
Na segunda-feira (19), a cofundadora de fintech Nubank, Cristina Junqueira, afirmou em entrevista entrevista ao vivo no programa “Roda Viva”, da TV Cultura, que é “difícil” encontrar candidatos negros capacitados para as vagas de alta liderança na empresa. Para além da incapacidade alegada de encontrar profissionais negros com perfil da empresa, a cofundadora da Nubank demostrou uma falta de sensibilidade para entender que equidade racial não se faz olhando no espelho.
Na contramão de gigantes como gigante brasileira Magazine Luiza, que anunciou abertura de programa de trainee 2021 exclusivamente para candidatos negros, e com argumentos que foram considerados racistas por internautas, Cristina Junqueira justificou que a fintech Nubank mantém um padrão de contratação difícil. Segundo ela, várias posições na empresa estariam em aberto há bastante, inclusive uma vice-presidente de marketing que trabalharia diretamente com a cofundadora.
“Não dá pra nivelar por baixo. Por isso a gente quer investir em formação. Não adianta colocar alguém pra dentro que depois não vai ter condições de trabalhar com as equipes que a gente tem. Depois não vai ser bem avaliado. A gente não está resolvendo um problema, está criando outro, né?”, justificou.
A repercussão negativa fez com que a Cristina Junqueira se desculpasse em vídeo, após reações de internautas.
“Ontem, eu estive no Roda Viva (…) Teve um trechinho do que eu falei lá que infelizmente não repercutiu tão bem. E eu queria dizer que falar de diversidade racial, gente, não é fácil”, disse Junqueira. “Queria pedir desculpas. Acho que não me expressei da melhor maneira. É super importante a gente ter uma comunicação clara. Queria agredecer todo o feedback que está vindo, a repercussão que isso está tendo porque todo mundo tem o que aprender“, afirmou.
Não é a primeira vez que a inabilidade de altos executivos de empresas em relação as questões raciais geram indignação nas redes. Marcas como Nike, H&M e o próprio twitter experimentaram a reação de internautas – consumidores. As consequências vão desde o afastamento do executivo envolvido na polemica racista à doação de 100 milhões de dólares feita pelo fundador do Twitter, Jack Dorsey, para ajudar a combater a desigualdade racial no mundo dos negócios e das finanças.
Equidade racial e o caso Nubank
O comportamento da cofundadora da Nubank, tanto nas respostas na entrevista do Roda Viva, quanto na necessidade de um pedido publico de desculpas – deixam claro que o posicionamento de empresas sobre a questão racial tem grande importância para consumidores. A forma que as empresas agem quanto a inserção de profissionais negros em seus quadros, deixam claro que a luta por igualdade racial começa a travar uma nova trincheira: O mundo do emprego.
Jogar a ausência de quadros negros na conta da formação dos próprios negros é o novo “não tem aparência para o cargo” que fechou as portas do emprego formal, por década, para negros e negras no Brasil.
Quando Cristina Junqueira procura encontrar no mercado apenas profissionais que possuam características que criam um funil tão excludente para a maior parte dos profissionais brasileiros, ela acaba refletindo um comportamento ao mesmo tempo racista e segregador que resulta na contratação sistemática de iguais.
Que a forma positiva como o programa de trainee da Magazine Luiza, e outras iniciativas na mesma direção, chegou a sociedade brasileira sirva de ponto de partida para que empresas se abram para, não somente a inclusão racial, mas, e acima de tudo, para entender que equidade fala muito mais sobre olhar para o diferente buscando construir a igualdade. Afinal, não se faz equidade racial olhando no espelho.