
A aprovação do texto-base do projeto de autonomia do Banco Central no fim desta quarta-feira (10) pela Câmara dos Deputados provocou uma avalanche de críticas ao governo de Jair Bolsonaro (sem partido) e às prioridades do governo federal.
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O projeto, que pode aprofundar o maior mecanismo de desvio de verba pública existente hoje no país e entregar riquezas às instituições financeiras, foi incluído na lista entregue pelo mandatário aos presidente da Câmara e do Senado, Arthur Lira (PP-AL) e Rodrigo Pacheco (MDB-MG), na semana passada. Aprovado ‘a toque de caixa’ por Lira, deputados ainda precisarão analisar os destaques da proposta.
Contra as reais necessidades do Brasil
“No país que tanto precisa de auxílio emergencial para acudir milhões que passam fome, a Câmara aprova a autonomia do Banco Central, o que privilegia os mais ricos. Esse é um projeto que aumenta as desigualdades e vai contra as reais necessidades do Brasil. Em meio à pandemia, a prioridade deveria ser garantir mais dignidade para os brasileiros, com auxílio emergencial e vacina para todos e todas. Lamentável”, resumiu o deputado federal Alessandro Molon (PSB-RJ).
E em meio a 223 mil mortos pela Covid
Companheiro de partido, o deputado Aliel Machado (PSB-PR) questionou a importância do tema em meio aos 233 mil mortos já contabilizados pelo país em razão da Covid-19. “O que é prioridade para o Brasil no momento? Para o Governo, parece ser garantir a autonomia do Banco Central e proteger aqueles que já são privilegiados; os banqueiros. Enquanto isso, o país de verdade continua sofrendo sem o auxílio emergencial e com milhares de mortes”, aclarou.
Mentiras mil vezes repetidas
Já o socialista Camilo Capiberibe (PSB-AP) enumerou as condicionantes apontadas como eternas ‘salvações da loucura’ brasileira. “O tempo passa e os argumentos para o desmonte da constituição de 1988 continuam os mesmos: ‘se a PEC do teto de gastos passar a economia cresce’; ‘se a reforma trabalhista for aprovada, teremos 6 milhões de empregos; ‘se a independência do Banco Central passar’… Tudo mentira!”, apontou.
‘Não tem bolsa-banqueiro’
Por meio das redes sociais, o deputado Bira do Pindaré (PSB-MA) declarou sua rejeição à proposta. “Eu disse NÃO ao projeto de autonomia do Banco Central. Aqui nós votamos a favor do Brasil, não tem ‘bolsa-banqueiro’!”.
O velhíssimo Novo
Candidata à prefeitura de Porto Alegre nas eleições de 2020, a deputada Fernanda Melchionna (PSOL-RS) denunciou a postura do partido Novo diante do desmonte nacional. “O partido Novo é a prova de que tudo o que está ruim pode ficar muito pior. Depois de aprovada a absurda autonomia do Banco Central, agora o Novo quer que o banco seja impedido de atuar pela melhora dos índices de emprego no país. É a lógica escravocrata à serviço de Bolsonaro”, apontou.
‘Bolsonarismo personnalité’
A crítica foi seguida por Marcelo Freixo, que engrossou o coro contra a manobra da sigla. “O Novo é a prova de que tudo o que está ruim pode piorar. Eles apresentaram emenda para tentar impedir que o Banco Central, além de combater a inflação, contribua também com o estímulo ao PLENO EMPREGO, como ocorre em diversos países, como nos EUA. É o bolsonarismo personnalité”, acusou.
Projeto sem tramitação
O novo líder do PCdoB na Casa, deputado Renildo Calheiros recordou a pressa na aprovação do projeto e destacou a falta de discussão sobre a pauta. “O projeto de autonomia do Banco Central não pode ser votado em caráter de urgência, ele sequer tramitou nas comissões temáticas da Câmara de Deputados”.
Perigos atrelados
Mais cedo, o Governador do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB), havia usado seu perfil pessoal no Twitter para comentar os riscos atrelados à matéria. “Se o capital financeiro manda no Banco Central, isso é perigoso inclusive para outros setores econômicos, como indústria, comércio e agricultura. A verdadeira independência do Banco Central não está assegurada pelo projeto em análise”.
Premissas ultrapassadas
Líder da Oposição na Câmara, André Figueiredo (PDT-CE) afirmou que o texto da autonomia estava baseado “em premissas já ultrapassadas”. “Política monetária hoje é vista como integrada à fiscal. As duas precisam estar afinadas e integradas, e controladas pelo poder político!”, alertou.
Obedecendo a interesses do mercado
Em um vídeo postado nas redes sociais, o deputado Henrique Fontana (PT-RS) questionou quem pagará a conta de mais uma ação capitaneada pelo governo Bolsonaro. “Agora, a política monetária do país saiu das mãos do povo e vai obedecer aos interesses do mercado. Adivinha (sic) quem vai pagar a conta desse absurdo antidemocrático?”
Banco Central com foco na inflação
A presidente nacional do PT, deputada Gleisi Hoffmann (PR) buscou ser didática ao responder sobre as diferenças que dissociam o Brasil dos Estados Unidos, país até pouco tempo considerado referência pelo mandatário brasileiro. “Nos EUA, o Banco Central de lá é independente mas, cuida da inflação e estabilidade do sistema financeiro, com olhos para a atividade econômica e emprego. Aqui, a proposta é focada na inflação, o que, com nosso histórico, vai resultar na alta de juros toda vez que o mercado pressionar”, afirmou.