
A escalada alarmante no número de contaminados e óbitos pela Covid-19 no Brasil não colapsou apenas os sistemas hospitalares estaduais, afetou também diversos setores relacionados à saúde da população. O presidente da Associação de Empresas e Diretores do Setor Funerário (Abredif), Lourival Panhozzi, declarou que acionou as fabricantes de urnas de todo o país e pediu às principais empresas que trabalhem com sua capacidade máxima para evitar a falta de caixões para os sepultamentos.
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Segundo ele, o país tem um estoque de cerca de 100 mil urnas funerárias, mas serão necessárias outras cerca de 400 mil para absorver a estimativa de mortes crescente prevista para os próximos meses. Na última quinta-feira (25), o Brasil superou a sombria e mórbida marca de 303 mil mortos pelo coronavírus.
De acordo com o jornal O Globo, Panhozzi encaminhou ao governo de São Paulo uma requisição para que o funcionamento das fábricas de urnas funerárias sejam consideradas atividade essencial. De acordo com a Abredif, o estado é responsável pela produção de 50 a 60% das urnas funerárias usadas no país. A entidade também enviou uma recomendação às funerárias para que suspendam as férias de seus funcionários por 60 dias.
“Com esse aumento na produção, vamos conseguir adequar à necessidade. Só que a logística é complicada, porque estamos falando de um país continental e 60% da produção está concentrada em São Paulo. Precisamos de planejamento com urgência”, alertou Panhozzi.
Colapso do setor funerário
Ao ser questionado sobre a possibilidade do país enfrentar um colapso funerário com escassez de caixões, o presidente da Abredif alega que “seria prepotência” dizer que não existe o risco.
“Na situação em que estamos, existe risco de tudo. Acredito que isso não vá acontecer no Brasil todo, mas pode acontecer pontualmente. Estamos falando com as fabricantes para tentar dimensionar isso”, disse.
Um portal será lançado nesta semana pela Abredif para que todos os cemitérios possam se cadastrar e informar o número de vagas e a capacidade de sepultamento por hora. A medida foi adotada para evitar que um colapso funerário aconteça, diante do aumento de mortes pela Covid-19, que já ultrapassa mais de 3 mil óbitos por dia no país, segundo dados do consórcio de veículos de imprensa.
‘Estão descartando corpos, e não sepultando pessoas’
Com a pandemia do coronavírus, grande parte do Brasil suspendeu os velórios para evitar que haja risco de contaminação no momento durante os sepultamentos. Em suas diretrizes oficiais, a Organização Mundial da Saúde (OMS) aconselhou evitar velórios e missas — quando houver, que sejam curtos, com número reduzido de pessoas, sem toques, abraços e aproximações.
“Não existe nenhum motivo para que o corpo seja sepultado correndo. O que estamos fazendo hoje é indigno, com enterros em poucos minutos. Estão descartando corpos e não sepultando pessoas. Esses corpos merecem respeito. Podem ir, sim, para funerária, ficar numa sala lá e aguardar o dia seguinte para o momento de sepultamento”, alegou Panhozzi em entrevista ao O Globo.
De acordo com o representante do setor funerário, os corpos lacrados e em uma urna não tem capacidade de contaminar e que nenhum agente foi contaminado em razão de manipular o corpo, mas por outras razões.
“Nos EUA, por exemplo, a operação funerária leva dias. Lá, as funerárias não têm estoque de urna. Elas trabalham com showroom, a família escolhe o modelo e a funerária entra em contato com a fabricante, que faz a entrega no dia seguinte, e o funeral acontece no terceiro dia. Isso aparece muito nos filmes americanos. A operação no Brasil é diferente. Em 24 horas, fazemos tudo: ocorre o óbito, depois a liberação do corpo, o velório e o sepultamento.”
Com informações do jornal O Globo