
Você sabe qual é o significado do nome da rua em que mora ou frequenta? O Projeto Muro Negro é uma iniciativa tocada por um produtor cultural e um artista atua na representação do povo preto nos muros dos bairros cariocas.
Tradicionalmente, alguns nomes fazem referências a características geográficas, entidades religiosas ou sentimentos. Mas a maioria dos logradouros no Brasil possuem o nome de homens, sendo em sua maior parte militares, políticos ou aristocratas, aponta reportagem do Brasil de Fato.
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A questão racial na representatividade dos espaços públicos também merece destaque na opinião do produtor cultural Pedro Rajão. Ele afirma que poucas ruas na capital carioca levam o nome de pessoas pretas, por exemplo.
O túnel Rebouças é uma das exceções dessa tendência na cidade. O nome faz homenagem a André e Antônio Rebouças, ambos engenheiros negros de muito destaque no Brasil durante o Segundo Reinado.
Por outro lado, para ampliar a representatividade negra nos espaços urbanos, Pedro Rajão toca o projeto Negro Muro há uma década, utilizando a arte da grafitagem.
“Os nossos bairros, os nossos nomes de ruas, os grandes monumentos, estátuas, são para generais, comandantes, viscondes e duques, príncipes e princesas brancos. Muitas vezes grandes genocidas, como Duque de Caxias, que leva o nome de um município do Rio de Janeiro”, afirma.
O projeto é feito ao lado do artista Cazé, contornando e colorindo a importância de personalidades negras nas ruas cariocas. O primeiro grafite da dupla foi para representar o músico nigeriano Fela Kuti.
Um trecho da música “Why they black man suffer today” do multi-instrumentista de Afrobeat questiona: “Por que o homem negro sofre hoje em dia? Por que o homem negro não ganha dinheiro hoje em dia?”. A letra adentra o racismo estrutural por trás das desigualdades entre brancos e negros.
Segundo a reportagem, o passo seguinte do Negro Muro foi escolher a representação de personalidades dos próprios territórios cariocas.
O projeto também incentiva uma apropriação da temática das artes representadas nos muros. As grafitagens contam com QR Codes que linkam para conteúdos com mais informações sobre a personalidade retratada.
“O ato de estar juntando isso para construir uma reparação social, levando informação, tentando combater o racismo, são várias questões que envolvem que a gente acaba se tornando um artevista”, ressalta Cazé.
O projeto conta com financiamento coletivo para se manter de pé. As contribuições arrecadadas através do último edital do grupo no site Benfeitoria irão resultar, em breve, em graffitis com o líder da Revolta da Chibata João Cândido, o poeta Cruz e Sousa e a cantora Elza Soares.
Com informações do Brasil de fato