
As proibições de apresentações ao vivo por conta da pandemia da Covid-19 deixaram músicos ao redor do mundo sem rendimentos advindos de shows e turnês. Um dos efeitos é que esses profissionais passaram a ter grande dependência dos serviços de streaming, o que tem gerado uma verdadeira batalha entre os músicos e as empresas.
Artistas ingleses tomaram a linha de frente na batalha por maiores remunerações. No dia 20 de abril, um grupo de 156 músicos britânicos, liderados por Paul McCartney e Kate Bush, assinou uma carta-aberta para o primeiro-ministro do Reino Unido, Boris Johnson, sobre o assunto.
A carta pede a intervenção do governo inglês, pedindo modificações no modelo econômico dos streamings. Além de McCartney e Bush, a carta conta com assinaturas de Sting, Chris Martin, Lily Allen, Noel Gallagher e Robert Plant, do Led Zeppelin.
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Pagamento por reprodução é baixo
Segundo estimativa da empresa de dados britânica BroadbandChoices, um artista na Inglaterra ganha o equivalente a um salário mínimo britânico apenas se sua música tocar 4,9 milhões de vezes em um ano na plataforma Spotify. No Brasil, o número de reproduções necessárias para chegar ao salário mínimo nacional estaria em torno de 800 mil vezes.
Músicos menores sofrem mais
Além dos rendimentos de grandes músicos terem diminuído em razão da pandemia, artistas e bandas de menor expressão relatam que estão vivendo “no limiar da pobreza” na Inglaterra.
Isso ocorre porque o dinheiro pago pelos consumidores às principais plataformas de streaming de música é centralizado e distribuído aos artistas de acordo com a participação de mercado. Então, se alguém pagar mensalmente a assinatura do Spotify, por exemplo, e ouvir apenas músicas de uma banda pequena, seu dinheiro ainda chegará aos principais artistas do mundo e suas gravadoras.
Brasil vive mesmo cenário
No Brasil, levantamentos recentes advindos da mobilização nacional em torno de músicos participantes de um reality show corroboram com as reclamações internacionais. Em comparação realizada pelo site Valor Investe com o prêmio oferecido pelo reality, 1 milhão e meio de reais, alguns artistas teriam que ser ouvidos por pelo menos metade do total de usuários da plataforma Spotify para chegar ao mesmo montante.
Por exemplo, para que o cantor Projota conquistasse o valor, a sua música teria que tocar no aplicativo mais de 94 milhões de vezes. As reproduções teriam ainda que partir de usuários premium, já que o aplicativo não monetiza visualizações de não assinantes.
Para se ter ideia, dos 340 milhões de assinantes que o Spotify possui atualmente, apenas 150 milhões são premium. Ou seja, 50% de toda a base de assinantes da plataforma teria que ouvir, pelo menos uma vez, uma música do artista.
Músicos dos Estados Unidos prejudicados
O debate sobre o tema também está presente nos Estados Unidos. No país, as empresas de streaming estão sendo mais favorecidas. Em 2017, por exemplo, foi ordenado que houvesse um aumento de 10,5% para 15,1% na porcentagem da receita paga aos compositores, mas isso não se tornou realidade.
Empresas como Amazon, Google e Spotify se opuseram à medida e obtiveram, em agosto de 2020, uma vitória parcial através de decisão judicial que obrigou as novas taxas a serem recalculadas. O caso ainda está em andamento.
Com informações de G1, Valor Investe e Reuters