
Os assustadores e subsequentes recordes de mortes causados pela Covid-19 no Brasil já acenderam um alerta no setor funerário sobre um possível colapso. Com as listas de espera para leitos de UTI cada vez mais longas e a perspectiva da vacinação em massa no país ainda incerta, gestores preveem um aumento ainda maior nos óbitos nas próximas semanas.
Essas afirmações foram comprovadas pela CNN após concluir um levantamento com as prefeituras de São Paulo, Porto Alegre, Porto Velho, Salvador, Rio de Janeiro e Campo Grande, capitais com taxa de ocupação hospitalar em mais de 80%.
Na última terça-feira (16), somente nos 22 cemitérios da capital paulista foram realizados 336 sepultamentos. De acordo com os dados levantados pelo veículo com o Serviço Funerário do Município de São Paulo (SFMSP), este foi o maior número em sete dias. Até o 16º dia de março, já haviam ocorrido 4.490 sepultamentos na cidade. Em todo o mês de fevereiro, o sistema registrou 5.962 enterros e, em janeiro 6.677. Ainda em fevereiro, a prefeitura anunciou reforço no sistema para ampliar a capacidade de atendimento.
Com média mensal de mortes em torno de 7.500, São Paulo abriu, no início da pandemia, 13 mil covas que já foram ocupadas por vítimas do coronavirus e outros sepultamentos não ligados à doença. De acordo com os responsáveis, ainda não foram registradas filas de espera ou qualquer outra dificuldade nos processos de sepultamento.
“A autarquia tomou medidas como reforço em sua frota de veículos, contratação de novos sepultadores e o reajuste no contrato correspondente aos serviços de logística com o intuito de aumentar a mão de obra e otimizar serviços de distribuição e recebimento de materiais”, afirma a Prefeitura.
Medo de surto entre trabalhadores
Nas demais cidades analisadas o cenário é igualmente preocupante. Porto Alegre registrou 1.015 sepultamentos até o último dia 16. Segundo a Centro de Atendimento Funerário (CAF), caso a média diária se mantenha, o número total para o mês pode chegar a 2 mil, quase a mesma quantidade dos meses de janeiro e fevereiro juntos, 2.245.
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Pelas previsões dos responsáveis, além das 5 mil vagas disponíveis no município, outras 80 mil poderão ser disponibilizadas. Porém, a falta de vacina para os cerca de mil funcionários de cemitérios e funerárias que atuam na capital gaúcha, e a possibilidade de um surto de coronavirus entre eles, preocupa.
“Aí entraremos em colapso. Nesse momento, a questão da vacinação desse grupo de trabalhadores é o que mais nos aflige. A quantidade de óbitos também tem aumentado diariamente, nossa geração nunca viveu essa situação”, disse.
Vagas para enterros acabando
Em Porto Velho, Rondônia, a situação do maior cemitério da cidade já é crítica. Com as vagas para enterros acabando, a solução do poder público foi realizar uma licitação para aquisição de 1.800 novas gavetas funerárias. Desde o início da pandemia, 946 pessoas foram sepultados no Cemitério Santo Antonio, que já atingiu sua capacidade máxima.
De acordo com secretário municipal de Serviços Básicos do município, Wellen Prestes, está sendo analisada a possibilidade de uma Parceria Público Privada (PPP) para construção de mais uma unidade do sistema funerário no município.
Em Salvador também está sendo utilizada a estratégia das gavetas funerárias e a Prefeitura pretende construir mas 1.125 delas após conclusão de licitação. Apesar de negar qualquer dificuldades relacionadas aos enterros, os dados do governo mostravam o junho de 2020 como o pior mês da pandemia em número de óbitos, com 313 perdas. Até o momento, em março deste ano já foram contabilizados 400 falecimentos, o que demonstra uma crescente nos sepultamentos.
Campo Grande e Rio de Janeiro
Campo Grande (MS) e Rio de Janeiro (RJ) também apresentam um cenário preocupante no que diz respeito ao número de falecimentos e a capacidade do sistema funerário em atender à crescente demanda. Na capital sul-mato-grossense o sistema de saúde já está em colapso, com 102% de sua capacidade de atendimento sendo requisitada. E, apesar dos representantes das funerárias alegarem que estão dando conta da demanda, o número de enterros em cemitérios sociais, para pessoas carentes, cresceu 59% em 2020 em relação a 2019.
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Na cidade do Rio de Janeiro já foram realizados 2.286 enterros de 1º a 11 de março deste ano. De acordo com presidente do Sindicato dos Estabelecimentos de Serviços Funerários do Rio de Janeiro, Leonardo Martins, ainda existem cerca de 400 covas disponíveis nos cemitérios públicos do município.
A reportagem não recebeu retorno da Pefeitura sobre novas vagas a serem disponibilizadas.
Para Assossiação colapso é iminente
Se para os municípios pesquisados a situação é preocupante, o presidente da Associação de Empresas e Diretores do Setor Funerário (Abredif), Lourival Panhozzi, descreveu a situação como “à beira do colapso”.
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“Se chegarmos ao nosso limite, estaremos à beira do fim do mundo, a situação vai ficar muito crítica”, afirmou.
Por isso, a entidade enviou nota a todos os seus associados e empresários do setor orientando-os a tomar algumas medidas preventivas como, a suspensão das férias de funcionários, o aumento do estoque de urnas. A alta nos preços das matérias-primas de produção de caixões , como aço e MDF, também deixou representantes do setor em alerta.