
Horas depois do presidente Jair Bolsonaro conclamar apoiadores a lutarem contra a chamada “velha política”, enquanto presentes gritavam pelo fechamento do Congresso Nacional e por “intervenção militar já”, deputados do PSB fizeram um apelo à defesa da democracia.
Em manifestação na Esplanada dos Ministérios neste domingo (19), o presidente do país voltou a contrariar as orientações de isolamento e os apelos pelo fim de aglomerações preconizadas pela Organização Mundial da Saúde (OMS) para conter a pandemia do coronavírus.
Diante do público, entre diversos episódios de tosse, Bolsonaro disse que não queria mais negociar nada. “Nós não queremos negociar nada. Nós queremos é ação pelo Brasil. O que tinha de velho ficou para trás. Nós temos um novo Brasil pela frente. Todos, sem exceção, têm que ser patriotas e acreditar e fazer a sua parte para que nós possamos colocar o Brasil no lugar de destaque que ele merece. Acabou a época da patifaria. É agora o povo no poder.”
Carta dos Governadores
“Precisamos unir os brasileiros de diferentes correntes para defender a a democracia. Não dá para viver sob a ameaça constante de golpe. Precisamos salvar vidas e reerguer a economia com responsabilidade”, disse a deputada federal Lídice da Mata (BA).
A parlamentar divulgou ainda uma carta em que 20 governadores divulgam reforçam a defesa pela manutenção do regime democrático e manifestam solidariedade aos presidentes da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), alvos de ataques coordenados pelas milícias virtuais neste fim de semana.
Ex-prefeito de Curitiba, o deputado Luciano Ducci (PR) também definiu como ‘inaceitável’ pedidos de ruptura institucional e pediu basta às declarações feitas durante o ato, em Brasília. “Defender a ditadura é algo inaceitável! A democracia é uma conquista do brasileiro, todo movimento que venha a atacá-la merece o nosso repúdio. Não precisamos de um país caótico, dividido. Precisamos de responsabilidade, ter foco na saúde e no sustento dos brasileiros. Chega!”.
Falta de projeto
Para o deputado federal pelo Paraná, Aliel Machado, as manifestações no Brasil têm sido induzidas pelo presidente em razão da ausência de uma agenda nacional em prol do desenvolvimento. “Qual é o valor da democracia e da transparência? A participação de Bolsonaro num ato que pede o fechamento do Congresso e do STF mostra o seu desrespeito pelas instituições democráticas. Ele parte novamente para o extremismo irresponsável pela falta de um projeto para o país”, afirmou.
Camisa de força
Enfático, o deputado Tadeu Alencar (PE) defendeu o uso da Constituição para aplacar os constantes ataques cometidos por Bolsonaro. “O Presidente da República definitivamente não conhece limites. Ora atenta contra a saúde pública, ora contra a Democracia. Deve ser contido. E a camisa de força é a Constituição da República!”.
No comentário, postado em suas redes sociais, Alencar acrescentou uma mensagem do ministro do Supremo Tribunal Federal, Luís Roberto Barroso, em que o magistrado afirma:
“É assustador ver manifestações pela volta do regime militar, após 30 anos de democracia. Defender a Constituição e as instituições democráticas faz parte do meu papel e do meu dever. É assustador ver manifestações pela volta do regime militar, após 30 anos de democracia. Defender a Constituição e as instituições democráticas faz parte do meu papel e do meu dever. Pior do que o grito dos maus é o silêncio dos bons (Martin Luther King).”
Cortina de fumaça
Presidente do PSB, Carlos Siqueira afirmou que o preço dos desatinos do presidente será a morte de milhares e que os ataques às instituições são cortina de fumaça para a incompetência de Bolsonaro diante do cargo que ocupa.
“O projeto de Bolsonaro é atender aos interesses do mercado mesmo que o preço a pagar seja a morte de milhares de brasileiros na pandemia; e atentar contra os demais poderes e, por consequência, contra a democracia para esconder sua incompetência como Presidente da República”, disse, afirmando ainda: “Neste domingo, em Brasília, ao defender o AI-5 e o fechamento do Congresso Nacional, ideias estapafúrdias em uma democracia, Bolsonaro registra mais um capítulo da sua incapacidade de estar à altura do cargo que exerce, e volta a distribuir seu pacote de maldades contra os brasileiros”, definiu.
A opinião de Siqueira foi assentida pelo deputado Denis Bezerra (CE). “Ao participar de uma manifestação antidemocrática, o Presidente contraria as orientações da OMS e ameaça promover a ruptura institucional. Definitivamente, Bolsonaro não está à altura do cargo que ocupa!”, sentenciou.
Alianças
Já o deputado Julio Delgado (MG) afirmou que o momento é de formar alianças para reforçar a defesa democrática e de reagir aos descalabros do mandatário.
“Não fosse a possibilidade de contaminação, já, o maior problema da aglomeração desse domingo (19), vemos Bolsonaro, sem qualquer respeito pelo regime democrático, insuflar a população contra os demais poderes constituídos e engrossar o coro pela volta da ditadura militar. A situação parece chegar ao limite e o momento é de organizarmos as frentes democráticas do país para que o pior não aconteça. Já foram dados todos os sinais e fica cada vez mais claro o objetivo desse Governo, prevendo sua derrocada pelas próprias atitudes”, alertou.