
O ministro interino da Saúde, general Eduardo Pazuello, indicou uma amiga próxima sem qualquer experiência em saúde ou gestão pública como representante da pasta em Pernambuco.
Em meio à pandemia da Covid-19, Paula Amorim teve a nomeação para o cargo comissionado, no qual ganha cerca de R$ 10 mil, efetivada no dia 15 de junho.
Segundo a assessoria de Pazuello, ele e ela são amigos “há cerca de 30 anos, apresentados por conhecidos em comum”, e a nomeação se baseou na “relação de confiança e amizade” entre ambos.
“Capacidade de articulação”
O ministério afirma que experiência na área de saúde não é um pré-requisito – Pazuello, afinal, é um oficial de intendência do Exército. Paula foi escolhida, diz a assessoria, por sua capacidade de articulação no estado, embora a pasta não tenha informado quais exatamente seriam suas credenciais no campo. Ela é, segundo informou ao assumir o cargo, administradora de empresas.
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Entre alguns dos cerca de cem servidores do Núcleo Estadual do Ministério da Saúde em Pernambuco, a chegada da nova chefe gerou contrariedade.
Falta de familiaridade
Segundo relatos recolhidos pelo jornal Folha de S. Paulo com pessoas que pediram anonimato, a falta de familiaridade de Paula com os assuntos de saúde pública está gerando entraves decisórios.
No dia 16 de julho, a Advocacia-Geral da União (AGU) procurou o órgão para queixar-se de não ter recebido resposta sobre um ofício enviado em 9 de junho para a área de recursos humanos, pouco antes de Paula assumir.
A nova coordenadora afirmou, por telefone, que não estava trabalhando antes de ser chamada para o cargo. Ela é econômica sobre sua suposta experiência pregressa. Afirma ter sido no passado “assessora de um governador”, mas não disse qual ou quando.
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“Eu fiquei uns 40 dias no ministério, me inteirando”, disse ela, que negou ter havido problemas desde que assumiu. “Não chegou até mim.”
No ministério, a avaliação, por ora, é a mesma. Eventuais atrasos ou queixas por ora são debitados do momento de transição na coordenação.
O núcleo é responsável pela coordenação de esforços com secretarias municipais e estadual do setor, algo vital no combate à pandemia da Covid-19.
91 mil casos no estado
Nesta quarta-feira (29), o estado registrou mais 1.858 novos casos da Covid-19 e 63 óbitos provocados por essa doença, de acordo com informações da Secretaria de Saúde. Com isso, aumentou para 91.536 o número de pessoas infectadas no estado e subiu para 6.484 o total de óbitos, desde que os registros começaram a ser contabilizados, em março.
Ela afirma que os coordenadores estaduais são considerados pelo ministro “seus olhos e braços” nas ações de ponta. A ordem é para que “interagíssemos mais com as prefeituras”.
Paula substituiu a enfermeira Kamila Correia, que estava havia quase três anos no cargo e não quis conceder entrevista.
Pazuello e as mudanças regionais
Pazuello começou a mexer nos cargos nos estados apesar de ser interino – ele assumiu em 15 de junho, após a queda do breve Nelson Teich, que passou apenas 28 dias na cadeira. Outras coordenações regionais, com a do Rio, também têm novos chefes.
Na pasta, o ministro ocupou mais de duas dezenas de postos com militares da ativa e da reserva, o que gerou contestação na área da saúde.
O general tem sofrido pressões diversas, a começar por seus chefes nominais, a cúpula do serviço ativo do Exército. Ainda assim, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) afirma que ele permanecerá interinamente por “um bom tempo” no posto.
A adoção de diretrizes polêmicas do governo rende diversas críticas ao general, que até por ser da ativa, gera uma identificação automática entre a administração e as Forças Armadas.
Entre elas, além da militarização do ministério, a tentativa de mudar critérios de divulgação de dados da pandemia e a promoção da hidroxicloroquina, remédio sem comprovação clínica comprovada no tratamento da Covid-19.
Gestão “genocida”
Devido à sua gestão, o Exército foi acusado pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Gilmar Mendes, de associar-se a “um genocídio”, expressão que gerou uma reação institucional, com representação do Ministério da Defesa contra o magistrado na Procuradoria-Geral da República.
No fim desta quarta-feira (29), o Brasil superou as marcas de 90 mil mortes e 2,5 milhões de casos de coronavírus, segundo o consórcio de veículos de imprensa.
Com informações da Folha de S. Paulo