
Lideranças de esquerda voltaram a chamar novos protesto uma semana após o primeiro ato nacional – e presencial – contra o governo de Jair Bolsonaro (sem partido) na pandemia. Desta vez para o dia 19 de junho. Na quarta-feira (2), a hashtag #19JForaBolsonaro ficou entre os termos mais comentados no Twitter. Entretanto, a falta de consenso persiste. Partidos como o PT e o PSOL, por exemplo, têm encontrado resistências internas em divulgar atos de rua.
Para alguns filiados, ir aos protestos fere o discurso a favor do isolamento social que a sigla defende. Nesse contexto, as lideranças partidárias passaram a conversar para encontrar a melhor forma de convocarem a militância para o protesto.
O líder da Minoria na Câmara, Marcelo Freixo (PSOL-RJ), afirmou que os deputados da oposição são favoráveis aos atos, porém, alguns não estarão presentes devido às aglomerações. “Não estive presente no último, mas apoiamos”, afirmou.
A presidente nacional do Partido dos Trabalhadores, a deputada Gleisi Hoffmann (PT-PR), disse que a legenda vai apoiar os atos e chamará toda a militância para participar “observando todos os cuidados que o momento requer”. “Só a mobilização popular nos livrará de Bolsonaro”, declarou a petista.
PSB não adere ato em respeito ao isolamento
Assim como no último dia 29, o Partido Socialista Brasileiro (PSB) não vai participar dos atos nem convocar militantes a aderirem aos protestos. O receio é com a possibilidade de aumentar a contaminação pelo coronavírus em um momento em que cientistas e médicos alertam para o recrudescimento da pandemia nos próximos dias. Possíveis aglomerações podem agravar ainda mais a difícil realidade que o país tem vivido, com mais de 469 mil mortos pela doença.
O deputado socialista Aliel Machado (PSB-PR) reiterou em declaração ao Congresso em Foco que as manifestações não são partidárias, mas sim de pessoas que não suportam o governo de Bolsonaro.
“A ideia é uma mobilização nacional, não de partidos, mas da sociedade, das instituições em defesa da vida. Isso é mais que a esquerda, isso é uma manifestação de todos que são contra a barbárie.”
Aliel Machado
As manifestações devem ocorrer em espaços abertos e arejados. Os presentes devem manter o distanciamento e permanecer ao menos dois metros longe de outas pessoas. Quem for deve usar máscara, preferencialmente, a PFF2 ou N95, mais eficazes contra o coronavírus. Usar máscara cirúrgica por baixo da de pano também aumenta a proteção.
Também é necessário usar álcool 70%, especialmente, se for tocar o rosto – olhos, nariz e boca – que é por onde o vírus entra. Nada de compartilhar objetos pessoais ou alimentos. Quem tiver com sintomas da doença deve permanecer em casa.
Novos protestos em 19 de junho
As diferentes forças do campo progressista que estiveram envolvidas no ato nacional contra o governo Bolsonaro no último sábado (29) já têm um novo foco no calendário de lutas populares. O segmento divulgou, na quarta (2), que irá novamente às ruas em todo o país no próximo dia 19.
Nas convocações para os protestos, a pauta central permanece como o impeachment do presidente. A intenção é levar mais pessoas às ruas e em paralelo fortalecer as ações por meios digitais. O calendário com os horários e locais dos protestos em cada região do país deve ser divulgado em breve.
As manifestações, mais uma vez, partem de uma ampla articulação e devem envolver centenas de organizações nacionais, incluindo partidos políticos, centrais sindicais, movimentos populares, entidades estudantis, além de outros coletivos e mobilizadores que atuam na luta social em diferentes frentes.
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A escolha do dia 19 é fruto de um entendimento entre a Frente Brasil Popular, Frente Povo sem Medo e a Coalizão Negra Por Direitos, movimentos que assinaram a autoria dos atos que inflaram as ruas no último dia 29 de maio.
Os organizadores afirmam que, embora os campos progressistas tenham liderado os atos de rua, a adesão foi ampliada para pessoas e grupos de qualquer ideologia “que defendem a vida, a democracia e a liberdade”, disse porta-voz da Coalizão Negra por Direitos Douglas Belchior.
“Nós queremos que todos os partidos que são contra a lógica do governo Bolsonaro convidem os seus apoiadores. Não somos contra nenhum partido político. Todos nós somos movimentos sociais e faz parte da democracia essa construção em conjunto”. Douglas Belchior
Organização digital para atos
As organizações estudantis, sindicais, partidos e grupos da sociedade civil uniram-se em um fórum na internet chamado “Fora, Bolsonaro”, onde passaram a distribuir informações sobre assembleias, debates e datas dos próximos eventos. A página no Instagram já tem mais de 45 mil seguidores.
Conforme esses grupos, em uma reunião com aproximadamente 7 mil pessoas de todo o país ficou definido, além da data, um indicativo de atos contra a realização da Copa América no país, possivelmente no início de junho.
“É um crime o Bolsonaro se preocupar com a Copa e não se preocupar com a vacina. Ele é mais letal que o vírus que já levou cerca de 500 mil pessoas à morte”, comentou Leonardo Péricles, presidente da Unidade Popular.
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Os movimentos ressaltam que devem ser seguidas todas as medidas de segurança contra a covid-19. Eles têm divulgado que nos atos é obrigatório o uso de máscaras, a higienização das mãos e distanciamento social.
Também pedem que pessoas com sintomas da doença e que integrem grupos de risco permaneçam em casa. Outro conselho dado é para que os que vivem com pessoas que tenham comorbidades não participem fisicamente das manifestações.
“Para as pessoas que não podem ir presencialmente, a participação pela internet é fundamental. Subam as hashtags, postem fotos, vídeos. A internet também é um espaço de união e debate”, afirma Douglas Belchior.
Atos a favor do governo
Com os atos progressistas em crescimento, apoiadores do governo Bolsonaro também planejam protestos para as próximas semanas. A próxima manifestação deve acontecer no dia 12, sábado. Um desfile de motociclistas, conhecido como “motociata”, deverá sair do sambódromo do Anhembi e segue para a sede da Federação das Indústrias de Estado de São Paulo (Fiesp)
No dia 24 de julho, o movimento Marcha para Jesus, um dos maiores grupos conservadores do país, tem prevista uma Carreata Solidária, para coleta de alimentos, com show drive-in. Bolsonaro esteve presente em um dos eventos deste grupo, em 2019.