
Aliados do presidente Jair Bolsonaro se mobilizam para colocar alguém “conservador e de direita” na presidência do Instituto Oswaldo Cruz (Fiocruz), ligado ao Ministério da Saúde e que está no meio do embate político causado pela Covid-19. Para eles, a instituição é comandada por “esquerdistas” que não se alinharam às políticas do governo.
Segundo o Valor, entre os pontos criticados, estão a defesa, num ofício ao Ministério Público, de um “lockdown” intermitente por dois anos para conter a doença e a defesa de pesquisadores que apontaram riscos ao uso da cloroquina como tratamento. Bolsonaro foi contrário ao isolamento social e fez propaganda do medicamento.
Papel relevante
A Fiocruz tem ainda papel relevante na disputa com o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), sobre quem produzirá primeiro a vacina contra covid-19. Ela colabora com os estudos do Instituto Butantan (do governo paulista) para produzir a vacina da chinesa Sinovac, mas está à frente também de outro imunizante, em parceria com a AstraZeneca/Oxford. Os bolsonaristas fazem campanha contra a vacina chinesa e Bolsonaro mandou o ministério cancelar essa compra.
Segundo o jornal, o candidato dos bolsonaristas é o gestor financeiro da Fiocruz e presidente do conselho fiscal do FioSaúde (o plano de saúde dos funcionários), Florio Polonini, que tenta chegar à presidência mesmo sem estar vinculado à carreira de pesquisador. Ele é apoiado por deputados como Carlos Jordy (PSL-RJ), Bia Kicis (PSL-DF) e Carla Zambelli (PSL-SP) e tem sido defendido por militantes e blogs de direita.
“Sendo ele um conservador em um ambiente dominado pelas esquerdas, é justo apoiá-lo para que possamos extirpar a ocupação ideológica de esquerda dos ambientes acadêmicos e de pesquisa, ainda mais uma fundação tão importante como a Fiocruz, que se encontra politicamente e partidariamente aparelhada”, disse Jordy.
Márcio Labre: Fiocruz é “filiada à esquerda”
Ex-funcionário da Fiocruz, o deputado federal Márcio Labre (PSL-RJ) disse que a atual gestão é “filiada à esquerda” e colocou a ideologia acima das questões técnicas.
“É de grande interesse ter alguém mais alinhado ao presidente. Queremos tirar da Fiocruz qualquer viés ideológico e manter que ela produza pesquisas sem viés. O compromisso tem que ser com a ciência”, afirmou.
Labre conta que foi procurado por Polonini e que organiza um encontro com Bolsonaro na próxima semana. Funcionários da instituição votarão entre 17 e 19 de novembro numa lista tríplice e caberá ao presidente decidir qual dos nomes comandará a entidade. A tradição é de que o primeiro da lista seja escolhido, mas Bolsonaro já ignorou totalmente a eleição interna das carreiras ao fazer de Augusto Aras o chefe do Ministério Público Federal – ele nem sequer concorreu na eleição.
Eleições
O ex-presidente Michel Temer (MDB) tentou indicar a segunda colocada, mas foi pressionado e nomeou Nísia Trindade, que agora concorre à reeleição. Dois aliados dela também são candidatos: o vice-presidente de Gestão, Mario Moreira, e o coordenador de Vigilância em Saúde, Rivaldo da Cunha. Os três lançaram suas candidaturas num ato único e pedem votos conjuntamente nas redes sociais com a intenção de que Polonini não esteja na lista.
O Valor tentou falar com os três por meio de suas redes sociais e da assessoria da Fiocruz, mas foi informado de que eles preferem não dar entrevista. Em debate ontem entre os candidatos, Nísia defendeu a continuidade da atual gestão.
“Essa unidade tem uma base que é mantermos esse projeto, essa gestão participativa, tendo como objetivo maior a plena realização da missão da Fiocruz, que é fazer ciência, educação e saúde em benefício da sociedade”, disse.
Com informações do Valor Econômico