
As imagens de um policial militar pisando no pescoço de uma mulher negra de 51 anos, exibidas no Fantástico, programa da TV Globo, causaram repercussão e trouxeram à tona mais um vez o debate sobre a violência policial nas periferias.
O caso apresentado em rede nacional no último domingo (12) aconteceu no dia 30 de maio, no meio da tarde, em Parelheiros, bairro pobre do extremo Sul da cidade de São Paulo. O policial que aparece nas imagens é o soldado da Polícia Militar, João Paulo Servato, de 34 anos, da 2ª companhia do 50º Batalhão, no Grajaú, também na região Sul.
Servato é branco, aparenta ter entre 1,75m e 1,80m de altura e aproximadamente 90 quilos. Enquanto a mulher está no chão, o policial pisa no pescoço e ergue a outra perna para aumentar o peso sobre a vítima.
Há oito anos na corporação, a aprovação de Servato no concurso da polícia saiu em 2012. Entre os 1.618 candidatos que passaram, Servato, que tem o 2º grau completo, ficou em 889° lugar com nota 0,75 na redação e 72 na soma total.
No dia em que agrediu violentamente a comerciante negra, Servato estava na viatura M-50211 com outros PMs e foram atender uma reclamação de bar aberto durante a pandemia da Covid-19.
Violência policial
O pesquisador do Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), Dennis Pacheco, destaca que nenhum policial é treinado para usar práticas de tortura nem força letal contra cidadãos desarmados e rendidos e que casos de abuso policial são resultado de falas populistas do governador do estado, João Doria (PSDB).
“Paralelamente, a polícia de São Paulo é referência em termos de treinamento no país. Também por isso, critica-se tanto o plano do governador de retreinar todo o quadro. O que existe é uma contradição entre o legalismo da academia e a subcultura de uso excessivo da força praticado nas ruas, que é estimulada por falas populistas do governador e depois legalizada pelo judiciário que inocenta policiais que usam a força excessiva”, diz Pacheco.
O ex-tenente-coronel da PM, Adilson Paes de Souza, aposentado e com 36 anos de experiência na corporação, acredita que as imagens do policial tirando o pé do solo para aumentar o peso da pressão sobre o pescoço da mulher já imobilizada caracteriza uma falha no treinamento.
“Todas as ações de um policial estão previstas em normas, regulamentos e procedimentos. O que ele faz não é o comportamento esperado de um policial. Indica que eles não estão sob treinamento constante, como deveria ser. Há uma falha aí”, considera Souza.
O ex-tenente da PM é autor do livro “O Guardião da Cidade: Reflexões sobre casos de violência praticados por policiais militares” e da dissertação de mestrado “A educação em direitos humanos na Polícia Militar”.
Com informações do jornal O Globo.
Sou soldado da PMMG, já tive que pisar para imobilizar elementos que resistiram à prisão. Em alguns casos, o suspeito pode oferecer resistência e acabar ferindo a si mesmo, o policial e até terceiros. Por isso acabamos tendo que tomar atitudes brutas, como pisar para imobilizar, para evitar vítimas. Mas não é nosso dever punir, e sim de levar os criminosos à Justiça. Mas concordo que esse agente abusou da autoridade e excedeu os limites.