
Escolher nomes técnicos para compor seu governo foi uma das promessas de campanha de Jair Bolsonaro (PL). A realidade, no entanto, é bem diferente. Desde o início do governo, o que se vê é o aparelhamento do Estado, repleto de pessoas sem qualificação para os cargos que ocupam em todos os escalões. São nomeações que levam levam em a proximidade que mantém com a família Bolsonaro e seus aliados.
Esta semana, o auditor João José Tafner foi nomeado corregedor da Receita Federal. Ele já posou para fotos ao lado do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), de Marcos Pontes (hoje ministro da Ciência e Tecnologia) e do candidato a deputado estadual pelo PSL Marcus Dantas.
Dentro da própria Receita Federal ele é conhecido como um bolsonarista.
O cargo de corregedor estava vago desde julho do ano passado. O motivo foi a determinação do senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) em colocar alguém de sua confiança no posto.
O antigo corregedor, José Pereira de Barros Neto, entrou na mira do filho 01 do presidente. A defesa de Flavio afirma que a investigação das rachadinhas, que apura o recolhimento de parte ou todo o salário de assessores, teria sido iniciada a partir da atuação irregular de auditores no Rio de Janeiro. O que foi descartado pelo próprio Ministério da Economia.
Bajulador se contradiz
Em outro episódio recente, o diretor-executivo de Relacionamento Institucional e Sustentabilidade da Petrobras, Rafael Chaves Santos, confirmou o aparelhamento do Estado ao bajular Bolsonaro em discurso.
Em discurso político em que atacou Lula e o PT em evento na Gaslub, em Itaboraí (RJ), na última segunda-feira (31), ele chegou a afirmar que “acabou aquela era de indicação política”. O vídeo com o discurso sobre a “bilionária corrupção na Petrobras” foi compartilhado pelo presidente em suas redes sociais.
Chaves omitiu, porém, que ele mesmo chegou ao posto justamente pelas mãos de Bolsonaro, em 2019, para receber um salário de três dígitos.
“Em 2019 nós não tivemos concurso da Petrobras e o presidente Bolsonaro tomou posse em 2019. Então, entra uma pessoa indicada pelo governo federal, pela janela, para ganhar algo em torno de R$ 150 mil por mês e vem dar um testemunho dizendo que conhece a Petrobras?”, contestou o coordenador geral da Federação Única dos Petroleiros (FUP), Deyvid Bacelar.
Logística da tragédia
Um dos exemplos mais emblemáticos do aparelhamento do Estado promovido por Bolsonaro foi a nomeação de Eduardo Pazuello para ministro da Saúde, em 2020, após a saída do médico Nelson Teich.
Sem formação na área de saúde, a alegação do governo era a experiência dele com logística, que se mostrou um verdadeiro desastre.
Entre os casos que mais representam a balela do argumento governista está a troca de remessas de vacinas do Amazonas para o Amapá. Tudo isso quando os amazonenses já viviam dias de terror com o colapso no sistema de saúde do estado que deixou morrerem milhares de pessoas com falta de ar em decorrência da covid.
Estado laico? Não com Bolsonaro
A própria escolha do “terrivelmente evangélico” André Mendonça para o cargo de ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) é uma demonstração de que os critérios legais para o preenchimento de cargos são simplesmente ignorados.
Entidades que representam juízes, advogados, promotores, pesquisadores do direito e policiais rejeitaram a indicação de Mendonça por ter sido feita “em desvio dos requisitos constitucionais, foi indicado pela sua filiação religiosa”, “o que viola a garantia fundamental da separação entre Igreja e Estado”.
Em manifesto assinado por entidades, afirmaram que Mendonça já revelou “sua filiação à ideologia autoritária”, perseguindo críticos ao governo federal e colocando em risco as “garantias duramente conquistadas pela sociedade brasileira”. Pediram também “um STF laico”, conforme determina a Constituição.
Olavistas também seu espaço com Bolsonaro
Da ala olavista, Filipe Martins, que assumiu o cargo de chefe para Assuntos Internacionais da Presidência no início do governo Bolsonaro.
À época, ele tinha apenas quatro anos de formado em relações internacionais pela Universidade de Brasília. Mas chegou ao cargo graças à sua proximidade com Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) e Olavo do Carvalho, morto no último dia 24, de covid.
Já no governo, se aproximou de Steven Bannon, ex-conselheiro de Donald Trump que chegou a ser preso pelo FBI por desacato nas investigações sobre a invasão do Capitólio, em janeiro de 2021. Ele também já havia sido preso acusado de fraudar uma campanha virtual de doações relacionada à construção de um muro na fronteira entre EUA e México, uma das promessas de Trump.
A campanha, que levantou US$ 25 milhões, teria sido usada para lavar dinheiro de doadores.
No seu currículo, Martins soma um gesto supremacista durante uma sessão temática no Senado. Também é na sala de Martins que o gabinete do ódio havia montado sua base.
Já na na Procuradoria-Geral da União, Augusto Aras é tratado como ‘protetor-geral’ da União por conta da sua atuação escancarada para defender Bolsonaro de todos os crimes pelos quais ele é acusado.
Bolsonaro contra a educação
No ministério da Educação, um desastre atrás de outro. Mas se ater apenas a falta de qualificação, encabeça a lista o ex-ministro Abraham Weintraub. Ele é formado em economia com mestrado em administração na área de finanças. Na pasta, um legado de paralisia e absurdos destilados pelo Twitter. De concreto, nada para a educação.
Ele fez o que pôde para prejudicar e descredibilizar as universidades federais. Mas em outras áreas que estavam fora de sua alçada, contribuiu para intensificar a crise com China, após publicações xenófobas em redes sociais em meio à pandemia da covid-19 e a dependência do brasil de insumos chineses. Além de uma série de problemas no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), de 2019, com direito a troca de gabaritos de provas e uma enxurrada de ações judiciais.
Por fim, Weintraub fugiu do país com a ajuda de Bolsonaro. Ele foi exonerado do cargo apenas quando chegou ao Estados Unidos, onde entrou o passaporte diplomático de ministro. Ele corria o risco de ser preso por racismo e investigado por disseminação de fake news.
A situação não melhorou no MEC com a saída de Weintraub. Militar da reserva e pastor, o ministro Milton Ribeiro defende que o ensino superior é para poucos e que que crianças com deficiência “atrapalham” as demais em sala de aula. Segue à risca a cartilha segregacionista e de destruição do bolsonarismo.
Com informações do O Globo, Congresso em Foco, Folha, Fórum, Metrópoles, Veja