
Por Marcelo Hailer
O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) usou as suas redes para espalhar uma fake news sobre as vacinas contra a covid-19 produzida por um grupo negacionista do Reino Unido.
A “tese” em questão afirma que “as pessoas totalmente imunizadas estão desenvolvendo Aids”.
“Outra coisa grave aqui, só vou dar a notícia, não vou comentar, já falei sobre isso no passado e apanhei muito. Relatórios oficiais do governo do Reino Unido sugerem que os totalmente vacinados, quem são os totalmente vacinados? Aqueles que depois da segunda dose, 15 dias depois após a primeira dose… estão desenvolvendo a Síndrome de Imunodeficiência muito mais rápido que o previsto”, disse Bolsonaro durante live.
De acordo com o G1, trata-se de uma fake news plantada pelo site negacionista Beforeitnews, que publica textos dizendo, entre outras coisas, que as vacinas contra a Covid rastreiam as pessoas.
Foi desse site que o presidente Bolsonaro pegou a “notícia” de que a imunização completa contra a Covid desenvolve Aids nas pessoas.
A Agência de Segurança de Saúde do Reino Unido declarou que “as vacinas contra a Covid-19 não causam Aids. A Aids é causada pelo HIV”.
Marcelo Freixo reage à declaração de Bolsonaro
O líder da Minoria, Marcelo Freixo (PSB- RJ), lamentou o episódio nas redes sociais. O socialista declarou que é “lamentável que essa seja a prioridade do presidente de um país com mais de 600 mil mortos, 20 milhões de famintos e 14 milhões de desempregados”.
Inconsistências no texto da mensagem falsa
Mestre em imunologia pela USP, doutora em biociências e fisiopatologia pela Universidade Estadual de Maringá e professora titular na Universidade Paulista, Letícia Sarturi aponta inconsistências no texto viral.
O autor da mensagem falsa insiste na tese de que a queda da eficácia da vacina se deve a uma queda da imunidade porque o seu sistema imune está se deteriorando pelas vacinas. “Não faz nenhum sentido”, diz Sarturi.
Ela explica: “Primeiro porque a queda da imunidade com o decorrer do tempo é natural. Isso vai acontecer, não só para vacina de covid, mas para qualquer vacina, para qualquer tipo de imunidade contra infecção. Com o decorrer do tempo, a imunidade vai ser menor, vai diminuindo. As vacinas contra a covid provocam a imunidade e a gente tem visto que os níveis de anticorpos começam a se reduzir geralmente pelo sexto mês, ou sétimo, depende muito da vacina. Porém, as células que respondem, as células de memória, elas continuam ali presentes. Então, isso é um fato importante, porque isso ainda continua garantindo uma certa proteção, uma certa imunidade, por um tempo. A gente está entrando, por exemplo, na terceira dose para idosos porque essa redução no nível de anticorpos pode comprometer, sim, a imunização dos idosos. Isso é natural. É natural que a imunidade se ative, que forme células de memória e, com o decorrer do tempo, fatores solúveis como os anticorpos, que estão diluídos no sangue, diminuam, se depurem. Então a gente espera, sim, que com o decorrer do tempo a pessoa tenha uma redução nesses fatores associados à imunidade. Porém, falar que você está perdendo, deteriorando seu sistema imune sem nenhuma prova… Ali [no texto] não se prova nada, tem porcentagens colocadas em uma tabela e não tem nenhum experimento, não tem nenhum gráfico experimental usando algum tipo de metodologia, não tem nenhum tipo de aprovação de comitê de ética ou qualquer tipo de desenho, delineamento do experimento para a gente ver como é que foi conduzido isso para se chegar, de fato, a esses dados. Parecem uns cálculos retirados aleatoriamente. Me parece uma coisa muito de opinião, muito subjetivo”.
Isso porque, de fato, tal estudo jamais foi feito.
Com informações do G1