
Nise Yamaguchi frequentou o Ministério da Saúde, ao longo de seis meses, para reuniões secretas nos gabinetes do então ministro interino Eduardo Pazuello e do secretário-executivo Elcio Franco. O site The Intercept divulgou documentos que provam que a médica estava tão à vontade que escalou até os irmãos para encontros com a área responsável pela indicação de medicamentos ao Sistema (SUS).
Nise participa nesta terça esta terça-feira (1º), a partir das 9h, da CPI da Pandemia do Senado. A convidada foi apontada como “conselheira paralela” de Jair Bolsonaro (sem partido) pelo ex-ministro Luiz Henrique Mandetta e pelo diretor-presidente da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), Antonio Barra Torres.
Nise Yamaguchi é conhecida por defender a hidroxicloroquina e a cloroquina no tratamento de pacientes infectados com o Sars-Cov-2 (vírus causador da pandemia). E foi convidada pelo presidente da República a integrar o comitê de crise ainda na gestão do ex-ministro Mandetta.
Oncologista e imunologista, diretora do Instituto Avanços em Medicina, de São Paulo, ela é defensora do uso de cloroquina e do “tratamento precoce”.
Mudança na bula da cloroquina
Em depoimento à CPI, Barra Torres disse que, numa reunião com o governo federal, a pesquisadora defendeu alterar a bula da cloroquina. Sua intenção, segundo o dirigente da Anvisa, seria definir o medicamento como eficaz contra o coronavírus.
Ouvido pela CPI em 11 de maio, Barra Torres explicou que a alteração da indicação da cloroquina seria impossível, pois só quem pode modificar uma bula de um medicamento registrado é a agência reguladora do país de origem, desde que solicitado pelo detentor do registro.
“Agora, eu não tenho a informação de quem é o autor, quem foi que criou, quem teve a ideia. A doutora [Nise Yamaguchi], de fato, perguntou sobre essa possibilidade e pareceu estar, digamos, mobilizada com essa possibilidade.”
Antônio Barra Torres
O depoimento da médica atende a pedido dos senadores da tropa bolsonarista Marcos Rogério (DEM-RO) e Eduardo Girão (Podemos-CE).
CPI investiga “ministério paralelo”
Na quinta-feira (27), o relator da CPI, senador Renan Calheiro (MDB-AL), afirmou que a comissão investiga a existência de uma consultoria informal ao governo a favor de métodos considerados ineficazes de enfrentamento à pandemia.
“Não estamos apenas discutindo a eficácia da cloroquina ou do ‘tratamento precoce’. Queremos investigar se essas coisas foram priorizadas em detrimento da vacinação dos brasileiros. E isso poderia ter salvado muitas vidas — definiu, opinando que o governo não comprou vacinas suficientes por não acreditar em sua eficácia.”
Renan Calheiros
A CPI também ouvirá críticos da cloroquina, como a microbiologista e pesquisadora da Universidade de São Paulo (USP), Natalia Pasternak, e o doutor em virologia Átila Iamarino.
Acompanhe os boletins do Socialismo Criativo
Assista ao vivo à CPI da Pandemia
Com informações da Agência Senado e The Intercept