais pelo PSOL e conseguiu 351.874 votos. A mudança de partido em 2019 ocorreu após a expulsão de outra mulher trans do partido, a candidata a vereadora no Rio de Janeiro em 2016, Indianara Siqueira.
“Nós já somos expulsas da escola, da sociedade, do mercado formal de trabalho, eu não posso ficar num partido que expulsa uma travesti”, diz ela. “Assim como o PSOL cobra autocrítica do PT, eu cobro autocrítica do PSOL.”
Ao sair do PSOL, veio o convite de Ciro Gomes, candidato à Presidência pelo PDT em 2018, para entrar em seu partido. O apoio do pedetista também rendeu uma aproximação com o prefeito reeleito Alexandre Kalil (PSD), que apoiou Ciro em 2018. Segundo Duda, Kalil ligou para parabenizá-la no domingo (15) e disse que apoiou sua candidatura desde o início.
Transfobia
Durante a campanha, oponentes de Duda usaram um vídeo de Kalil na parada LGBT de 2019 para ataques transfóbicos. No vídeo, o prefeito diz para as pessoas falarem “eu te amo” para quem está ao lado e “fod*-se” aos que pensavam o contrário.
O vereador mais votado, Nikolas Ferreira (PRTB), que teve apoio do presidente Jair Bolsonaro, disse: “Ainda irei chamá-la de “ele”. Ele é homem”. Na mesma linha, Bruno Engler (PRTB), que concorria a prefeitura, compartilhou a reportagem e comentou: “Absurdo!!! Chamei um homem de homem! O choro começou”.
Sobre os ataques, Duda diz que não quer fazer um mandato pautado em temas de ordem moral, mas sim em medidas estruturais.
“Parabenizo o segundo colocado, acho importante ter na Câmara uma multiplicidade de pensamentos e perspectivas, porque a democracia se constrói com várias formas de pensar o mundo. Ele não poderá me tratar no masculino, porque transfobia é crime inafiançável”, afirma ela.
Meio ambiente e direitos LGBTs
Entre as pautas que a futura vereadora pretende levar à Câmara estão moradia, geração de renda e renda básica, educação e questões ambientais. Duda é casada com a ambientalista e bióloga Raisa Novaes, com quem teve a filha Sol.
A parlamentar ressalta ainda que irá cumprir uma das promessas de campanha, de plantar uma árvore para cada voto recebido a partir do primeiro dia de mandato. Segundo ela, a primeira árvore será um ipê na própria Câmara. Duda teve 37.613 votos válidos.
Sobre os direitos LGBTs, a vereadora afirma que um dos seus focos é reduzir o número de pessoas trans em situação de rua: “A população travesti em situação de rua é um número alto, então, combater o déficit habitacional é uma política para as pessoas LGBT.”
“Melhorar os postos de saúde é uma política para as pessoas LGBT, porque é a população mais excluída do acesso à saúde pública”, avalia ela.
Com informações da Folha de S. Paulo