
Filho de camponeses que se tornou engenheiro, entrou para a política e sempre defensor da democracia, Leonel Brizola faria 100 anos neste sábado (22). Se estivesse, certamente, estaria lutando com afinco contra o governo de Jair Bolsonaro (PL), garantem líderes políticos.
Nascido em Carazinho, interior do Rio Grande do Sul, foi batizado como Itagiba Moura Brizola. Mudou seu primeiro nome em homenagem a Leonel Rocha, um dos mais importantes líderes da Revolução de 1923.
Com apenas 23 anos, foi um dos fundadores do Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), em 1945. No ano seguinte, ganhou sua primeira eleição e se tornou deputado estadual. Foi o início de uma longa carreira política.
Em 1950, o político se casou com Neuza Goulart, irmã do então deputado estadual João Goulart. O padrinho do casamento foi Getúlio Vargas, que naquele mesmo ano foi eleito presidente da República.
Brizola não conseguiu se eleger prefeito de Porto Alegre, em 1951. Porém, teve a maior votação até então para deputado federal, em 1954. E, na eleição seguinte, teve uma vitória que compensou a derrota de 1951. Ele foi eleito prefeito da capital gaúcha com mais votos que todos os concorrentes juntos. Reforma agrária e distribuição de renda faziam parte das bandeiras do político.
Aos 36 anos foi eleito governador do Rio Grande do Sul, época em que iniciou um projeto de construção de seis mil escolas públicas no estado.
Foi durante seu mandato de governador que Jânio Quadros renunciou à presidência, em 1961. João Goulart, o Jango, que já era mal visto por suas “ideias socialistas” estava na China, que já era comunista na época, o que não o ajudou com a elite conservadora e grupos de oposição no Brasil tentaram a todo custo impedir que Jango assumisse a presidência.
A Campanha da Legalidade, liderada por Brizola, garantiu a posse de Jango e que adiou o golpe militar em três anos.
Quando os militares derrubaram Jango e a ditadura tomou conta do país, Brizola já morava no Rio de Janeiro, onde havia sido eleito deputado federal. Ele perdeu seus direitos políticos e se exilou no Uruguai, além de Estados Unidos e Portugal.
Com a Lei da Anistia, voltou ao Brasil em 1979 – ano em que ajudou a fundar o Partido Democrático Trabalhista (PDT). Foi eleito governador do Rio, em 1982. Três anos depois, a ditadura militar finalmente chegou ao fim.
Foi no tão esperado retorno das eleições diretas que Brizola se candidatou à presidência da República, quando ficou em terceiro lugar, atrás de Fernando Collor e Lula. Disputou novamente o governo do Rio e voltou ao posto pela segunda vez.
Em 1998, disputou o cargo de vice-presidente na chapa encabeçada por Lula. Perderam Para Fernando Henrique Cardoso, reeleito para o segundo mandato.
Brizola morreu de infarto decorrentes de uma infecção, em junho de 2004, no Rio.
O que diria Brizola?
À Folha, FHC disse que conhecia pouco Brizola. No início, disse, que o político lhe parecia mais demagogo que sincero. Mas que o passar do tempo o fez mudar de opinião e que “à sua maneira, Brizola queria mesmo o ‘bem do povo’”. Também lembrou a resistência à ditadura.
“Indigna-me ver quantos contemporâneos dele hoje falam apenas sobre o que de negativo representou e o mal que fez ao país. Com um pouco de respeito ao personagem é possível criticá-lo sem desfazer o que de positivo seus ideais continham e o quanto, a seu modo, lidou com os desafios de sua época”, disse FHC.
O ex-governador e ex-ministro Tarso Genro (PT) afirma que Brizola foi um “um homem que demonstrou com a sua vida e a sua capacidade de luta que o patriotismo não é somente o refúgio dos canalhas”.
Garante que Brizola não seria um negacionista e estaria na ampla da defesa da vacinação infantil contra a covid-19.
“Se não estivesse concorrendo, tentaria formar uma chapa com Lula e Ciro (ou Ciro e Lula), mas não tenho certeza, se estivessem em chapas diferentes, qual dos dois ele apoiaria no primeiro turno. No segundo turno, não tenho a mínima dúvida que ele apoiaria quem se opusesse a qualquer candidato da direita”, analisa.
Com informações da Folha, Memórias da Ditadura, FGV e PDT