
Um levantamento realizado pelo Quero Bolsa, plataforma de oportunidades no ensino superior, indica que negros são menos contratados para cargos de liderança e, quando conquistam a vaga, recebem salários menores. O relatório mostra que em 2020, entre janeiro e junho, houve 18.492 admissões em cargos de liderança no estado de São Paulo, das quais 2.866 foram de pessoas negras (15,5%) e 12.956 (70,1%) de pessoas brancas.
Segundo o Alma Preta, no recorte remuneração, o salário médio de um profissional branco é de R$ 12.597,28, mas os profissionais negros recebem R$ 9.994,46. Uma diferença de 26%.
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O estudo, feito com base em dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), analisou todas as contratações de ocupações de direção e gerência de pessoas graduadas no primeiro semestre de 2020.
Gênero e raça
No indicador gênero, as mulheres foram menos contratadas que homens, chegando a 8.161 (44,13%) contra 10.408 (56,98%) de profissionais homens.
Já nos marcadores de gênero e raça, foi identificado que mulheres negras são minoria nesse tipo de admissão, ocupando apenas 6,6% dos cargos de liderança na comparação com homens negros, que representam 8,9%.
Entre pessoas brancas, essa taxa é de 39% para homens e de 31% para mulheres. Isso, sugere o estudo, aponta para uma realidade em que homens brancos preenchem mais de 338% dos cargos de liderança em relação aos homens negros, superando 490% a mais no caso das mulheres negras.
De acordo com Luiz Fernando Ferreira, coordenador de comunicação da EmpregueAfro – consultoria de Recursos Humanos focada na Diversidade Étnico-Racial -, “os quadros executivos apresentam um ínfimo 0,4% de mulheres negras”.
“Em um país com maioria da população negra, esses dados indicam que a maior parte dos processos seletivos continua sendo, inconscientemente, exclusiva para brancos. Segundo levantamento do Instituto Ethos, pessoas negras ocupam apenas 6,3% das posições gerenciais e 4,7% dos cargos executivos entre as empresas brasileiras”, afirma ele.
Para Ferreira, todos os dados só reforçam o que é vivenciado por profissionais negros, cotidianamente “ignorados nos processos seletivos devido ao racismo”.
Racismo no mercado de trabalho
Para piorar, os números de 2020 só confirmam a tendência detectada em 2019, quando apenas 16,5% dos profissionais contratados para cargos de liderança em SP foram pessoas negras. No período, foram 58.621 admissões desse tipo, sendo 9.650 profissionais negros (16,5%) e 41.371 (70,6%) brancos.
O salário médio de um profissional branco no ano passado foi de R$ 11.186,24, representando 35% a mais que os R$ 8.281,32 recebidos por profissionais negros.