
A Organização das Nações Unidas (ONU) no Brasil divulgou uma nota pública afirmando que o assassinato de Beto Freitas por seguranças do Carrefour em Porto Alegre “evidencia as diversas dimensões do racismo”. Declaração ocorre após o vice-presidente Hamilton Mourão negar a existência do preconceito racial no País.
A nota começa com uma manifestação de solidariedade à família da vítima e segue dizendo que “milhões de negras e negros continuam a ser vítimas de racismo, discriminação racial e intolerância, incluindo suas formas mais cruéis e violentas”. A organização também afirma que o debate sobre a eliminação do racismo é “urgente e necessário”.
No Dia da Consciência Negra, Mourão lamentou a morte de Freitas, mas atribuindo o caso apenas ao despreparo dos seguranças. O posicionamento foi reforçado pelo presidente Jair Bolsonaro neste sábado (21) durante cúpula do G20.
“O Brasil tem uma cultura diversa, única entre as nações. Somos um povo miscigenado”, afirmou Bolsonaro. “Foi a essência desse povo que conquistou a simpatia do mundo. Contudo, há quem queira destruí-la, e colocar em seu lugar o conflito, o ressentimento, o ódio e a divisão entre raças, sempre mascarados de ‘luta por igualdade’ ou ‘justiça social’. Tudo em busca de poder”, disse.
Ao final da nota, a ONU pede que as autoridades brasileiras garantam a plena e célere investigação do caso e clama por punição adequada aos responsáveis, por reparação integral a familiares da vítima e pela adoção de medidas que previnam que situações semelhantes se repitam.
Nota na íntegra
A ONU Brasil manifesta solidariedade à família de João Alberto Silveira Freitas, que foi brutalmente agredido na noite de 19 de novembro de 2020 e veio a óbito em seguida, na cidade de Porto Alegre, Rio Grande do Sul.
A violenta morte de João, às vésperas da data em que se comemora o Dia da Consciência Negra no Brasil, é um ato que evidencia as diversas dimensões do racismo e as desigualdades encontradas na estrutura social brasileira. Milhões de negras e negros continuam a ser vítimas de racismo, discriminação racial e intolerância, incluindo as suas formas mais cruéis e violentas. Dados oficiais apontam que a cada 100 homicídios no país, 75 são de pessoas negras. O debate sobre a eliminação do racismo e da discriminação racial é, portanto, urgente e necessário, envolvendo todas e todos os agentes da sociedade, inclusive o setor privado.
A proibição da discriminação racial está consagrada em todos os principais instrumentos internacionais de direitos humanos e também na legislação brasileira. A ONU Brasil insta as autoridades brasileiras a garantirem a plena e célere investigação do caso e clama por punição adequada dos responsáveis, por reparação integral a familiares da vítima e pela adoção de medidas que previnam que situações semelhantes se repitam. Convida também toda a sociedade brasileira, a partir da Campanha Vidas Negras, a participar ativamente da construção de uma sociedade igualitária e livre do racismo.
Vidas negras importam e não podem ser deixadas para trás.