
O presidente do Peru, Pedro Castillo, enfrenta uma grande crise em seu governo. Empossado há pouco mais de oito meses, o mandatário conseguiu se livrar de dois pedidos de cassação de eu mandato. Mas está longe de alguma estabilidade para governar.
Na tentativa de conter a segunda semana da onda de protestos e o bloqueio de vias que culminou com a morte de quatro pessoas, Castilho decretou toque de recolher, o chamado decreto de imobilidade, na capital, Lima, e na cidade vizinha de Callao. O que irritou ainda mais a população.
Foi a primeira vez que o toque de recolher foi imposto desde o governo do ditador Alberto Fujimori. A situação ficou tão complicada, que Castilho revogou o decreto sete horas antes do fim do prazo, e que havia sido imposto no fim da noite de segunda-feira (4). O mandatário peruano alegou que proibiu a circulação de pessoas por conta de rumores sobre mais manifestações e saques.
Nem mesmo parlamentares aliados, como a deputada Sigrid Bazán, da coalizão Juntos pelo Peru, classificou a medida como “inaceitável”. A presidente do Congresso, María del Carmen Alva, afirmou que Castillo não pode impedir o funcionamento do Legislativo. A Defensoria do Povo afirmou que o toque de recolher é inconstitucional.
O Peru já sofria com a alta da inflação, que atingiu os maiores patamares em 26 anos, antes do início da guerra entre Rússia e Ucrânia.
Na semana passada, a situação se agravou com o bloqueio de algumas das principais rodovias do país por fazendeiros e caminhoneiros. O que provocou aumento repentino dos preços.
Na tentativa de segurar a alta, o governo de Castillo propôs acabar com a maioria dos impostos sobre os combustíveis. Somado, disse que aumentaria o salário mínimo em 10%.
Operação atinge pessoas próximas a Castilho
No último dia 29, pessoas ligadas a Castilho foram alvo de uma operação do Ministério Público do país e da polícia anticorrupção.
Três pessoas foram presas e outras ficaram sob a mira da Justiça do país, como dois sobrinhos de Castillo.
A operação foi deflagrada horas da sessão parlamentar que derrubou a segunda tentativa de retirar o atual mandatário do cargo, no último dia 28.
Os empresários Zamir Villaverde, que teve contratos com Castillo, e Víctor Valdivia foram presos, além do ex-secretário George Passapera, supostamente ligado à construtora Termirex.
A construtora teria sido contratada irregularmente para construir uma ponte na região norte da selva peruana e que deu origem à operação deste terça. O contrato foi anulado.
As buscas tiveram como alvo endereços do ex-secretário Geral da Presidência, Bruno Pacheco, bem como de outras sete pessoas sob investigação pelo contrato, entre elas Fray Vásquez Castillo e Gian Marco Castillo, sobrinhos do presidente.
Pacheco e os sobrinhos de Castillo foram impedidos de deixar o país.
Eles foram incluídos no processo por usarem carros e apartamentos cedidos pelos empresários que se beneficiaram do contrato sob investigação.
Castillo acusa setores ‘políticos e da mídia’
Em fevereiro, Castillo afirmou que as tentativas de tirá-lo do poder são uma tentativa de golpe de parte de setores políticos e da mídia
“Esta nova campanha midiática visa promover o impeachment presidencial e expõe as atitudes antidemocráticas de alguns setores que buscam desestabilizar o país”, disse o mandatário na ocasião.
Castillo também rejeitou a hipótese de que sua equipe de confiança teria “interferência” nas tomadas de decisões no Peru, afirmando que, desde o início de sua gestão, o governo tem “respeitado as decisões do ministros de Estado”.
No último dia 14, o Congresso do Peru aprovou a admissão da moção de vacância por incapacidade moral e física – similar a um processo de impeachment – contra Castillo.
O político chegou à presidência em julho de 2021, após um turbulento processo eleitoral em que ele conseguiu superar Keiko Fujimori, filha do ex-ditador Alberto Fujimori. Desde então, seu governo tem sido marcado pela instabilidade e por embates com o Congresso.
Com informações do Estadão, Prensa Latina e IG