
A Comissão de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) divulgou uma lista com os nomes de 16 das primeiras vítimas identificadas que morreram na chacina da favela do Jacarezinho, no Rio de Janeiro (RJ). O massacre deixou 25 pessoas mortas durante uma ação da Polícia Civil na comunidade nesta quinta-feira (6).
De acordo com o jornal O Globo, a comissão da OAB apontou que todas as vítimas eram homens e o mais jovem tinha 18 anos. Ainda conforme a reportagem, Polícia Civil não informou o nome dos mortos e também não havia iniciado as autópsias até o final da manhã desta sexta-feira (7).
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“Pobreza não pode ser criminalizada”
“A pobreza não pode ser criminalizada. Na Zona Sul, isso não acontece. As famílias têm reclamado do tratamento após a morte. Independentemente de (alguém) ser bandido, não tem que ter pena de morte. As famílias falam que muitos deles se entregaram e foram assassinados. Uma operação com 25 mortos não é de sucesso.”
Patrícia Félix, OAB
Vítimas da chacina do Jacarezinho
Familiares identificaram o jovem Natan Oliveira de Almeida, de 21 anos, como um dos mortos na chacina. Confira o nome dos mortos divulgados pela OAB:
- Carlos Ivan Avelino da Costa Junior, 32 anos
- Cleiton da Silva de Freitas Lima, 27 anos
- Francisco Fabio Dias Araújo Chaves, 25 anos
- Jhonatan Araújo da Silva, 18 anos
- John Jefferson Mendes Rufino da Silva, 30 anos
- Jonas do Carmo, 31 anos
- Isaac Pinheiro de Oliveira, 22 anos
- Márcio Manoel da Silva, 41 anos
- Marlon Santana de Araújo, 23 anos
- Maurício Ferreira da Silva, 27 anos
- Natan Oliveira de Almeida, 21 anos
- Rai Barreto de Araujo, 19 anos
- Richard Gabriel da Silva Ferreira, 23 anos
- Rômulo Oliveira Lucio, 20 anos
- Toni da Conceição, 30 anos
- Wagner Luis de Magalhães Fagundes, 38 anos
Mourão diz sobre chacina: ‘Tudo bandido’
O vice-presidente Hamilton Mourão (PRTB) afirmou, na manhã desta sexta-feira (7), que as 25 mortes na comunidade do Jacarezinho, em decorrência de uma operação deflagrada pela Polícia Civil, são “todos bandidos”.
“Tudo bandido! Entra um policial numa operação normal e leva um tiro na cabeça de cima de uma laje. Lamentavelmente, essas quadrilhas do narcotráfico são verdadeiras narcoguerrilhas, têm controle sob determinadas áreas e é um problema da cidade do Rio de Janeiro.”
Hamilton Mourão
Segundo Mourão, as Forças Armadas já foram chamadas diversas vezes para intervir. “É um problema sério da cidade do Rio de Janeiro que vamos ter que resolver um dia ou outro”, completou. (…)
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Socialistas mostram revolta nas redes sociais
O presidente nacional do Partido Socialista Brasileiro (PSB), Carlos Siqueira, usou as redes sociais para criticar a violência e os excessos. “Ação do PSB no STF já questionou a alta letalidade das operações policiais nas comunidades do RJ e a política de segurança no estado”, escreveu.
O deputado federal licenciado Denis Bezerra (PSB-CE) demonstrou indignação diante da ação policial desastrosa feita no Rio. O socialista falou que a ação “demonstra o tamanho da truculência e intolerância contra a vida de jovens negros e pobres”.
O deputado estadual Carlos Minc (PSB-RJ), em vídeo postado nas redes sociais, disse estar chocado com o caso. “Inadmissível Chacina do Jacarerinho”, afirmou.
Paes comenta barbárie executada no Jacarezinho
O prefeito do Rio, Eduardo Paes (PSD-RJ), descreve a tragédia no Jacarezinho como reflexo da ausência de políticas públicas e da exposição de agentes públicos. Na visão do gestor, a ação policial mais letal da história do Rio “não é aceitável”.
“A gente não pode achar que é normal, em qualquer lugar minimamente civilizado. 25 pessoas podem ser, eventualmente, de fato criminosas, mas que isso [chacina] aconteça. Não é algo normal. Tenho absoluta certeza que isso é fruto de políticas públicas inexistentes, equivocadas, que colocam agentes públicos em risco e setores marginais que tomem conta do território da cidade”.
Eduardo Paes
Chacina ganha repercussão internacional
A chacina repercutiu na imprensa internacional. Os principais jornais do mundo como The New York Times, Washington Post, Le Monde, El País, The Guardian e Clarín deram destaques nas suas capas à operação das polícias Civil e Militar no Jacarezinho. Os moradores denunciaram abuso dos policiais com invasões de casas e execuções sumárias.
Em uma reportagem sobre o massacre, o espanhol El País ressaltou que a operação “se tornou no segundo maior massacre da história do estado” e que “a ação policial desta quinta demonstra que, inclusive durante a pandemia de coronavírus, a política de segurança pública do governador Cláudio Castro (PSC) no Estado do Rio segue se guiando pelo enfrentamento direto com os narcotraficantes nas favelas e nos bairros periféricos, ignorando a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF)”.
O francês Le Monde qualificou a ação policial que deixou 25 mortos na favela do Jacarezinho, no Rio, como um ‘banho de sangue”. “O resultado da operação, lançada quinta-feira contra traficantes acusados de recrutar menores no bairro pobre de Jacarezinho, é o mais pesado desde 2016”, pontua o jornal, a partir de despacho da France Presse.
O influente The New York Times observou que que “o número de mortos da operação pode entrar para os recordes”. O veículo de comunicação também destacou que “residentes e ativistas dos direitos humanos acusaram a polícia de usar força excessiva e questionaram por que a operação foi feita, dado o impedimento do Supremo Tribunal Federal em operações policiais na cidade durante a pandemia”.
O Washington Post, destacou que no Brasil as “operações policiais têm sido encorajadas por líderes políticos que ganharam eleições recentes concorrendo com uma mensagem que táticas ‘de guerra’ são necessárias para frear o crime e recuperar controle de territórios perdidos para gangues”. Nesta linha, o periódico cita que, em 2018, Jair Bolsonaro defendeu ações do gênero ao afirmar que “policial que não mata não é policial”.
No inglês The Guardian, destaca-se: “Rio de Janeiro: pelo menos 25 mortos na operação policial mais letal da cidade na favela. “Ataque em violação de ordem judicial é a cidade mais letal de todos os tempos”, informou Tom Phillips. “Polícia brada golpe contra gangues de traficantes, mas críticos condenam ‘massacre’”.
A BBC, relembrou que as “forças de segurança no Brasil têm sido frequentemente acusadas de excesso de uso de força contra a população civil durante operações contra o crime nas grandes cidades”. O Guardian destacou a reação de ativistas e defensores dos direitos humanos, além de especialistas em segurança pública, “quando a escala da carnificina se tornou clara”.
Com informações do O Globo, Brasil 247, DCM e Portal Vermelho