Em maio, a equipe de Pazuello chegou a afirmar que “todas as pesquisas” indicam que o distanciamento é “favorável” até mesmo para o retorno da economia mais rápido

No fim de maio, já sob a gestão interina do general Eduardo Pazuello, técnicos do Ministério da Saúde que integram um comitê sobre o novo coronavírus alertaram que, sem medidas de isolamento social, os impactos da doença serão sentidos por até dois anos.
A informação foi obtida pelo Estadão e estava presente na ata de reunião do Comitê de Operações de Emergência (COE) do ministério. Na época, a equipe de Pazuello chegou a afirmar que “todas as pesquisas” levavam a crer que o distanciamento era “favorável” até mesmo para o retorno da economia mais rápido.
“Sem intervenção, esgotamos UTIS, os picos vão aumentar descontroladamente, levando insegurança à população que vai se recolher mesmo com tudo funcionando, o que geraria um desgaste maior ou igual ao isolamento na economia”, afirmam técnicos da pasta.
No mesmo documento, o comitê ainda discute a criação de um aplicativo para monitorar pacientes da covid-19 e até dez pessoas que tiveram contato com a pessoa infectada, o que nunca saiu do papel. Como encaminhamento da reunião, outra ideia que não prosperou: criar protocolo que “atenda nossas necessidades específicas”.
Corrente de negacionismo
O presidente Jair Bolsonaro entrou em conflito com dois ministros da Saúde, Mandetta e Teich, durante a pandemia por divergências, entre outros pontos, sobre a adoção de quarentenas. Após a demissão dos dois, o ministério foi interinamente para Pazuello.
Sob a gestão do militar, técnicos do ministério deixaram de ressaltar o benefício do distanciamento social. Para Paulo Lotufo, professor de epidemiologia da USP, criou-se uma corrente de negacionismo sobre a pandemia no Brasil.
“Tenho a impressão de que a coisa no Ministério da Saúde é totalmente no estilo militar. Esse tipo de conselho (o COE), não dão a mínima importância.”, afirmou o professor.
O COE serve para “planejar, organizar, coordenar e controlar” a resposta à covid-19 no Brasil. Além disso, deve encaminhar ao Ministério da Saúde relatórios técnicos sobre a pandemia e ações que estão sendo tomadas.
Com informações do Estadão