
Os poemas escritos por Candido Portinari (1903–1962) ganharam narrações em áudio para torná-los acessíveis a pessoas com deficiência visual. Com cerca de quatro horas, o audiolivro “Poemas de Portinari” resgata a poesia que se mescla aos quadros do artista.
Segundo reportagem G1, o conteúdo foi gravado pelo Museu Casa de Portinari, de Brodowski (SP), em parceria com a Associação dos Deficientes Visuais de Ribeirão Preto (Adevirp). Ele pode ser ouvido gratuitamente no site do museu, que também é acessível aos visitantes.
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“Existe um vislumbramento em tocar as palavras e sentir que elas tocam a gente. Na Casa de Portinari, podemos tocar e sentir as pinturas. Parece que Portinari sabia que suas pinturas e poesias chegariam a nós, cegos”, diz a pedagoga Marlene Cintra, fundadora da Adevirp.
Poemas e quadros de Portinari
Produção pouco conhecida de Portinari, os poemas retratam o mesmo universo de alguns dos quadros do artista. É o caso dos versos de “Deus de Violência”, que remete à obra “Retirantes”, feita em 1955 com grafite em papel.
“Os retirantes vêm vindo com trouxas e embrulhos / Vêm das terras secas e escuras; pedregulhos / Doloridos como fagulhas de carvão aceso / Corpos disformes, uns panos sujos / Rasgados e sem cor, dependurados”, escreveu Portinari em “Deus de Violência”.
O estudante Rafael Francisco de Andrade, de 37 anos, comemora o lançamento do audiolivro. Palavra por palavra, ao escutar a descrição de “Retirantes” e a narração de “Deus de Violência”, Andrade diz que não só forma a imagem do quadro na mente, mas sente-se dentro da arte, ao lado dos personagens.
“É uma vitória. É uma conquista. É uma luta de todos, não somente dos deficientes visuais, mas uma vitória da sociedade”, diz.
‘Mãos que enxergam’
Transformada em museu, a casa da família Portinari também é acessível, preocupação que o próprio artista tinha, em vida, ao dizer que também é possível enxergar com as mãos.
As obras do acervo têm descrições em braile e, alguns, até reproduções em relevo entalhado em pequenos quadros, passados de mão a mão entre os visitantes com deficiência visual.
Para evitar a disseminação de coronavírus, por enquanto, os materiais não podem mais ser tocados. Por isso, o museu decidiu gravar em áudio as descrições das obras. Cega, a estudante Gleice dos Santos, de 27 anos, aprovou o trabalho em visita recente ao acervo.
A forma que são descritas as crianças, os senhores, é de uma sensibilidade tão grande que, através das palavras, a gente consegue imaginar toda a cena. É como se estivéssemos tocando aquela imagem, diz.
Com informações do G1